
Por Raphael Machado.
Defender a família não pode ser só discurso, tem que ser prática. E sancionar vasectomia/laqueadura sem autorização do outro cônjuge certamente não equivale a defesa da família.
De modo geral, é assim que opera o conservadorismo do Bolsonaro. Ele existe no âmbito dos discursos abstratos, das frases de efeito, dos slogans, mas no âmbito das políticas públicas, das normas, das instituições, tudo aponta para a desintegração familiar, para a anomia social.
Um relacionamento sério não se dá entre indivíduos autônomos. O casamento é uma relação de co-dependência, de cumplicidade, de simbiose. Cada parte do casamento se integra com a parte sexualmente oposta em um todo que transcende a soma das partes, daí o mito platônico de que o homem primordial teria sido partido em duas metades sexuais (e encontrar a sua alma gêmea seria encontrar a sua outra metade), ou o comentário aristotélico sobre o amor verdadeiro ser a presença de uma mesma alma em dois corpos diferentes.
Ademais, ainda que não seja o fim único, é evidente o papel natural do casamento da perpetuação da linhagem familiar, étnica e nacional. E quando alguém pensa no “constituir família” ao casar, é evidente que está pensando em gerar prole para perpetuar o próprio nome, valores, aparência, etc.
A noção de que um cônjuge pode ser autorizado a se esterilizar sem comunicar o outro cônjuge é, portanto, um ataque à instituição matrimonial. É fraude no casamento. E tudo sancionado pelo governo conservador de nosso país.