
Donald Trump foi condenado nesta semana, por uma corte em Nova York, por fraude contábil, no escândalo envolvendo pagamentos a uma atriz pornô com quem ele teria tido um relacionamento. A condenação, por si só, não o tiraria da corrida presidencial deste ano, a não ser que ele venha a ser preso por isto, mas, com certeza, contribui para a imagem de “antissistema” que vem criando para si desde a campanha presidencial em 2016: Trump, o “inimigo do sistema”, a “voz do cidadão comum” contra o politicamente correto apoiado e financiado pelas elites econômicas e políticas dos EUA.
Comentando a decisão judicial, em rápido pronunciamento à imprensa após o veredito, acusou o julgamento de ser meramente político e uma “vergonha para o país”.
Em paralelo, vem surgindo dentro das hostes do Partido Republicano um pensamento social e econômico que vem se contrapor à doutrina oficial da agremiação desde o final dos anos 1970 e da Era Reagan (1981-1989), o neoliberalismo, que se tornou desde então hegemônico, primeiro nos EUA no Reino Unido – sob a batuta de Margareth Thatcher – e depois para o resto do Ocidente. A doutrina neoliberal consagrada prega abertura do comércio e de movimento de capitais, corte de impostos aos mais ricos (o chamado supply side economics), diminuição do Estado na economia por meio de privatizações etc. Em movimento contrário, esses novos grupos advogam pelo aumento do protecionismo e participação estatal na economia para privilegiar as empresas americanas, desde que elas não contratem imigrantes ilegais.
Esquerda do trabalho – direita dos valores
Se Trump se elegeu em 2016 como um azarão dentro do Partido Republicano, derrotando nas primárias figurões como Jeb Bush (irmão de George W.), faltou a ele uma plataforma de governo coerente em seu primeiro mandato, findo em meio à pandemia. Essa plataforma seria embasada em um sólido arcabouço ideológico, justamente o que se propõe agora, quando Trump sagra-se o candidato dos Republicanos para o pleito presidencial de novembro.
O principal grupo é o American Compass, uma think tank que tenta recuperar o populismo econômico por meio de uma série de medidas, dentre elas:
- Impor uma tarifa global de 10% sobre todas as importações.
- Impedir que empresas americanas invistam na China.
- Bloquear o acesso das empresas chinesas aos mercados de capital dos EUA.
- Impor penalidades severas para os funcionários que não cumprirem as leis de imigração.
- Eliminar os programas de atração de imigrantes para trabalhadores sazonais e agrícolas.
- Conceder vistos de imigrantes aos empregadores que pagam mais.
- Criar um Banco Nacional de Desenvolvimento de US$ 100 bilhões para infraestrutura básica.
- Revogar a Lei de Política Ambiental Nacional de 1970.
- Reformar a falência corporativa para exigir seis meses de indenização para todos os funcionários e um ano de responsabilidade fiscal para as comunidades locais.
- Exigir que as empresas privadas contratadas por fundos de pensão públicos publiquem dados anuais de desempenho.
- Impor um imposto sobre transações financeiras de 10 pontos-base sobre as vendas de ações, títulos e derivativos no mercado secundário.
- Proibir a recompra de ações e eliminar a dedutibilidade fiscal dos juros.
A American Compass é dirigida por Oren Cass, um ex-assessor econômico de Mitt Romney, candidato republicano nas eleições de 2012, derrotado na reeleição de Barack Obama. Segundo Cass, foi o próprio Romney que o fez começar a duvidar do pensamento neoliberal hegemônico dentro do Partido Republicano, quando lhe pediu para criar propostas de política comercial dos EUA para seu mandato. O então candidato teria lhe dito que uma política de livre comércio dos EUA, em linhas gerais, só ajudaria a China, em detrimento dos interesses estadunidenses. A partir daí, Cass foi se distanciando dessa linha, se tornando cada vez mais entusiasta do protecionismo.
