
Por Wellington Calasans.
Longe de querer fazer um artigo “gorduroso” e com “charme de intelectual”, este texto tem a pretensão de propor o debate a partir de um tema que sempre me incomodou, desde a infância, e que ficou mais intrigante quando eu, ainda jovem, trabalhava em uma rádio e ouvia e cantava (mal e porcamente) as letras das músicas que de alguma forma expressavam aquilo que eu pensava.
O título deste texto é o recorte do refrão de uma música (“Guerra Santa”, letra completa no final) pop/rock que foi pouco tocada, qualidade duvidosa, mas que ainda é bastante adequada aos tempos de hoje. Isso porque dificilmente veremos alguma guerra em que a religião não seja uma das armas, mesmo quando todas as religiões dizem pregar a paz.
Considerando o atual confronto entre judeus e muçulmanos, especialmente fomentados por sionistas e neopentecostais, considero plausível afirmar que sempre há uma cultura religiosa que acaba por moldar os valores éticos, e estes valores sempre influenciam e/ou condicionam o nosso comportamento, padronizando o modo de vida coletivo com base na convergência dos indivíduos.
As pessoas conhecem muito pouco sobre as religiões e passam a ver o diferente como um inimigo. Com isso, é aberta a porta para o abandono do propósito pacifista das religiões e há um verdadeiro mergulho na alimentação de fantasmas, superstições e devaneios, decorrentes da interpretação distorcida dos preceitos religiosos.
No mundo globalizado, até as migrações que testemunhamos e presenciamos nos dias de hoje são pouco conhecidas. Apenas como exemplo atual, culpar muçulmanos pelo fluxo migratório rumo ao ocidente e ignorar que os seus países de origem foram e são massacrados e sabotados pelos ocidentais, não deixa de ser um exemplo de “Guerra Santa”, expressado através do medo.
Quando abandonados, os princípios essenciais das religiões acabam por fomentar o terrorismo em nome de Deus, e este terrorismo é praticado por qualquer religião. Além disso, a necessidade de expansão das religiões ativa as vertentes econômica e bélica, forma bolhas sectárias que vedam às pessoas o caminho da paz, alicerçado na aceitação e respeito ao outro.
O sectarismo religioso cega ao ponto de incutir na cabeça das pessoas a realidade inevitável de que há diferentes maneiras de ser, de viver e de estar. Averróis – que foi o maior nome da filosofia árabe, junto com Avicena – afirmava que “a ignorância leva ao medo, o medo conduz à raiva e a raiva leva à violência”. Esta é a espiral retroalimentada que acaba por cegar as pessoas, fazendo com que elas ignorem os próprios erros e passem a ver a reação do outro como o “marco zero” de um conflito.
Dito isso, a incapacidade de respeitar os diferentes promove a multiplicação de conflitos religiosos que estão sempre moldando a dialética paz x guerra no interior de cada indivíduo. Assim, é terrorismo um pastor de uma igreja evangélica profanar a imagem de uma Santa, assim como é terrorismo discriminar uma religião afrodescendente. Toda ação terrorista de cunho religioso terá como consequência uma reação alimentada pelo ódio.
As duas recentes décadas foram marcadas por uma propaganda chamada “guerra ao terror”, que na prática serviu apenas para criminalizar os povos muçulmanos. Esta arma ocidental de comunicação produziu guerras de religião, culturalmente apresentadas como um “conflito de civilizações”. Daí tentam sobrepor o seu conjunto de crenças e fantasmas como superiores ao do outro. A falsa dialética Civilização x Barbárie é apenas um exemplo.
Considerando que toda expansão religiosa é parte dos interesses econômicos, a acusação de “terrorista” vinculante à prática religiosa muçulmana visava pavimentar o caminho do ocidente à apropriação das riquezas dos países do Oriente Médio e Norte da África, predominantemente muçulmanos, através de guerras, invasões e pirataria.
Os atuais conflitos são encabeçados por fanáticos diversos. Eles abundam neste momento em que a queda de um modelo unipolar convida os povos à adoção do “multiculturalismo”, pois o mundo multipolar está muito próximo de se impor como a Nova Ordem Mundial. O problema está na “lavagem cerebral” feita de diversas maneiras, especialmente por sionistas e pastores evangélicos, nas pessoas mais simples e vulneráveis a este tipo de influência.
Há poucos anos tem sido notado o crescimento de um discurso de ódio, racista e de supremacia branca, dentro das comunidades protestantes evangélicas, bastante representadas nos EUA e no Brasil. Inclusive até mesmo na decisão eleitoral este tipo de discurso tem influenciado e, à direita e à esquerda, acabam por eleger representantes não mais por uma plataforma política coletiva, mas sim como quem elege o líder de uma bolha.
Alguns podem dizer que o ódio foi determinante para a eleição de Trump e de Bolsonaro, por exemplo. No entanto, quando uma “pessoa trans” ou LGBT(…) é eleita, isto também é consequência do ódio, pois é sectário. O ódio é o terrorismo e pode ser manifestado de diferentes maneiras. Então você se pergunta: e o que isso tem a ver com a “Guerra Santa”? A resposta? Tudo!
Até mesmo a negação da fé, da religião ou de parte dela são uma variedade de “Guerra Santa”. E assim, quando as pessoas se deparam com a impossibilidade de seguir rigorosamente os princípios de pacificação desta ou daquela religião, ou até mesmo um ateu passa a tentar agredir quem tem fé, estão formando os seus exércitos.
O extremismo protestante evangélico produz ódios diversos que acabam por alimentar os radicalismos e atos terroristas. Tudo isso decorre especialmente da interpretação distorcida da Bíblia. Assim como é terrorismo quando um muçulmano usa o Alcorão para justificar os seus atos.
