
Linhas de transmissão de energia, energia elétrica
Do Movimento de Solidariedade Ibero-americana.
O apagão que deixou quase todos os estados brasileiros e o Distrito Federal às escuras durante várias horas, na terça-feira 15 de agosto, pode ter sido causado pelo excesso de carga gerada por centrais eólicas e solares no Nordeste, que teriam sobrecarregado as linhas de transmissão e ocasionado o desligamento automático do Sistema Interligado Nacional (SIN). O único estado poupado do apagão foi Roraima, que não é ligado ao SIN e tem um – caro – sistema de geração próprio baseado em geradores que consomem óleo combustível e diesel.
A afirmação é de vários especialistas que se manifestaram após o episódio, enquanto o Operador Nacional do Sistema (ONS) e a Eletrobras se limitavam a admitir que desconheciam as causas do problema.
“Como o Nordeste está com excesso de [energia] eólica, esse excesso de geração não consegue ir direto pro Sudeste, não tem espaço nas linhas, então ele tem subido [na linha] para o Norte e vem de lá para cá [Sudeste]. Quando isso se interrompe, parte dessa energia que saía do Nordeste para atender o Sudeste, mas que tinha que fazer esse caminho meio estranho, ela fica sem ter espaço para entrar”, disse à TV GGN a economista Clarice Ferraz, pesquisadora do Grupo de Economia de Energia do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretora do Instituto Ilumina.
A mesma explicação foi oferecida por Adriano Pires, diretor e fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE): “A lição que fica é que o sistema hoje tem falta de segurança, por estar muito baseado em energia renovável como eólica e solar. Não temos disponibilidade de vento e sol 24 horas por dia. Acidentes nas linhas de transmissão podem ocorrer, o que não podemos ter é um sistema que demora tanto a reagir e deixar regiões seis horas sem eletricidade (Poder360, 16/08/2023).”
De acordo o ONS, a geração eólica e solar representa cerca de 70% da geração total do subsistema Nordeste, cujo excedente é enviado para outras regiões pelas linhas de transmissão e, às vezes, gera sobrecargas, como ocorreu na terça-feira. Ademais, essas fontes geram eletricidade em corrente contínua, que precisa ser convertida para alternada para ser injetada nas linhas de transmissão que operam com a rede de base (hidrelétricas, termelétricas e nucleares), o que pode provocar instabilidades na rede.
Mais uma lição de realidade para os entusiastas das “energias limpas”. Fontes intermitentes não deveriam ser ligadas à rede de base, o que tem sido feito, tanto por motivos ideológicos (a badalada “transição energética”) como para a geração de lucros rápidos, pois centrais eólicas e solares podem ser construídas e entrar em operação mais rapidamente do que as demais fontes que operam no sistema de base. Geração elétrica é uma atividade estratégica, e não deveria ser vinculada a tais motivos.