Por Raphael Machado.
O que vemos no Brasil contemporâneo não é nenhuma disputa entre “democracia” e “extrema-direita”, tampouco “instituições brasileiras” contra “Big Techs multinacionais”, mas tão somente uma disputa entre elites autointeressadas, todas elas mais ou menos alinhadas em conformidade com os valores liberais, mas com enfoques e projetos razoavelmente distintos.
As tentativas de mobilizar militantes para um lado ou para o outro com apelos fajutos à “defesa do Brasil”, “defesa da democracia” ou então à “defesa da liberdade” são risíveis e capturam apenas os trouxas.
O Estado, em um sentido tradicional, é algo que já se dissolveu no Brasil e foi substituído pelo mero monopólio da força exercido para a garantia da autoperpetuação da elite hegemônica. A elite cessante e reivindicatória, por sua vez, já demonstrou em seu período no poder que ela não tem nada a oferecer de diferente da atual elite.
Quanto ao X em si, a questão não envolve “violação de leis” pela “Big Tech”, porque simplesmente não estamos em uma era de normalidade jurídico-institucional em nosso país. Trata-se aí de puro choque entre vontades e decisões, com o verniz formalista do Direito servindo apenas como discurso legitimador da vontade pura.
Musk, naturalmente, não é nenhum “cruzado da liberdade”, tão somente um empresário excêntrico para o qual a singularidade do X como plataforma (mais ou menos) livre representa um diferencial significativo em comparação com o Meta, mais plenamente alinhado à CIA.
Não obstante, recordemos que na Questão Palestina, Musk se curvou de forma total e absoluta ao sionismo, reduzindo o alcance e, em alguns casos, até mesmo censurando totalmente contas pró-palestinas. Dinheiro não é poder.
De uma perspectiva puramente pragmática, tratando-se aí de mero choque de vontades entre elites autointeressadas, sem qualquer elemento que passe por “Constituição”, “leis”, “Brasil”, ou qualquer lero-lero do tipo, é melhor o espaço de uma ágora virtual parcialmente insubmissa no contexto de uma hegemonia globalista que, por meio dela, pode ser em alguma medida questionado e desafiado.