
Depois da renúncia de Boris Johnson, a sorte parece não estar muito boa para outro líder europeu: Emmanuel Macron. O site da ICIJ publicou uma reportagem em que denuncia a atuação de Macron em 2015, quando era Ministro da Fazenda do então presidente François Hollande, como lobista da Uber, em meio a uma greve de taxistas deflagrada em grandes cidades como Paris e Marselha.
Segundo a ICIJ, Macron teria trocado mensagens com o principal lobista do Uber para o mercado europeu, Mark MacGann, prometendo a este interferir numa medida do governo francês que proibiu o aplicativo no país, em resposta a greve. A atuação de Macron parece ter sortido efeito, pois o governo logo revogou a medida, dando entender que a Uber usou influência junto às autoridades.
Assim, ainda que tenha se reelegido por mais um mandato de cinco anos, o atual presidente francês já teve que suportar um resultado desfavorável nas eleições para a Assembleia Nacional, com a perda da maioria absoluta por seu partido En Marche!/Renaissance. Agora, alguns parlamentares de oposição pedem uma CPI para investigar as relações dele com uma empresa privada.
Que, aliás, não é qualquer empresa, tendo em vista que, segundo a ICIJ, é turbinada financeiramente por grandes grupos como a Goldman Sachs, a Uber utiliza técnicas agressivas de entrada em novos mercados, oferecendo vantagens a novos motoristas, como forma de cooptação, e depois as retirando. Além disso, fez se valer de uma política bilionária de lobbying, contratando quadros políticos para influenciar por uma legislação favorável, para se contrapor à reação dos taxistas, mundo afora.
Um hipotético exemplo: se os lobistas da Uber entrassem em contato com Lula ou seu instituto e pedissem a ele uma “consultoria” a respeito do mercado brasileiro, com certeza cairia na “malha fina” da Lava Jato, considerando o cenário de 2015.
No que tange à atuação em um mercado, visando sua captura, a Uber desde o início adotou uma estratégia de dumping, ainda que sacrificando prejuízos no curto prazo para se tornar monopolista no longo prazo. O que explica os resultados negativos sucessivos da empresa, a despeito do valor de suas ações. Nesse sentido, possui uma semelhança grande com a Tesla de Elon Musk.
Não se sabe qual será o desfecho do Caso Macron e Uber, mas Macron, no cenário político atual europeu, destaca-se diante da sucessão de gabinetes britânicos e da inoperância do alemão Olaf Scholz, que joga contra os próprios interesses ao anuir com a política antirrussa emanada da OTAN. Macron foi o último governante europeu a se encontrar com Putin e ainda ensaiou uma política de intermediação entre as partes em conflito na Ucrânia.