Do MSIa Informa.
É o que se depreende da matéria do Valor Econômico de 13 de outubro, “Preço baixo de energia elétrica trava mais de R$ 10 bilhões em fusões e aquisições”. Uma verdadeira aula sobre a realidade da indústria energética no Brasil, voltada para privilegiar negócios com retornos rápidos, em detrimento de uma expansão firmemente apoiada nos melhores critérios técnicos e econômicos, em sintonia com a expansão da economia e visando assegurar preços acessíveis para os consumidores comerciais e residenciais. Diz o texto:
“O preço baixo da energia elétrica neste ano colocou em compasso de espera um conjunto de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) do setor, que prometia ser o mais ativo do ano. No cálculo de bancos de investimento, um volume superior a R$ 10 bilhões em vendas de ativos estavam na mesa neste ano, mas agora tendem a ter o desfecho em 2024 ou 2025.
“O ponto crucial para muitas operações serem adiadas foi o fraco crescimento da demanda por energia associado a um cenário com chuvas abundantes, que encheram os reservatórios das hidrelétricas; sobreoferta causada pela massiva entrada de usinas eólicas e solares; falta de reservatórios para hidrelétricas, que desperdiçaram água; restrição para exportação de energia excedente a países vizinhos; e crescimento da geração distribuída. A equação completa levou a preços muito mais baixos em relação aos níveis de quando os vendedores colocaram o processo de venda na rua.”
A rigor, por preços “baixos”, leiam-se, os custos de geração das fontes eólicas e solares, que são favorecidos por generosos subsídios e poucos problemas com as autoridades ambientais, em relação às fontes “clássicas” da geração de base – hidrelétricas, termelétricas e nucleares –, apesar dos seus sabidamente não poucos problemas socioambientais. Já para os consumidores finais, tanto comerciais como residenciais, as tarifas nacionais alinham-se entre as mais altas do mundo.
A grande ênfase na expansão das fontes eólicas e solares, que respondem por mais de 90% dos projetos propostos até 2029, se deve ao fato de serem de construção rápida, em torno de dois anos, menos de metade do necessário aos projetos que envolvem as fontes padrões da geração de base, o que proporciona um retorno financeiro bem mais rápido. Além disso, a experiência demonstra que a introdução de fontes intermitentes na geração de base tende a aumentar a insegurança das redes, os custos de geração – em função da necessidade de ampliação da geração de base como “backup” – e a ineficiência do sistema como um todo, com impactos negativos diretos sobre a economia em geral. O apagão que afetou quase todo o País no dia 15 de agosto proporcionou uma amostra das inconveniências de se agregarem fontes eólicas e solares na rede elétrica de base, que exige fontes não
intermitentes.
Sem mencionar o fato de que a introdução das eólicas e solares representa um virtual retrocesso tecnológico, devido à densidade energética bem menor de tais fontes, em relação às termelétricas e nucleares. Neste quesito estrito, a comparação com as hidrelétricas é mais favorável, mas apesar de estas ostentarem densidades energéticas menores que as eólicas e solares, compensam a desvantagem com a geração contínua e a capacidade de armazenar energia sob a forma de água em seus reservatórios – pelo menos, nas que não foram afetadas pela histeria ambientalista contra usinas com grandes reservatórios.
A propósito, é relevante observar a controvertida “transição energética’ adotada pela Alemanha, com a introdução maciça de fontes eólicas e solares na sua matriz elétrica. Entre 2000 e 2020, o país gastou mais de € 500 bilhões para duplicar a sua capacidade instalada de geração de eletricidade, a maior parte com tais fontes, ao mesmo tempo em que, por influência do Partido Verde, desativou usinas nucleares e termelétricas. Porém, a oferta de energia firme só aumentou em um terço, enquanto aumentavam as tarifas e a ineficiência do sistema elétrico, que passou a experimentar uma proporção inusitada de interrupções de fornecimento, obrigando a importação de eletricidade da França, República Checa e Dinamarca, para reforçar a geração de base. Situação que piorou ainda mais com a suspensão das importações de petróleo e gás natural da Rússia, com as sanções impostas a este país com a deflagração da guerra na Ucrânia. Resultado: as maiores tarifas da Europa e um sério ímpeto de desindustrialização da maior potência econômica continental.
A rigor, uma transição energética efetiva deve envolver fontes de maior densidade e eficiência energética, como as tecnologias nucleares mais avançadas, inclusive reatores de fissão modulares e o desenvolvimento da fusão nuclear, no qual empresas privadas e institutos de pesquisa estatais dos EUA, União Europeia, China, Rússia, Japão, Coreia do Sul e outros países têm investido. Lamentavelmente, o Brasil engatinha na modalidade.