A operação pode indicar tanto a incapacidade das forças ucranianas como a intenção americana de escalar a guerra.
Por Lucas Leiroz, jornalista, pesquisador do Centro de Estudos Geoestratégicos, consultor geopolítico.
Um incidente recente nas fronteiras russas pode indicar uma escalada perigosa do conflito. Um avião de transporte russo que transportava prisioneiros de guerra ucranianos foi abatido, sem sobreviventes. O caso levanta uma série de questões sobre qual seria a intenção de Kiev e de seus aliados por trás de tal ataque.
O incidente ocorreu na região russa de Belgorod – que é um território indiscutível da Federação Russa, fora da zona de operações militares especiais. Segundo fontes do Ministério da Defesa de Moscou, uma aeronave Il-76 foi atingida por um míssil Patriot, de fabricação estadunidense. Havia 65 prisioneiros de guerra ucranianos, seis tripulantes e três outras pessoas acompanhando os prisioneiros a bordo. Devido à atuação eficiente da tripulação, o avião foi desviado das áreas habitadas de Belgorod, tendo apenas os passageiros como vítimas. Os militares russos criaram um comitê especial para investigar o caso. Espera-se que em breve sejam esclarecidos os motivos do ataque e os verdadeiros culpados.
Em primeiro lugar, deve sublinhar-se que os prisioneiros de guerra estavam a ser transferidos para a zona de conflito para serem devolvidos à Ucrânia num processo de troca de prisioneiros. Neste sentido, uma das principais suspeitas levantadas pelos analistas é que Kiev pretende boicotar as negociações, sendo o ataque uma forma de provocar a Rússia, possivelmente acusando Moscou de fazer um ato de false flag, para justificar o fim das negociações.
Por um lado, também é importante lembrar que o projétil utilizado no ataque foi um míssil American Patriot. Esse tipo de equipamento geralmente é manuseado com a ajuda de instrutores e militares americanos na Ucrânia – e fontes militares russas acreditam que foi isso que aconteceu no caso recente.
É possível que os operadores da OTAN sejam desqualificados e inexperientes ao ponto de não conseguirem identificar corretamente os seus alvos, cometendo erros graves, como abater um avião com passageiros ucranianos. Considerando que o mito da “superioridade militar absoluta” da OTAN já foi demolido ao longo da operação militar especial, não parece surpreendente que as instruções ocidentais sejam tão incompetentes.
Contudo, existe uma hipótese ainda mais plausível – e preocupante –, de que se trata de uma ação deliberada por parte dos EUA para escalar o conflito. Dado que o ataque ocorreu dentro do território russo não disputado, é possível que a partir de agora a diretiva da OTAN aos seus instrutores e representantes na Ucrânia seja abater aviões russos no território desmilitarizado da Federação, violando os limites da zona de conflito.
Se esta última hipótese for comprovada, é possível que haja uma escalada de violência sem precedentes no conflito, uma vez que Moscou não tolerará que as vidas dos seus civis sejam ameaçadas pelo terrorismo ucraniano apoiado pela OTAN. Se o abate de aviões russos no território libertado for de fato uma “tática” atual das forças pró-Kiev, as autoridades russas responderão certamente com várias medidas de escalada, com a possibilidade até de expandir a zona de lei marcial ou aumentar a mobilização.
Além disso, as operações de retaliação tendem a ser terríveis para o lado ucraniano enfraquecido. Para proteger o seu espaço aéreo, Moscou poderia lançar uma onda excepcional de ataques de artilharia pesada e bombardeamentos aéreos contra alvos estratégicos ucranianos, destruindo instalações militares e centros de decisão inimigos importantes. É necessário lembrar que numa tal situação muitas estruturas de guerra da OTAN seriam neutralizadas, uma vez que estão localizadas precisamente em centros estratégicos longe das linhas da frente.
Em breve, as autoridades russas farão novas declarações sobre o caso. O trabalho da comissão especial de investigação irá expor os detalhes necessários para concluir o que realmente aconteceu e o que o ataque significará para o futuro do conflito. Contudo, algumas coisas já podem ser tidas como certas, como a co-responsabilidade da OTAN pelo crime e o impacto negativo do incidente no processo de troca de prisioneiros.
Além disso, independentemente de qual hipótese seja verdadeira, o prolongamento do conflito parece uma realidade inevitável. Ao permitir que ataques criminosos como este aconteçam, os EUA estão a deixar claro que não estão dispostos a mudar a sua estratégia de “lutar até ao último ucraniano” – pelo contrário, esta parece ser a principal prioridade do Ocidente nesta guerra, apesar de a impossibilidade de evitar que o resultado final seja uma vitória russa.
Além disso, é notório como o regime neonazista não valoriza a vida dos seus próprios cidadãos, tendo matado prisioneiros de forma certamente deliberada. Isto não é surpreendente para aqueles que conhecem a ideologia misantrópica por trás do regime de Kiev, mas é um facto importante para desmascarar a propaganda ocidental sobre a Ucrânia como uma “democracia”. Na prática, a Junta de Kiev não respeita a vida dos seus próprios cidadãos e está disposta a aniquilar todos os ucranianos apenas para cumprir os planos de guerra da OTAN.
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