
Por Wellington Calasans
A economia é parte indispensável na manutenção de um império. Historicamente, todo império que teve que gastar menos com o bem-estar e desenvolvimento econômico e mais com a própria segurança para se manter, mergulhou no declínio.
É este o cenário dos EUA. O Pentágono se revelou – graças à derrota da OTAN na Ucrânia – o maior centro de corrupção do planeta. Não é uma indústria das armas que é alimentada com trilhões de dólares do contribuinte norte-americano, mas a indústria da corrupção que ainda hoje usa o medo dos cidadãos para uma extorsão perversa, ao estilo “ou dá, ou desce!”.
Sobre o declínio econômico dos EUA
Forças econômicas elementares – demasiada oferta e pouca procura – colidiram para criar a pior situação para as obrigações do governo dos EUA desde a Guerra Civil. O governo continua a contrair empréstimos para cobrir os seus déficits orçamentais, enquanto os compradores dessa dívida, outrora confiáveis, tanto internos como externos, recuaram.
O resultado: os investidores estão a exigir os rendimentos mais elevados desde 2007. Os leilões de novas obrigações que antes eram rotineiros estão agora a correr terrivelmente. E as carteiras de títulos estão ficando absolutamente prejudicadas. Os títulos do Tesouro com prazos mais longos estão num mercado em baixa, pior do que o colapso das empresas pontocom e quase tão mau como o de 2008.
Calma! Ainda não acabou!
No passado, os EUA contavam sempre com a China, o Japão e outros compradores estrangeiros para manter a festa, mas agora eles não estão muito interessados nos títulos…
A China e o Japão, outrora compradores fiáveis de obrigações do Tesouro, têm-nas vendido para sustentar as suas moedas enfraquecidas. Há uma década, detinham mais de 22% dos títulos do governo dos EUA; hoje, 7%. A guerra na Ucrânia diminuiu a procura entre os compradores da Europa do Leste. O aumento da produção petrolífera dos EUA significa que menos petrodólares no Médio Oriente serão reinvestidos através do mercado do Tesouro. Os bancos dos EUA também estão recuando.
A dívida pública dos EUA
Graças à mudança dramática nas taxas de juro que temos testemunhado, os bancos estão sentados em centenas de milhares de milhões de dólares em perdas não realizadas.
Então, quem vai comprar a dívida dos EUA em 2024 e além?
Durante o ano passado, o governo federal dos EUA pediu tanto dinheiro emprestado que teve de gastar um quinto de todo o dinheiro que arrecadou, apenas em juros da dívida – que ascenderam a quase 880 bilhões de dólares.
Os norte-americanos pagaram cerca de 450 bilhões de dólares a menos em impostos sobre o rendimento durante o ano, prendendo o governo nas pinças de uma crise fiscal.
O país oscila à beira de uma espiral de dívida que pode evoluir para uma crise fiscal ou hiperinflação, afirmam vários economistas.
O problema é grave porque, de qualquer forma, os contribuintes pagam juros sobre a montanha de dívida acumulada. Resumindo, eles estão pagando algo por nada.
Pitadas de realidade (sem vaselina)
“Os líderes dos EUA tentaram durante muito tempo ultrapassar as leis básicas da economia e, durante algum tempo, voaram alto. Mas agora a realidade apanhou-os e todos os norte-americanos vão pagar um preço muito amargo por esses crimes.”
“Se você fizer as coisas da maneira certa, no longo prazo obterá resultados positivos. Mas se você fizer as coisas da maneira errada, no longo prazo obterá resultados negativos.”
“Os nossos bancos são o coração de toda a economia dos EUA e há muito tempo que fazem as coisas da maneira errada. Como resultado, todo o sistema está sendo bastante abalado.”
“Os empréstimos estão começando a ficar inadimplentes a um ritmo assustador, temos visto intermináveis ’falhas bancárias’ nos últimos meses, dezenas de milhares de funcionários bancários já foram despedidos e os bancos dos EUA estão sentados sobre centenas de milhares de milhões de dólares de perdas não realizadas.”
“… muito mais caos está a caminho. À medida que os bancos pequenos e médios falirem, serão engolidos pelos grandes. É claro que os grandes também estão lutando para sobreviver. Na verdade, está sendo relatado que o JPMorgan Chase fechará um total de 159 filiais locais até o final deste ano civil…”
Nota deste observador distante
Aqueles que afirmavam que a economia da Rússia quebraria, certamente, ignoraram a existência de uma desconexão entre as economias real e financeira/especulativa. Esta desconexão provocou nos países da OTAN (e países satélites) a má alocação de capital em ativos financeiros e bolhas de ativos.
Enquanto China, Rússia, Irã e Países Árabes, por exemplo, investiram na indústria e commodities, os EUA (e países satélites) apostaram tudo no mercado especulativo, inclusive usando o Sistema SWIFT como arma de guerra. Um erro que acelerou a desdolarização e a compra de petróleo em outras moedas, matando o último fiapo de sobrevida do dólar como moeda segura, o petrodólar.
Além da corrupção, a má alocação de capital dos EUA, longe dos inovadores e das empresas de elevado crescimento, ao mesmo tempo que usava o Swift como arma, acabaram por inviabilizar o crescimento econômico e isso aumentou ainda mais os riscos que culminam com esta crise que agora aflora.
“Estudos recentes mostram que a incerteza política tem efeitos contracionistas sobre o investimento real. (…) quando as atividades especulativas e de financiamento Ponzi dominarem a economia, um sistema financeiro instável emergirá após períodos de prosperidade prolongada, resultando num sistema econômico ‘amplificador de desvios’.”
A crise de lideranças políticas e a PEO – Privatização dos Estados Ocidentais (inventei esta sigla agora para parecer teórico) acabaram por destruir as soberanias (nacional e popular) dos países que se dizem democráticos, mas que são governados através do revezamento de iguais, legitimados nas urnas por cidadãos acomodados e alienados políticos.
Somente as nações com líderes fortes sobreviverão à nova crise econômico-financeira que está iniciando. Quanto aos “civilizados”, as consequências serão dramáticas para os povos destes países, sobretudo por estarem amparados por um guarda-chuva furado (EUA).
Parabéns pelo artigo! Ao qual não se ver por aí. Trisme mesmo são as pessoas que dizem que o império não vai cair, porque é o império. Esse é o argumento de queda de todos os impérios. Obrigado Welington pela lucidez.