
Por Raphael Machado.
Em Davos se constrói um novo arquétipo de homem, saído das páginas distópicas de Yuval Harari.
O “homem de Davos” não é como nós, reles mortais, ele é praticamente membro de uma outra espécie, reminiscente daqueles alienígenas do filme “They Live“. Os mitos sobre “reptilianos” são apenas a idiotização superficial e “conspiranoica” do senso de absoluta estranheza que o “homem de Davos” desperta.
Ele, por exemplo, não é de lugar nenhum. Seu corpo naturalmente nasceu em algum lugar, mas o “homem de Davos” se distingue por não ter qualquer vínculo especial com o local de seu nascimento. Ele sai dele assim que pode, indo estudar em algum outro país. Em seus estudos ele ainda passará por um ou dois outros países. Em algum desses lugares, ele selecionará uma esposa banal, uma estudante de origem asiática.
Seus negócios serão desenvolvidos “por aí”. Ele tem uma fábrica de automóveis no Vietnã e uma empresa de biscoitos na Finlândia, além de obviamente um banco na Itália, uma fábrica de armas na Bolívia e um pezinho no negócio das companhias militares privadas com uma sede em Luanda. Sua casa, claro, fica na Suíça, mas ele passa mais tempo em hotéis do que nela. Não é bem um “lar” o que ele tem, mas apenas um “lugar” para deixar coisas.
Ele tem um certo apreço romântico pelo esperanto, que ele gostaria que se mundializasse, mas como não deu tempo de aprendê-lo, então ele fala inglês. De fato, quando ele pensa, ele pensa primeiro em inglês e apenas depois no seu idioma natal, quando muito.
Seu filho, se é que ele tem algum, foi produzido por proveta ou barriga de aluguel, mas às vezes o “Homem de Davos” também “adota” uma ou duas crianças africanas ou haitianas, tiradas quase à força de suas famílias miseráveis, para mostrar quão nobre e superior ele é. Do alto de sua nobreza, o “Homem de Davos” também semeia um punhado de ONGs, fundações e institutos. Esses projetos vão oferecer “educação”, bem como promover a “inclusão” e os “direitos humanos”, especialmente nos países que não gostam muito desses “homens de Davos”. Com isso, o “Homem de Davos” acredita fazer o bem. De quebra, ele está minando o tecido social das nações por todo o mundo.
O “Homem de Davos” apoia completamente toda a narrativa do gênero como passo preparatório para o transumanismo. Mas ele não está muito interessado nos resultados mais aberrantes desse percurso, ele está mais interessado nas transmutações sutis, como a edição de genes, ou em formas mais radicais de transmutação, como IA e virtualização. Às vezes, é claro, a filha do “Homem de Davos” desliza na direção de algo mais exótico, mas faz parte. Há quantos anos ele não a vê?
O “Homem de Davos” já superou até mesmo a simulação pública de religiosidade. A sua ideologia, seu estilo de vida, sua sexualidade, tudo isso se mistura com uma religiosidade baseada em rituais exóticos que ele aprendeu em alguma reunião em Luxemburgo, de um monge budista estadunidense de um mosteiro uruguaio. Às vezes, esses rituais saem do controle e alguma criança inocente morre. Mas em um mundo de 7 bilhões isso é apenas estatística.
Ele usa jatinhos para ir a conferências climáticas debater sobre como ensinar à ralé a economizar para salvar a natureza, quando um dia de operação de seus negócios já anula um ano de austeridade plebeia. Ele também canta a necessidade de facilitar fluxos migratórios, nenhum dos quais atingirá suas mansões, afinal não se constrói seu império sem trabalho escravo. Enquanto o mundo se trancava em casa, todos usando máscaras (suas TVs na Holanda e jornais egípcios ajudaram a espalhar a propaganda), ele ia a festas, livre, leve e solto.
O “Homem de Davos” construiu um bunker. Ele acha que uma guerra nuclear é quase uma inevitabilidade. Rindo de lado, alguns admitem que talvez assim o Grande Reset se dê de forma mais fácil. Infelizmente, o “Homem de Davos” acha que todos os líderes mundiais pensam como ele, e que dá para comprar os outros.
Ele não botou na calculadora o retorno das sociedades tradicionais.