Para ele, os republicanos precisam se concentrar, ao invés da defesa do livre-comércio, na recuperação da capacidade produtiva e da geração de valor; na produção real, ao invés da inflação de ativos comercializáveis nas bolsas de valores. Nesse sentido, defende que sejam criadas políticas de estímulo à retomada industrial nos EUA. Mesmo com a criação de um banco público de desenvolvimento, nos moldes do nosso BNDES, tão criticado pelos neoliberais brasileiros – especialmente quando não se direciona para financiar privatização de empresas estatais.
Um outro estrategista desse redirecionamento ideológico é o cientista político Sohrab Ahmari, um iraniano naturalizado estadunidense e convertido ao catolicismo. Para este ex-redator do “Wall Street Journal” (também de viés republicano), o objetivo dessa economia neopopulista é reverter o esvaziamento da classe média, dando conforto a eleitores da base republicana que são conservadores nas questões de costumes, mas ansiosos por mais estabilidade social em suas vidas.


Esses eleitores, segundo ele, acreditam nos papéis tradicionais de gênero masculino e feminino, mas também abraçam os ganhos econômicos do New Deal. Eles apoiam a Previdência Social e os sindicatos – principalmente aqueles aos quais eles próprios pertencem. Eles querem uma base financeira estável para suas vidas, que não está disponível em uma economia baseada no setor de serviços.
O fator China
Se quisermos entender como neoliberalismo se firmou no Partido Republicano e por que hoje ele é lá questionado é preciso compreender como o fator China entra no esquema.
No início da década de 1970, os Estados Unidos se viram em um dilema na sua política econômica. O gasto público crescia com os custos da Guerra do Vietnã e dos programas sociais da década passada, quando vigoravam os acordos de Bretton Woods de conversão do dólar ao ouro. Em resposta à pressão dos demais sobre o dólar, o governo Nixon desvinculou o dólar do ouro, permitindo ao FED a maior oferta de dólares no mercado mundial – oferta essa que terminou por resultar em crédito no mercado exterior e aumento da especulação financeira, mesmo com déficits comerciais nos EUA.
Em paralelo a isso, Nixon, junto com Kissinger, foi o arquiteto da política de aproximação com a China comunista, o que permitiu, um pouco depois, que esta realizasse uma série de reformas em sua economia socialista planificada, que permitissem investimento estrangeiro e abertura comercial para o mercado americano em um período posterior, a partir de 1978, com as Reformas de Deng Xiaoping. Mesmo caindo em desgraça após o escândalo Watergate, que contribuiu para sua renúncia em 1974, Nixon soube explorar a rivalidade sinossoviética dos anos 1960 para tornar a República Popular da China em aliada, atrelando o crescimento da China ao consumo dos EUA.
Foi justamente o surgimento de “mercados emergentes” como a China e outros países asiáticos que contribuíram para o sucesso da política econômica de Reagan – o presidente republicano após Nixon-Ford – apesar do choque dos juros do então presidente do FED Paul Volcker na virada dos anos 1970-80, pois importações dos “emergentes” contribuíam para desaceleração do processo inflacionário e para a estagnação dos salários no mercado interno dos EUA. As políticas de cortes de benefícios sociais, enfraquecimento dos sindicatos e cortes nos impostos sobre a renda dos mais ricos contribuíram para o aumento da desigualdade, mas criou-se uma ilusão de prosperidade na sociedade estadunidense, às custas de um imenso déficit comercial dos EUA coma China. Ilusão essa que só começou a ruir com a Crise de 2008.
Diferentemente da década de 1970, hoje a sociedade dos EUA se vê afligida por uma série de problemas que não enfrentava na época. A partir do governo Clinton (1993-2001), o Partido Democrata adotou a mesma doutrina reagnista dos republicanos, com pequena variação, pois Clinton desregulou ainda mais o mercado financeiro nos EUA, contribuindo para a formação cada vez maior de bolhas especulativas. Assim, os democratas, ao invés de se colocarem como críticos das políticas neoliberais, dentro da tradição fundada no New Deal de Franklin Roosevelt, adotaram essa agenda, mas com um viés em políticas identitárias para mitigar os efeitos da desigualdade em minorias.