É terrorismo querer retirar Jerusalém à Palestina. Esta eugenia no que chamo de “Campo de Concentração Bibi”, na Faixa de Gaza, é um projeto de ódio. Recentemente li um artigo que afirmava o seguinte:
“A sigla WASP, White, Anglo-Saxon and Protestant, (Branco, Anglo-Saxão e Protestante), cada vez mais popular nos EUA, defende a raça branca contra negros, hispânicos e judeus, fomenta o nacionalismo, combate a religião alheia, seja ela o catolicismo, o Islão ou outras. Chegam por isso a aproximar-se da extrema direita nazista, defendendo Hitler e o extermínio dos judeus. Com o discurso fácil de estarem a vingar a cristandade pelos atentados terroristas islâmicos, têm ganho cada vez mais simpatizantes em todo o mundo, que desconhecem a verdadeira dimensão da sua causa.”
Como trabalho com a comunicação, sempre tento trazer o debate para o meu “terreno seguro”. Por isso, sempre gosto de lembrar que os sionistas patrocinaram grande parte do regime nazista e se alimentam, desde o final da II Guerra Mundial, do espólio do sofrimento do povo judeu que estes mesmos sionistas ajudaram a matar. E os sionistas hoje são os principais proprietários dos bancos e dos veículos de abrangência internacional de comunicação. Logo, este ódio predominante decorre também da cultura do caos defendida e difundida por esta imprensa e pelo neoliberalismo.
Não há poesia ou nobreza nos kamikazes ou no “homem-bomba”, tudo é terrorismo. Não há diferença entre a eugenia nazista e a eugenia de Israel contra palestinos, tudo é terrorismo. Não existe “judaico-cristão”, esta associação forjada na distorção bíblica aliena e transforma os incautos em zumbis terroristas ou terroristas zumbis.
Quando Israel ainda sequer existia, os judeus viviam praticamente na mesma posição que os ciganos. Segundo os judeus ortodoxos, a ideia defendida hoje de que “esta terra era nossa desde quando Deus nos deu” é uma invenção sionista. Inclusive, os judeus ortodoxos fazem eco ao discurso dos palestinos e dizem a plenos pulmões que “até a sua própria Bíblia diz que vocês não têm uma pátria”.
Como podemos ver, estamos prestes a mergulhar perigosamente na hecatombe da Terceira Guerra Mundial por causa de fanáticos e oportunistas. Para piorar, apegado ao modelo unipolar em que reinou sozinho, os EUA flertam com a guerra nuclear, simplesmente por não querer aceitar que existem outros atores globais.
Os EUA tomarem partido de uma “Guerra Santa” já seria uma loucura incompatível com as liberdades, mas quando vemos os países europeus mergulharem nesta piscina vazia, vemos que a situação pode (e vai) ficar muito pior. Ateus ou fanáticos protestantes, católicos ou judeus, todos precisam contar até dez, respirar, reduzir a agressividade e agir como seres racionais.
O Governo dos EUA, assim como faz na Ucrânia, promete entrar numa disputa regional e transformá-la na Terceira Guerra Mundial, numa escalada nuclear com impacto desastroso em todo o mundo. Além disso, envolver-se só pode empobrecer os norte-americanos e ampliar o leque de inimigos.
A invasão brutal de Israel em Gaza, que contém mais de dois milhões de palestinos, irá agravar o conflito. Os brutais ataques do Hamas no dia 7 em Israel não são uma licença para Bibi Netanyahu matar crianças, mulheres e idosos. Está na hora de parar esta disputa insana.
Não podemos ser hipócritas em relação ao terrorismo e a relação dele com o fanatismo religioso. Bombardear cidades, ignorando a presença de civis, é apenas terrorismo de Estado, disfarçado de “Guerra Santa”, justificado pela inacreditável senha de Hitler, a eugenia da superioridade de um “povo escolhido”.
Você que leu até aqui, não carregue este peso na sua consciência. Em algumas décadas – se ainda existirmos – as próximas gerações vão contar nos livros de história sobre povos que faziam guerra por acreditarem possuir uma superioridade divina. O verdadeiro inimigo é a ignorância! Oportunamente, a minha consultora Amanda Rabusky me lembrou que “o vulcão já foi um Deus apenas porque não era explicado”. Certamente quem não foi atingido deve ter dito com uma arrogante ignorância: “eles não acreditavam no nosso Deus”.
Guerra Santa
Aníbal
Sobre os escombros
Beirute continua rezando seus mortos
E no momento, procuro achar as causas
Dessa confusão
Mas só vejo o que é permitido
Sou mero figurante, fanático por Deus
Capaz de matar por Deus
Não me julguem, não me culpem
Sou apenas um retrato do meu passado
Com fome, assustado, cheio de ódio
Guerra santa, oração maldita
Tola ilusão assassina
Guerra santa, oração maldita
Tola ilusão assassina
Guerra santa, santa
Sobre os escombros de Beirute
Há crianças como eu
De armas em punhos
Lutando por suas religiões
Matando a qualquer um
Que não ame o seu Deus
Por Deus
Não os julguem, não os culpem
São pobres inocentes usados por alguém
Com fome, assustados, cheios de ódio, ódio
Guerra santa, oração maldita
Tola ilusão assassina
Guerra santa, oração maldita
Tola ilusão assassina
Guerra santa, oração maldita
Tola ilusão assassina
Guerra santa, oração maldita
Tola ilusão assassina
Guerra santa, santa
Guerra santa, santa