
Por João Victor Gasparino.
Não é Capitalismo, é Especulacionismo. O sistema que nos domina, fosse ele pautado pelo ”Capital”, seria algo mais próximo do que se poderia chamar de ”humano” ou ”justo”. Pois o capital quando investido na produtividade da economia, especialmente indústria e tecnologia, torna-se sua força motriz. Assim possibilita ganhos reais sociabilizados entre os trabalhadores, investidores e na própria comunidade na qual se insere, como por exemplo, a cidade ou bairro nos quais determinada fábrica se situa. Fora os excedentes que poderão ser reinvestidos, aprimorando o ciclo cada vez mais. Tudo isso, claro, dentro de uma regulação estatal que possibilite a manutenção da prioridade no interesse coletivo. É aí que complica, né? Já estamos viajando num mundo cor-de-rosa…
Claro, quem sou eu para dizer que o uso científico do termo ”capitalismo” por cientistas sociais, economistas, historiadores, filósofos, etc, está errado? Não é meu objetivo afirmar tamanha insensatez. O propósito aqui é encontrar um nome mais adequado para as pessoas comuns compreenderem a natureza da atual fase do capitalismo, a etapa financeira. Em que as atividades econômicas são todas dirigidas a partir das finanças especulativas, ou pelo menos estão reféns das mesmas. Um termo que sintetize a natureza predatória do sistema.
Em algum momento no passado as empresas se preocupavam com a satisfação e bem-estar dos clientes e funcionários. Hoje toda a atenção e cuidado é com os lucros dos chamados ”fundos de investimento” que possuem ações nas respectivas empresas. Portanto, se for lucrativo, as empresas promoverão corrupção, assassinatos, chantagens, mentiras, golpes e tudo mais que for possível. Por exemplo, deixarão barragens carregadas de metais pesados prestes a estourar para não terem custos com medidas de segurança e manutenção. Outro exemplo, não farão recall de algum produto perigoso, podendo causar mortes, porque é mais barato arcar com processos na justiça do que readequar o produto e garantir a segurança dos clientes.
Vivemos num sistema totalmente estruturado em prol de um punhado de especuladores do sistema financeiro (principalmente das bolsas de Wall Street e da City londrina), sem vínculo com as forças produtivas das quais se apropriam. Numa tela de computador pulverizam em questão de segundos, em nome do lucro, empregos e empresas sem nunca ter conhecido nenhum dos trabalhadores ou pisado em nenhuma das fábricas. Nem mesmo visitado os países onde as empresas atuam. A cada vez se torna mais lucrativo precarizar ou fechar empresas, do que investir em sua expansão e desenvolvimento. É mais interessante se apropriar dos concorrentes, ou possíveis concorrentes, de alguma grande corporação e destruí-los para assim cortar custos e aumentar a lucratividade do monopólio então nascente.
Um caso recente em que tudo isso poderia ter acontecido, foi a tentativa da Boeing em absorver a Embraer. Esta tramóia foi amplamente denunciada por grandes brasileiros, defensores do patrimônio nacional, desde o início. Compartilho aqui minha live com o cientista político Felipe Quintas, em seu canal Brasil Independente, sobre o tesouro brasileiro que a Embraer é:
As evidências de que a Boeing faria isso apenas para encerrar a Embraer e se livrar de sua concorrência estão no próprio histórico da empresa estadunidense. Foi o destino da McDonnell Douglas (outra companhia estadunidense do mesmo setor), entre outras, adquiridas e ”canibalizadas” pela Boeing! Só a Boeing em si já é um ”case de (in)sucesso” o suficiente para entender essa lógica que estamos tratando neste texto. O triste absurdo do ”novo” 737 MAX (apenas requentaram o velho avião 737), que custou a vida de centenas de pessoas, é a materialização das consequências de todo esse sistema baseado na especulação predatória, sem nenhum vínculo de responsabilidades. Só o assunto do 737 MAX dá um texto inteiro, em breve escreverei.
Importante notar que o termo é pontual, pois a princípio eu chamaria de ”acionismo”, referindo-me a todos que possuem ações de empresas nas bolsas de valores mundo afora. Mas isso seria injusto, pois o perfil da maioria dos acionistas é o de cidadão comum, em termos de renda e influência social. Os tubarões especuladores formam uma minoria ínfima, de sociopatas predatórios que manipulam o jogo no mercado de capitais. Muitas vezes, a maioria dos acionistas são prejudicados por esse punhado de parasitas. Portanto creio que o termo mais adequado é ”especulacionismo”.
As crises financeiras mundiais, como as de 1929 e 2008, são criadas por esse mesmo punhado de abutres, subjugando populações e governos nos países sob esse sistema, possibilitando assim, a cada crise, maior concentração de renda e propriedade em suas mãos. A cada crise, os governos são cada vez mais estruturados para servir apenas a essa meia dúzia de trilionários, e seus gerentes multibilionários (no total, algo em torno de 0,1% da população mundial), e as pessoas tornam-se cada vez mais dependentes desta elite, tendo que para eles trabalhar, consciente ou inconscientemente.
Para finalizar deixo uma lista de filmes que retratam como funciona o ”Especulacionsimo”:
- Psicopata Americano (não poderia faltar, já que usei para ilustrar o texto)
- Billions (série)
- Fome de poder
- O lobo de Wall Street
- A grande aposta
- Deepwater Horizon
- A Lavanderia
- Conexão Perigosa
- Wall Street: Poder e Cobiça (a continuação é ruim, por isso não está na lista)
Boa maratona!