Assessor Especial da Presidência e amigo pessoal de Lula, Celso Amorim foi em missão oficial encontrar-se com o presidente Nicolás Maduro em Caracas. De quebra, encontrou espaço na agenda para se encontrar com Antonio Ecarri, líder de um partido oposicionista, a “Aliança do Lápis”.
Como um dos formuladores da política externa do Governo Lula, encontrar-se com um chefe de Estado de um país vizinho e parceiro comercial, com quem o Brasil bem faz em refazer os laços diplomáticos, estremecidos pelo governo anterior por picuinhas ideológicas, faz parte do jogo. Contudo, encontrar-se com um líder oposicionista já é quebra do protocolo.
Duas vezes ministro das Relações Exteriores, nos governos Itamar Franco e Lula, Amorim também foi ministro da Defesa do Governo Dilma. Além disso, foi um dos articuladores do Grupo de Puebla, uma organização política de centro-esquerda que tem como figuras de proa, além do próprio, presidentes e ex-presidentes como Lula, Dilma Rousseff, Evo Morales e Luiz Arce (Bolívia), Alberto Fernandez (Argentina), Fernando Lugo (Paraguai) e até mesmo o ex-primeiro ministro espanhol José Luis Zapatero, dentre outros. Outros brasileiros que o compõem são os políticos petistas Fernando Haddad, Aloísio Mercadante e a jurista Carol Proner.
Dele não constam os presidentes da Venezuela e Nicarágua. Sobre este último, há manifestações de denúncia, assim como de supostas violações de direitos humanos pelo governo salvadorenho de Nayib Bukele por sua política rígida contra o crime organizado. Sobre o governo de Daniel Ortega “expressa sua profunda preocupação com a situação democrática e o estado dos direitos humanos e das liberdades na Nicarágua”.
Sobre El Salvador demonstra sua condenação da política de segurança pública, apesar da melhora dos indicadores de segurança pública: “a experiência mostra que mais penas, mais punições e mais celas prisionais não são tão eficazes para acabar com o crime quanto as medidas de prevenção social, penas alternativas e decisões de justiça restaurativa”.
Ao contrário de organizações internacionais em que se dá ênfase à cooperação internacional com respeito à soberania dos Estados, o Grupo de Puebla busca se imiscuir nos assuntos internos dos países, mesmo com as melhores intenções. O modus operandi parece se assemelhar ao de organizações e think tanks estadunidenses, principalmente às ligadas ao Partido Democrata. Nesse sentido, o Grupo de Puebla parece estar alinhado à Internacional Progressista, da qual o ministro da Fazenda Haddad é um dos expoentes.
Convém lembrar que a Internacional Progressista é a mesma organização que em nome das boas práticas ambientais fez lobby contra a Ferrogrão, a ferrovia que faria a integração entre o Centro-Oeste e portos fluviais na Amazônia.
É de se olhar com preocupação tais movimentos vindo das mais altas lideranças diplomáticas do país.