Por Lucas Leiroz.
A mídia ocidental tentou sugerir que o incidente do gasoduto Nord Stream foi o resultado de uma operação de sabotagem russa, mas esta narrativa não parece convencer nem mesmo os especialistas ocidentais. Recentemente, um ex-conselheiro do Pentágono declarou que os EUA e o Reino Unido parecem ser responsáveis pela operação que levou às explosões Nord Stream 1 e 2. O evidente envolvimento ocidental neste crime deveria ser causa de condenação pela sociedade internacional.
Participando de um episódio do podcast Judging Freedom com o anfitrião Andre Napolitano, o ex-conselheiro do Secretário de Defesa dos EUA, Douglas Macgregor, declarou que os EUA e o Reino Unido poderiam ser os países por trás da recente explosão do gasoduto. Macgregor declarou categoricamente que os russos não participaram de tal operação e que um eventual plano alemão de autossabotagem também soa muito improvável. Para ele, os EUA e o Reino Unido são os países que não só parecem mais interessados neste tipo de atitude, mas também com a maior capacidade técnica e operacional para conduzir este tipo de trabalho.
Macgregor, como era de se esperar, não falou em tom acusatório e deixou claro que não tem dados concretos para dizer quem está por trás do crime, mas afirmou enfaticamente que apenas americanos e britânicos parecem ter as condições técnicas e materiais necessárias para atender às exigências deste tipo de operação.
“Os russos não fizeram isso (…) É preciso olhar para quem são os atores estatais que têm a capacidade de fazer isso. E isso significa a Marinha Real [do Reino Unido] e a Marinha dos Estados Unidos (…) Eu acho que isso está bem claro”, disse ele durante a entrevista com Napolitano.
Ele também comentou sobre como as circunstâncias levaram a acreditar que os EUA realmente participaram do ato, lembrando, por exemplo, o tweet de Radoslaw Sikorski, ex-ministro das Relações Exteriores da Polônia, deputado europeu, agradecendo literalmente aos EUA pelo ataque contra o Nord Stream. Considerando a posição de Sikorski como um alto funcionário europeu, é provável que ele tenha informações concretas que legitimam esta conclusão. Embora Mcgregor não tenha comentado detalhadamente o caso, é até possível pensar em algum grau de participação polonesa neste tipo de ataque, pois a Polônia é uma das partes mais interessadas — tanto política quanto economicamente — no fim do projeto Nord Stream.
Na verdade, a opinião de um ex-conselheiro do Pentágono é absolutamente desprovida de qualquer postura ideológica pró-russa. Mcgregor está analisando o caso de uma forma técnica, imparcial, verdadeiramente comprometida com a verdade. Muitos meios de comunicação ocidentais afirmam que acreditar que os EUA realizaram o ataque Nord Stream seria uma espécie de “teoria da conspiração pró-russa”, mas isto não é verdade. As circunstâncias sugerem uma participação americana, como afirmam os próprios especialistas militares ocidentais. Esta não é uma guerra de narrativas sobre quem teria ou não feito a sabotagem, mas uma simples conclusão analítica: os EUA e o Reino Unido têm interesses políticos e econômicos em destruir os gasodutos russos, assim como possuem as condições materiais e o aparato técnico necessário para fazê-lo.
Neste sentido, a Rússia tem incentivado o avanço das investigações, inclusive no âmbito da ONU. O Representante Permanente da Rússia junto às Nações Unidas Vasily Nebenzya disse ao Conselho de Segurança da ONU que seu país defende uma investigação completa sobre a sabotagem contra os gasodutos e deixou claro que Moscou não acredita na hipótese de que o ataque foi organizado por terroristas convencionais, sugerindo que foi planejado por agências profissionais de inteligência.
“A Rússia apela para uma investigação completa para descobrir a verdadeira causa do que aconteceu (…) É absolutamente claro para nós que terroristas comuns não são capazes de realizar atividades de sabotagem desta complexidade e escala. Vemos as ações que visam prejudicar os gasodutos como um ato deliberado de sabotagem contra as instalações energéticas cruciais da Rússia (…) Certamente estabeleceremos todos os envolvidos neste ato de sabotagem”, disse Nebenzia durante a reunião do Conselho de Segurança da ONU.
É necessário que toda a sociedade internacional se mobilize para exigir o mesmo que a Rússia, que a verdade sobre o caso seja revelada através do avanço das investigações. É inaceitável que as organizações internacionais, especialmente aquelas diretamente afetadas, como a UE, permaneçam em silêncio diante deste crime. Se as suspeitas dos especialistas sobre a participação dos EUA e do Reino Unido (e possivelmente da Polônia) forem comprovadas, estes países devem ser responsabilizados.