Por Raphael Machado
Vazamento do 2º turno 3 dias antes da votação, Roberto Jefferson trocando tiro com a PF, perfis fakes instigando separatismo com ofensas xenofóbicas, para a maioria das pessoas são eventos isolados.
Na minha opinião não. São parte da guerra híbrida para acirrar o extremismo no Brasil.
Agências de inteligência do mundo inteiro possuem experiência com coisas assim. Ex.: Em 2014, o albanês-americano Sami Osmakac foi preso, julgado e condenado por planejar um atentado terrorista nos EUA. O problema é que ele era uma pessoa mentalmente perturbada que nunca nem havia pensado em cometer qualquer atentado antes de ser “trabalhado” por um informante do FBI.
Casos assim abundam. O FBI opera esquemas para “pescar” criminosos antes que eles cometam qualquer crime utilizando informantes e agentes que convencem pessoas mentalmente desequilibradas a planejar e preparar crimes que são, então, impedidos pelos “heróis”. Armações assim são usadas para legitimar as legislações de exceção como o Patriot Act e o Freedom Act.
Há alguns anos também foi revelado outro esquema: o FBI estava infiltrando grupos ou espaços políticos identificados como de “extrema-direita” para empurrá-los na direção do neonazismo e do satanismo. A título de exemplo, a famigerada Atomwaffen Division foi exposta como sendo conduzida pelo agente do FBI Joshua Sutter, também uma das lideranças da seita satanista Tempel ov Blood.
O esquema aí é semelhante ao do fomento do terrorismo salafista. Os grupos neonazistas têm como alvos de recrutamento jovens mentalmente desequilibrados ou vitimados por circunstâncias familiares ou sociais problemáticas. O interesse do FBI, CIA e semelhantes aí é, basicamente, radicalizar grupos políticos para legitimar a repressão e a perda de liberdades políticas e a estigmatização de alternativas políticas ao sistema.
A estratégia não é nova ou mesmo exclusiva dos EUA. Na Itália dos Anos de Chumbo, a “estratégia de tensão” com agências de inteligência da OTAN se infiltrando e manipulando organizações neofascistas, comunistas e anarquistas para caírem no terrorismo, foi um mecanismo usado para enfraquecer o PCI e o MSI, bem como legitimar leis draconianas e reforçar a OTAN como fonte de segurança. A Loja P2 foi central nessa estratégia.
O que quero dizer com isso é que o uso de perfis falsos para instigar extremismo durante as eleições, além de manipular ou influenciar pessoas desequilibradas como Roberto Jefferson ou mesmo soltando falsas bandeiras como o vazamento antecipado do resultado do 2º turno pela Globo, pode tranquilamente ser uma estratégia de tensão para fortalecer instâncias de “exceção” como o próprio poder do Alexandre de Moraes ou mesmo para levar o país à beira da guerra civil para facilitar a imposição de uma paz condicionada pelos EUA.
No mundo da guerra híbrida tudo é possível.