Por Raphael Machado, Nova Resistência.
Agora que (as tropas escondidas no bunker da usina de) Azovstal se rendeu e Mariupol está completamente libertada podemos comentar algumas coisas que são bem importantes, especialmente sobre o andamento da operação especial militar russa na Ucrânia.
Não existe engajamento militar dessa escala sem baixas dos dois lados. É evidente que os russos e os novorrussos têm baixas, mas as análises mais modestas indicam perdas de cinco ucranianos para cada um russo. O Scott Ritter, ex-oficial da inteligência dos EUA, fala em 10 ucranianos para cada 1 russo. Pois é.
Isso pode ser tranquilamente confirmado pelo fato de que a Ucrânia está em sua quarta onda de mobilização geral. Os russos não fizeram qualquer mobilização. Apenas revezaram tropas entre a primeira fase e a segunda fase e, eventualmente, enviam reforços e rotacionam unidades.
De modo geral, sempre recordo que a Rússia não pode engajar todas as suas forças (ou mesmo a maior parte) porque sempre existe o risco, ainda que pequeno, do conflito se espalhar para outras frentes ou da OTAN se envolver.
A Batalha do Donbass é posicional. Os ucranianos estão em um caldeirão estratégico há mais de um mês. Isso significa que todo o espaço ocupado pelos ucranianos pode ser atingido pela artilharia russa. Os russos querem, agora, fraturar esse caldeirão em bolsões operacionais com o uso de infantaria. Ou seja, transformar um caldeirão grande em dois ou três caldeirões menores. A previsão é que essa movimentação dure 30-45 dias, porque a intenção parece ser de, quando tudo estiver em posição finalizar a Batalha do Donbass com um ataque de proporções apocalípticas, como foi nas três primeiras horas da operação especial militar em 24 de fevereiro.
De resto, o avanço russo em Lugansk e Donetsk é metódico. A artilharia transforma o espaço ocupado pelo inimigo em crateras lunares, a infantaria avança. O objetivo é não deixar ficar nenhum inimigo para trás podendo atuar por trás das linhas. Já as forças atuando em Kharkov estão ali basicamente para segurar unidades ucranianas para impedir que elas vão em socorro dos militares ucranianos no Donbass.
As dificuldades da operação são as típicas, nada fora de escala. Ademais, trata-se do primeiro confronto militar tradicional, envolvendo exércitos modernos, em muito tempo. A Ucrânia estava em 22º em termos de poderio militar (era mais poderosa que o Canadá, p.ex.) e é o maior país, em território, na Europa. Nem mesmo a Primeira Guerra do Golfo se compara porque apesar do exército de Saddam ser o mais numeroso do Oriente Médio (e o 4° ou 5º maior do mundo), a diferença tecnológica entre a Coalizão Ocidental e o Iraque era avassaladora.
Por isso, aliás, analistas militares do mundo inteiro estão tomando nota freneticamente de tudo que está acontecendo. Esse conflito vai moldar as próximas reformas militares, tanto no plano doutrinário como no plano prático.