Em entrevista à Sputnik, o professor e consultor da ONU falou sobre a guerra na Ucrânia e as mudanças na ordem internacional que ela deve levar.
1. Qual é a sua opinião sobre a proposta do ex-secretário de Estado Henry Kissinger em Davos de iniciar negociações com a Rússia sobre a Ucrânia a fim de evitar “convulsões e tensões que não serão facilmente superadas”?
Subscrevo as propostas de Kissinger sobre a Ucrânia, embora sempre tenha sido e continue sendo crítico em relação à responsabilidade de Kissinger por graves crimes de guerra cometidos pelos EUA no Vietnã, Laos e Camboja. Qualquer pessoa razoável que entenda a história mundial e que possa avaliar os perigos iminentes do confronto OTAN-Rússia sabe que devemos diminuir a escalada e reduzir as tensões, que já são muito difíceis de superar.
A humanidade precisa mais do que apenas um acordo sobre a Ucrânia. A guerra da Ucrânia é apenas um sintoma de um desequilíbrio geopolítico muito maior que pode e deve ser resolvido pacificamente. A alternativa é o Apocalipse. Portanto, o Secretário Geral da ONU deveria convocar – em nome de toda a humanidade – uma Conferência Mundial de Paz que abordará as causas fundamentais do conflito OTAN-Rússia e estabelecerá uma arquitetura de segurança sustentável para todo o globo, incluindo o espaço exterior. Estou pensando em uma nova “Paz de Vestefália” (1648) que se seguiu ao massacre da Guerra dos 30 anos, ou um novo “Congresso de Viena” (1814-15) que encerrou as agressões napoleônicas contra todos os seus vizinhos europeus. Tal Conferência de Paz Mundial deveria se basear na “Constituição Mundial” existente, a Carta da ONU, cuja letra e espírito têm sido sistematicamente minados pela OTAN. Um compromisso deve ser feito em nome da sobrevivência da humanidade, e todas as partes devem fazer concessões de boa fé, incluindo a Rússia. Uma Conferência Mundial de Paz poderia se basear em meus 25 Princípios da Ordem Internacional, que apresentei ao Conselho de Direitos Humanos da ONU em 2018 e reformulei em meu livro “Building a Just World Order” (Clarity Press, Atllanta, Geórgia, 2021) https://www.claritypress.com/product/building-a-just-world-order/
2. Henry Kissinger expressou sua própria visão pessoal ou esta visão é mantida por algum grupo dentro do estabelecimento dos EUA? Quem (que grupos de pressão e forças políticas) este grupo poderia incluir?
Quer gostemos dele ou não, Kissinger é um estadista do estatuto de um Klemens von Metternich. Ele é um profundo pensador e possui uma enorme experiência histórica e política. Ele não é um fantoche de nenhum dos chamados think tanks nos EUA, que são financiados pelo complexo militar-industrial-financeiro. Ele não está fazendo o que ninguém quer, mas dando uma opinião que deve ser levada a sério. É claro que, no momento em que não se faz a linha política de Washington, expõe-se a manchas pessoais e outros ataques abaixo da cintura e hominem. Os lobbies e organizações como o American Enterprise Institute, a Heritage Foundation, a Brooking Institution, a AIPAC etc. são responsáveis pela lavagem cerebral do público americano e pela gestão da narrativa que todos ecoam – em desvantagem para o povo americano e para o mundo. A grande mídia é cúmplice da desinformação do público.
3. Outro orador de Davos, George Soros, apoiou o incentivo da administração Biden para sangrar a Rússia, independentemente de possíveis conseqüências. Quais são os riscos da postura de George Soros? Que forças ele representa?
Há décadas George Soros vem minando os propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas através de uma rede de agentes bem financiados. Soros representa os bilionários do mundo, que só têm desprezo pelas pessoas comuns. Soros tem financiado e continua a financiar organizações não governamentais que desestabilizam os países e subvertem a vontade do povo. Essencialmente, sua visão de mundo é uma visão de “domínio de todo o espectro” (full spectrum dominance), pela qual as “elites” ocidentais continuarão ditando políticas para o mundo inteiro, em contravenção ao direito de autodeterminação dos povos, com o propósito de impor uma “mudança de regime” ao estilo ocidental e posterior domínio pelos governos fantoches. Em sua essência, sua visão é a antítese da democracia e uma tentativa de estabelecer uma ordem mundial neocolonial que toma suas ordens de Washington e Bruxelas. Seu apoio vocal às sanções contra muitos países resultou no deslocamento de suas economias, na escassez de alimentos e medicamentos e na consequente morte de dezenas de milhares de seres humanos inocentes, especialmente entre os mais vulneráveis. Sangrar a Rússia é uma política míope, carregada de consequências criminosas, tendo em mente que a guerra contra a Rússia está destruindo a Ucrânia e resultará em fome na África e no mundo. A gravidade das consequências da ideologia Soros e dos “danos colaterais” justificaria o Tribunal Penal Internacional ao indiciar muitos líderes ocidentais por cometerem “crimes contra a humanidade” de acordo com o artigo 7 do Estatuto de Roma. Mas, é claro, o TPI serve aos propósitos do Ocidente, e jamais indiciará Biden, Blinken, Johnson, Scholz, ou o próprio Soros. Resumindo: Soros e sua rede têm subvertido princípios centrais da ordem internacional e armado os direitos humanos contra a Rússia, China, Hungria, Cuba, Nicarágua, Venezuela, Síria, etc., com impactos adversos para o mundo inteiro. E ainda assim, a rede Soros conseguiu construir uma imagem positiva de si mesma graças às “notícias falsas” e às narrativas falsas divulgadas pela grande mídia cúmplice.
