Prioridades

Por Diego Curcio.

É evidente que a expulsão dos brasileiros das terras Yanomami é uma prioridade absolutamente central para o governo recém-eleito. Para a concretização desse objetivo, nenhum tempo foi perdido e nenhum esforço está sendo medido. Foi enviada à região uma força-tarefa multi-institucional composta por grupos do Ministério Público, do IBAMA, da FUNAI, da Polícia Federal, do Exército, da Marinha, da Aeronáutica e da Força Nacional – só não entendi porque não enviaram ainda a Liga da Justiça, as raposas do Naruto, a Patrulha Canina e os Cavaleiros do Zodíaco para Roraima. Concomitante a essa verdadeira operação de Guerra, o Presidente viaja aos EUA para participar de uma “reunião” sobre “Direitos Humanos” e “Meio Ambiente” com seu patrão americano; ou seja, vai prestar contas do trabalho que lhe foi atribuído.

O Diretor da seção Amazônia da Polícia Federal deu uma entrevista destacando a periculosidade dos terríveis criminosos que praticam a mineração artesanal na reserva Yanomami. O “nobre porta-voz” nem precisava ter adotado em sua fala aquela oratória farsesca e sensacionalista de pastor da Universal. Afinal, a extrema periculosidade dos garimpeiros roraimenses fica evidente nos vídeos gravados pela Força-Nacional. O que pode ser mais perigoso e ameaçador do que uma canoa em destroços cheia de homens raquíticos, mulheres grávidas, velhos subnutridos e crianças de colo descendo em desespero e ao som de choros histéricos o Rio Branco?

Por que desterrar e prender esses homens e mulheres miseráveis, abandonados historicamente pelo estado no meio da floresta, é a prioridade do novo governo? Qual seria o crime hediondo cometido por esses caboclos famélicos? Certamente, eles não empunharam armas de guerra no meio de cidades, nem explodiram agências bancárias com dinamite, muito menos são eles os responsáveis pela grande maioria dos quase 50 mil homicídios ocorridos por ano no Brasil. Eles fizeram algo MUITO PIOR. Tentando subsistir através da mineração semi-artesanal, única atividade econômica viável na região em que nasceram, eles acabaram colocando em risco os interesses das grandes mineradoras transnacionais. Esses grandes grupos mafiosos comandam o exército de ONGs que atuam na região, controlam a imprensa e, ao que tudo indica, também mandam e desmandam no governo recém-eleito. Esse foi o crime imperdoável cometido pelos garimpeiros famintos de Roraima: fazer concorrência aos estrangeiros que tomam nossas riquezas sem pagar um centavo ao país. Talvez se eles estivessem praticando alguma chacina ou realizando assaltos em alguma cidade, eles poderiam ser tratados como “vítimas da sociedade” ou como “jovens periféricos”. Mas, como eles tiveram a audácia de, no desespero pela sobrevivência, entrarem no caminho dos verdadeiros donos do Brasil, nenhum perdão lhes será concedido.

Além de cometer uma terrível crueldade e covardia contra os garimpeiros miseráveis das Terras Yanomami, o governo Lula está “desbrasileirizando” metade do estado de Roraima, estabelecendo as condições perfeitas para a criação de um “Yanomamistão” num futuro próximo.

Porém, apesar desses atos de lesa-pátria e de alta traição contra a Nação, uma coisa de positivo se pode depreender desse espetáculo horrendo: estamos diante de um governo que tem tolerância zero para com a criminalidade. Afinal, quem realiza uma mega operação cinematográfica contra caboclos amazônidas miseráveis, por cometerem o “crime” de realizar uma atividade produtiva tradicionalmente praticada na região, também vai demonstrar o mesmo rigor na hora de enfrentar os grupos criminosos que dominam paramilitarmente grande parte do território nacional. Quando essa mesma força-tarefa enviada para Roraima vai ser mandada para a periferia de São Paulo, Recife ou Porto Alegre? Quando teremos Forças Armadas, Força Nacional e Polícia Federal coibindo verdadeiras práticas criminosas em nossas grandes, médias e pequenas cidades?