
Do Geopol.pt
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, assinou na terça-feira o decreto presidencial que coloca Andrej Melnyk como embaixador da Ucrânia no Brasil. A nomeação já era sabida desde maio.
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil já em maio tinha feito saber que “o governo brasileiro tem a satisfação de informar que aprovou a nomeação de Andrij Melnyk como embaixador da Ucrânia no Brasil”.
Celso Amorim, confidente próximo do presidente Lula da Silva e conselheiro para a política externa, encontrou-se com Zelensky em Kiev para conversações, no dia 11 de maio. Também se encontrou com Melnyk, que publicou uma fotografia do encontro no Twitter, com o texto “Tenho o prazer de me encontrar com o conselheiro principal do presidente brasileiro Lula da Silva, Celso Amorim. O Brasil pode desempenhar um papel importante para travar a agressão russa e alcançar uma paz duradoura e justa”.
Melnyk, homem de confiança e muito próximo de Zelensky desde o início, era vice-ministro dos Negócios Estrangeiros até à presente data e foi anteriormente embaixador na Alemanha, onde coleccionou uma série de escândalos diplomáticos.
O diplomata representou a Ucrânia em Berlim entre 2014 e 2022, muito mais tempo do que o habitual. Após o início da invasão russa da Ucrânia, ganhou grande notoriedade na Alemanha ao criticar regularmente o governo alemão durante o debate sobre o fornecimento de armas. Entre outras coisas, chamou ao chanceler Olaf Scholz uma “salsicha de fígado amuada”, pelo que mais tarde pediu desculpa.
Ainda antes da invasão, em abril de 2021, em entrevista ao “Der Spiegel”, Melnyk defendeu a entrada da Ucrânia na NATO no contexto da guerra do Donbass. Caso contrário, se fosse negada a entrada, Kiev deveria de garantir a sua própria segurança com armas nucleares.
Mais tarde, em 2022, em entrevista ao podcast Jung & Naiv, Melnyk, defendeu o colaborador nazista Stepan Bandera. Isto não constituiu surpresa, uma vez que Melnyk vem da área política mais à direita e é um conhecido admirador de Bandera. Mas daquela vez, porém, o então embaixador foi mais longe e negou que as unidades da OUN (Organização dos Nacionalistas Ucranianos) comandadas por Bandera tivessem cometido assassínios em massa, dizendo que “Não há provas de que as tropas de Bandera tenham assassinado centenas de milhares de judeus”.
As declarações de Melnyk roçaram a legalidade alemã, e foi considerada por muitos delegados, como estando ao nível dos negacionismo do Holocausto, crime punível na Alemanha.
Sem embargo, Melnyk tinha muitos simpatizantes alemães por ser um ultra contra a Rússia. A defesa de Melnyk do fornecimento de armas e de mais apoios granjeou-lhe popularidade, mas também suscitou críticas em relação às suas constantes exigências, obrigando o Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano a intervir.
Em outubro de 2022, Melnyk foi afastado do seu cargo em Berlim. Tornou-se então um dos adjuntos do ministro dos Negócios Estrangeiros Dmytro Kuleba. Nesta função, foi responsável pelas Américas, pelas questões de direito internacional e pelos ucranianos que vivem no estrangeiro, entre outras coisas.
Antes de se tornar embaixador na Alemanha, tinha sido cônsul-geral em Hamburgo entre 2007 e 2010. Mesmo depois de ter sido demitido da Alemanha, criticou o governo de Scholz por ter ficado aquém das suas possibilidades em termos de fornecimento de armas — e também o seu sucessor, Oleksii Makeiev, a quem acusou de não exercer pressão suficiente.
Melnyk ainda não comentou o seu novo cargo de embaixador em Brasília. Na semana passada, no entanto, representou a Ucrânia em conversações com a Grã-Bretanha sobre uma iniciativa diplomática do governo ucraniano na América do Sul e Central e nas Caraíbas, que é apoiada pelo governo britânico. A Ucrânia está interessada, disse ele, em aprofundar as suas relações com os estados desta região «estrategicamente importante» e obter o seu apoio para as exigências de paz do seu governo, tais como a retirada total da Rússia dos territórios ocupados.