Por Timofey Bordachev.
O presidente francês sabe muito bem que Paris não tem a intenção de assumir postura independente. A era De Gaulle já passou há muito tempo.
Hoje, as palavras proferidas em público pelos líderes ocidentais, mesmo os mais antigos, não têm nenhum significado estratégico, mas são meramente um elemento de manobra tática. Portanto, é impossível tirar conclusões de longo alcance a partir delas.
Isto também se aplica aos recentes apelos do presidente francês Emmanuel Macron, que declarou que a Europa Ocidental “deve lutar pela autonomia estratégica”.
Estas palavras têm pouco valor. O discurso do líder francês não deve ser visto como um sinal de algum tipo de “despertar soberano” dos europeus da OTAN, numa época em que, por razões objetivas, eles estão plenamente associados à comunidade unida de países liderados pelos EUA. A coalizão ocidental não está tão dividida há muito tempo, e todos os acontecimentos em torno da Ucrânia confirmam isto.
É interessante notar, no entanto, que esta postura verbal vazia não é apenas obra de um funcionário da UE, mas de um homem acompanhado por um oficial com uma “mala nuclear”. A França, é preciso lembrar, tem o quarto maior estoque de armas atômicas do mundo. Mas, ao contrário da Rússia, dos EUA ou da China, a afiliação ao clube dos estados militares mais poderosos do mundo não dá à Quinta República nenhuma vantagem real em termos de política externa.
Não tanto em termos de seu status formal – concordamos, como o tamanho do tapete vermelho durante a visita de Macron a Pequim confirmou. Entretanto, Paris não pode influenciar o conteúdo da política internacional. E enquanto no caso da Alemanha podemos falar de uma “dissolução” formal de sua soberania, na França estamos falando de seu desaparecimento de fato por imposição a si própria. Isto torna o caso francês ainda mais grotesco.
O surpreendente é que não estamos falando apenas de um país que uma vez construiu milagrosamente suas próprias armas nucleares. A França, para todos os seus problemas, é uma economia moderna altamente avançada, produzindo aeronaves civis comercialmente viáveis, capazes de voos intercontinentais – algo que mesmo a China super bem sucedida ainda não pode fazer. Ou a Rússia de hoje, que tem a tecnologia, e que o fez no passado, mas que atualmente não está construindo tais aviões.
As forças armadas da Quinta República também são geralmente consideradas muito boas – pelo menos as melhores da Europa Ocidental continental. No entanto, isto é de pouca utilidade quando se trata do estado da política internacional em geral. Fazer parte da comunidade dos países ocidentais desvaloriza todas as vantagens que de outra forma fariam da França um jogador muito mais importante do que, digamos, a Índia ou o Brasil. Sem mencionar a Turquia ou o Irã, que são inferiores à França em todos os aspectos, mas são mais independentes em suas políticas externas.
A França poderia ter evitado a situação seguindo o caminho tomado por Charles de Gaulle após o final de sua presidência. Porém, mais de 50 anos após sua partida, o Estado criado pelo general perdeu gradualmente a maior parte das prerrogativas de autonomia. O final deste longo processo foi o retorno de Paris à estrutura de comando militar da OTAN nos anos 2000, que, como sabemos, é dominada pelos EUA. Ao mesmo tempo, a decisão francesa impediu todas as tentativas de pensar em uma defesa europeia independente, que se tornou uma coisa após a vitória do Ocidente na Guerra Fria. O que quer que alguém diga, a questão do controle sobre o planejamento militar é o mais importante dos sinais de um Estado soberano.
Com o fim do período do Gaullismo na política de defesa francesa, esta pergunta foi finalmente respondida para toda a Europa da OTAN. E não é um problema para o Ocidente que a conversa vazia do presidente francês não possa ser levada a sério.
Será que tais declarações serão feitas no futuro? Sem dúvida, sim. Mesmo as relações intrafamiliares mais próximas, onde o poderoso patriarca está à frente do clã, permitem argumentos sobre qual das crianças ocupará o assento mais confortável à mesa. Mas seria profundamente errado tomar estas disputas, por um momento sequer, como uma indicação de que qualquer membro da amigável família de parasitas globais poderia cometer traição contra seu patrono do outro lado do oceano.
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Sobre a desdolarização: os EUA já sabem que o processo é inevitável. Para evitá-lo, teria de arrumar briga com toda a Eurásia e África. Sem condições. Rússia, China, Irã, Índia, a África toda, etc. não são Iraque e Líbia. Como o projeto do imperialismo do dólar naufragou, o império decadente vai tentar sua última tábua de salvação, o identitarismo woke. A religião do wokismo é a religião universalista que os EUA vão tentar espalhar para tentar manter seu império. Basicamente o que Roma fez com o catolicismo. Por ser universalista, o wokismo despreza bandeiras nacionais, só respeita bandeira de preto, de gay, de mulher, de transexual, etc. O papel de Lula é o de ajudar os EUA a espalharem sua religião woke pela América Latina e África. Se ele vai entrar na inevitável desdolarização, tanto faz. O importante é abraçar o identitarismo sem restrições. Cada identitário é um missionário do Império Anglo-Sionista. Cada woke é um agente do imperialismo. Movimentos negro, gay, trans, indigenista, feminista, de direitos humanos são braços do império para gerar caos e dominação nos outros países. Lula encheu seus ministérios de wokes financiados por Soros e Fundação Ford. Está cumprindo o papel que lhe cabe no esquema imperial. Tentou também afastar Rússia de China com seu plano de paz furado, mas falhou