4. Keir Simmons, da NBC News, observou que, por “turbulências”, Kissinger significava, em particular, uma crise alimentar potencial que poderia desencadear uma migração em larga escala de países do terceiro mundo para a Europa. Soros está ciente deste cenário potencial, em sua opinião? Uma nova crise migratória é o que Soros quer?
É claro que Soros está ciente deste cenário potencial. Mas ele supõe que, como disse Angela Merkel em 2015 durante a crise migratória síria de origem ocidental “Wir schaffen das” (nós podemos lidar com isso). É completamente irreal. Mas Soros não suporta as consequências de suas políticas. Ele tem seus bilhões e está seguro até o dia da sua morte. Enquanto isso, ele vive em seu próprio mundo ideológico e continua minando a ordem mundial. É um jogo cínico.
5. O ex-agente da inteligência russa, Andrey Bezrukov, conhecido pelos estudiosos americanos há 20 anos sob seu pseudônimo Donald Heathfield, sugeriu que os EUA podem se retirar do conflito da Ucrânia a qualquer momento sem perder credibilidade. Você concorda com isso?
Objetivamente, os EUA perderão credibilidade, como aconteceu no Vietnã e no Afeganistão. Mas nós também temos a capacidade de criar “irrealidade”. Para o americano médio, não “perdemos prestígio” no Afeganistão. Cumprimos nossa tarefa e não tivemos sucesso por causa dos malvados talibãs. Acreditamos em nossa própria propaganda. Portanto, se e quando os EUA decidirem que é hora de abandonar a Ucrânia, o farão, e a grande mídia inventará narrativas apropriadas para torná-la plausível. “Notícias falsas” acabarão amadurecendo em “história falsa” e as gerações seguintes de americanos continuarão acreditando que somos os “bons da fita” e que temos uma “missão” de levar felicidade e democracia ao resto do mundo.
6. Que opinião é provável que prevaleça, a de Henry Kissinger ou George Soros, em sua opinião?
Isso depende de como a guerra da Ucrânia se desenrola. Embora Kissinger não seja um “herói” meu, reconheço que ele ainda possui um certo senso comum e um compromisso com a paz mundial através da Realpolitik. Apoio a análise do Professor John Mearsheimer da Universidade de Chicago, que recentemente publicou um brilhante artigo no Economist, baseado em parte em seu livro “The Great Delusion” (2018). O professor emérito Richard Falk das Universidades de Princeton e Santa Bárbara também publicou avaliações perspicazes. Em contraste, Soros é um jogador de cassino – não um homem muito sábio, muito menos um intelectual – Soros é um especulador financeiro que o atingiu em cheio e depois pensou que poderia moldar o mundo de acordo com seus caprichos e ilusões. Um sintoma de megalomania. Soros será esquecido, mas o mal que ele causou permanecerá por décadas.
Qual era o plano original?
Atacar as Republicas (Luhansk – Donetsk) e perseguir os russos dentro da Ucrânia para provocar a Rússia. Depois pretendiam agredir a Rússia diretamente.
A Rússia reagiu as provocações e interveio. E agora?
O Kissinger apenas queria dar um passo para trás (reconhecer a Independência das Repúblicas para conseguir um cessar fogo) e depois agredir a Rússia diretamente. Acreditar que esse velho lunático queria paz é muita inocência.
O que a turma do Sr. George Soros (Ihor Kolomoyskyi, o nome do cara é tão legal que ele “romantiza”, escrevendo de uma maneira diferente em cada idioma. O cara é profissional, com carteirinha do regime terrorista sionista e tudo.) querem é a escalada do conflito (ampliando a zona de combate e obviamente querem atingir a Rússia).
Os ingleses querem aumentar o tamanho da guerra colocando outros países, para transformar numa guerra regional ou até mundial.
Creio que o palhaço da Ucrânia vai tentar simular um golpe para fingir que foi coagido a se render e depois vai fugir.
No alto comando da Ucrânia só tem nazistas e gente cooptada pelo Ocidente, o risco de derrubarem o palhaço, nesse momento, é praticamente zero, tudo que eles fazem é obedecer o Ocidente.
Para o PresidentX Biden “está tudo tranquilo”. O Ocidente quer eternizar o conflito. O problema exatamente que os gringos preferem sacrificar o palhaço do que ajudar ele a fugir.
Seria melhor ele combinar com os russos antes e avisar que vai se render.