Por Idelmino Ramos Neto.
Desde o início da invasão russa à Ucrânia, a mídia comum propaga em uníssono a narrativa de que há uma união sem precedentes no Ocidente em resposta à operação militar de Vladimir Putin. Todavia, quando se analisa a situação interna de determinados países, extremamente divididos – conflagram-se fatos que caminham no sentido oposto, contrários a esta suposta coalizão.
Neste sentido, a situação da França é uma das mais alarmantes, ao contrário do que a própria imprensa francesa vem versando há algum tempo.
Em 2021, diversos generais franceses redigiram uma carta aberta ao presidente Emmanuel Macron, exigindo providências no que atine à imigração, à segurança pública, dentre outros tópicos, apontando para um sério risco de desintegração territorial, tamanha a convulsão social que toma conta da nação.
Memore-se também que há pouco tempo a pátria de De Gaulle passou por colossais protestos por conta de questões econômicas primordiais, aos olhos do povo – que vinham sendo tratadas de maneira incoerente pelo governo. O futuro aumento dos combustíveis, fruto das sanções ocidentais à Rússia, pode novamente alimentar a flama da revolta popular, ateando fogo ao conturbado barril de pólvora que atualmente é o cenário político da França.
Indo além do já citado, neste ano, violentos protestos separatistas tomaram as ruas da Córsega, forçando o presidente a falar numa possível concessão de autonomia à região – algo quase que sem precedentes na história da França.
Estas conturbações coletivas são, em grande parcela, consequência do achatamento da classe média francesa, que vêm ocorrendo desde que certas medidas liberais foram assumidas por Paris. Gestou-se assim um acachapante distanciamento, tanto financeiro quanto cultural, entre as populações interioranas, afincadas em valores esquecidos pelos centros urbanos, e os habitantes das metrópoles – num cenário extremamente parecido ao que se desenrola nos Estados Unidos da América.
É por esta razão que a desaprovação de Macron bateu alguns recordes em 2022, tendo vencido Marine Le Pen, que cresceu em relação aos votos obtidos no último pleito, em virtude da habilidade da imprensa em pintá-la como uma extremista de direita.
Assim sendo, a situação francesa segue extremamente instável, e os empecilhos econômicos vindouros – a maciça imigração ucraniana, o aumentos do gás e dos combustíveis, o encarecimento dos bens de consumo etc – possuem grandes chances de causarem revoltas ainda mais viscerais.
Idelmino Ramos Neto, Bacharel em Ciência Política pela Universidade do Distrito Federal (UDF), licenciado em Filosofia pelas Faculdades Integradas de Ariquemes (FIAR).