
Por Josh Castillo.
Para entender os espantalhos do século XXI, é preciso entender o movimento que, primeiro os criou e, depois, os deturpou.
Marx foi meio ingênuo – na verdade, ele subestimou a capacidade de realizar maldade da humanidade – quando supôs que a grande crise do capitalismo que previu iria abrir caminho para a Revolução Proletária que atingiria as nações capitalistas em crise. Claro, ele era filósofo, não vidente.
De fato, o raciocínio dele fazia sentido, e até rolou um ensaio. Rússia em 1917, a Itália no início da década de 1920 e a própria Alemanha no início dos anos 1930 tiveram sérios ensaios revolucionários, com sucesso consolidado na Rússia.
Mas ele não imaginava que o capital teria um “plano de contenção” tão perverso.
O que chamamos de Nazifascismo é, tão somente, a contrarrevolução em modo preventivo, mas tão violento quanto uma contrarrevolução de fato. E esse método conta também com o acréscimo do então recém descoberto “fenômeno de massas”, o “motor” da revolução industrial estadunidense e do capitalismo do século XX.
Para funcionar, criaram uma espécie de ultranacionalismo deturpado, fomentando ódio étnico e cultural no seio das populações, possibilitando tanto a destruição da identidade de classe, quanto a empatia, substituindo o então vigente “acordo social” rousseauniano por um sentimento de pertencimento de peça em prol de uma estrutura governamental tão maior que o próprio Estado e simbolicamente inquestionável. Isso ainda seria utilizado para se opor ao universalismo do socialismo, afinal, dentro da lógica ultranacionalista, o meu correlato social em um outro país , etnia ou cultura, é o inimigo.
Foram além e alimentaram isso com vários preconceitos preexistentes, aliados a uma pseudociência já em voga no final do século XIX (conceitos de Raça e de Eugenia) e a questões culturais simbólicas cristãs e pagãs, deturpando e ressignificando tudo em uma espécie de ultracapitalismo de Estado.
Hoje em dia, devido a mudança na estrutura do próprio capital, temos algumas questões que dificultam um pouco essa aplicação direta do conceito de Nazifascismo.
O principal é que o Capital, a Burguesia, hoje não é mais nacional, mas transnacional. O que deixa o discurso ultranacionalista um tanto perigoso para os interesses dessa mesma Burguesia Transnacional.
Por isso as incursões de Steve Bannon não têm tanta chance de sucesso. São movimentos de contenção controlados, ou seja, permitidos até certo ponto, quando inicia um conflito de interesses, o “Sistema” age para reconduzir essas forças ao tamanho que lhe seja interessante: nem tão grande que possa ter algum controle, nem tão pequeno que possa ser ignorado pelo seu substituto imediato na alteração da correlação de forças “democráticas”.
Mas não nos deixemos iludir pelo canto da sereia midiática. Os mesmos que ontem jogaram a esquerda na marginalidade, que atuaram para trazer essa versão pós-moderna de extrema direita, hoje fazem afagos para os governos de centro-esquerda que sucederam às tragédias da contenção semicontrolada.
Não esqueçamos que a mesma mão que chama Lula de “presidente democraticamente eleito”, passa pano para o grupo que possibilitou o Euromaidan (que exterminou fisicamente as lideranças de esquerda ucranianas em 2014) e finge não reconhecer a legitimidade do plebiscito feito para o retorno da Crimeia a Rússia após o trauma do Euromaidan.
Os mesmos que hoje criticam o “Fascismo” do Bolsonaro, aplaudem o “Fascismo” do Zelensky e sua base de apoio banderista.
Tudo é uma questão de interesse do Capital Transnacional.
Esquerda e Direita passaram a ser massas a serem manobradas ao sabor do fluxo financeiro. O amigo das manchetes de hoje pode ser o monstro das de amanhã, e tudo feito como se nada tivesse acontecido no verão passado.
Afinal, ninguém, ou quase ninguém, vai lembrar do que aconteceu ontem. E se alguém lembrar, eles recontam a história com o viés que melhor lhes servir. A mídia corporativa aliada às Big Techs das redes sociais são o previsto “Ministério da Verdade” do Romance 1984.
Imagem: Gazeta do Povo.