Por Lorenzo Carrasco.
Em recente artigo publicado na influente revista do Conselho de Relações Exteriores de Nova York (CFR), “Foreign Affairs”, o senador Bernie Sanders, um ex-democrata atualmente independente, fez uma forte crítica aos gastos militares crescentes dos EUA, engajados em guerras permanentes desde o fim da Guerra Fria. Para ele, tais guerras têm servido apenas para beneficiar o complexo industrial-militar estadunidense, cujos produtos se tornam cada vez mais caros. Como exemplo, citou os mísseis antiaéreos portáteis Stinger, cujo preço aumentou sete vezes desde 1991.
De fato, sem o contraponto da extinta União Soviética, os EUA decretaram uma “Nova Ordem Mundial” e saíram mundo afora promovendo a “democracia”, levando a reboque as potências submissas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), formando o que pode ser chamado o “Clube das Bombas”. O Iraque (duas vezes), Iugoslávia, Afeganistão, Líbia, Síria, Somália, Iêmen (por procuração à Arábia Saudita) e outros, foram os países em que o “Clube” manifestou o seu empenho na defesa dos valores civilizatórios.
Mas a agenda do “Clube das Bombas” está esgotada, tendo sido colocada em xeque pelas intervenções da Rússia na Síria, em 2015, e depois, na Ucrânia. Ali, as forças armadas russas, apesar de disporem de uma fração ínfima do orçamento militar combinado do “Clube” e das “sanções do inferno” (apud Joe Biden) impostas a Moscou, têm demonstrado uma vasta superioridade estratégica, tática e tecnológica sobre as forças ucranianas armadas até os dentes pelos EUA e a OTAN, à custa do esvaziamento dos seus próprios arsenais.
Apesar de o faturamento do complexo industrial-militar ter sido altíssimo, como têm se jactado altos funcionários do governo Biden, e de ainda estarem salivando pela possibilidade de um novo pacote de “ajuda” de US$ 61 bilhões à Ucrânia, parece evidente que a festa está perto do fim.
Em entrevista ao sítio Sputnik News, o ex-assessor do Pentágono Michael Maloof sintetizou o dilema da capital do “Clube”: “Nós somos o país mais rico do mundo, não há dúvida sobre isso. Mas nós temos aplicado [a nossa riqueza], primariamente, nas forças militares, em vez de ajudar outros países de forma construtiva. E estamos vendo, por exemplo, que a China, com a sua Iniciativa Cinturão e Rota, está tentando fazer isso. Sim, ela tem problemas, mas está construindo infraestrutura, não destruindo, como temos feito no Oriente Médio e na Ásia Central, todos esses anos.”
Simples, não?