É bem verdade que com a Crise de 2008, o apoio ao protecionismo econômico vem aumentando gradativamente. Barack Obama lançou a política do “Buy America” e Trump colocou o protecionismo como agenda prioritária. A questão volta para a relação com a China, não mais um país miserável dos anos 1970, mas agora um colosso econômico cuja o PIB em paridade-poder de compra rivaliza hoje com o dos EUA.
A rivalidade com a China perpassa os dois lados do espectro político nos EUA. Há um consenso de que o gigante asiático é um adversário, sendo o que varia é qual estratégia de contenção e confrontação a ser utilizada. Com republicanos ou democratas nos próximos quatro anos as tarifas para os produtos chineses aumentarão, acompanhadas provavelmente de mais sanções quanto à aquisição de ativos nos EUA e de tecnologias sensíveis.
Reforçando a tradição protecionista dos EUA
A plataforma política desse neopopulismo se direciona às bases do Partido Republicano, os chamados “Estados vermelhos” (red states, a base eleitoral dos Republicanos), a grande vastidão de terra entre as costas leste e oeste, a chamada “América profunda”. São os eleitores muito frequentemente endividados, com rendas estagnadas e mal conseguindo conquistar a casa própria e ter aquilo que se consolidou no século 20 de que era acessível a qualquer trabalhador esforçado (casa, carro, sustento da família etc.). Some-se a isso uma epidemia de consumo de drogas e a imigração desenfreada, que corresponde a mais uma pressão no mercado de trabalho saturado.
Esses mesmos eleitores são os mais reativos à agenda woke e as medidas de ESG, adotadas pelas elites cosmopolitas e, em parte, pelas populações dos grandes centros.
Para os que possam se espantar com o pedido de intervenção estatal na economia vindo de republicanos, não custa lembrar que isso encontra esteio não só na tradição protecionista que remonta aos “pais fundadores” (founding fathers) da república americana, como o fomento estatal nunca deixou de ser uma política industrial, que contribuiu para a formação do imenso complexo industrial militar estadunidense. Mesmo que este encontre um sério concorrente na indústria de defesa russa – também na chinesa, que luta para fazer o catch up.
Caso essas ideias de renovação do pensamento econômico no conservadorismo americano alcancem o centro do debate, como parece ser a tendência, seria interessante ver como ela seria lida pela direita bolsonarista no Brasil, fiel ao trumpismo, apesar dos quatro anos de neoliberalismo comandado por Paulo Guedes, mas com roupagem verde-amarela, que marcou a presidência de Jair Bolsonaro.

Apenas conversa fiada.
A ideia que eles estão vendendo é a de “voltar para a Era de Ouro”, a famosa década de 1950, onde os Estados Unidos realmente “produziam”.
A questão é que o dinheiro saiu da produção (mundo real) e foi para o mundo de fantasia (capital improdutivo).
Os neocons (espinha dorsal do partido republicano, nesse momento) são seres abjetos, todos eles são escravos dos sionistas (especialmente de quem controla o sistema financeiro).
Basicamente eles “gostam de reclamar da lacração”, mas não tem coragem de enfrentar a Black Rock (empresa que criou a lacração, Sistema ESG).
Na “nova direita” não tem conservadores e sim COVARDES (falam, falam, falam… mas nunca fazem nada).
Aqui no Brasil “onde a Globo Lixo chegava aumentava a taxa de divórcios”. Quando foi que os conservadores (aqueles que supostamente defendem a família tradicional) enfrentaram a Globo Lixo? Nunca.
Os militares brasileiros “além de não saberem NADA sobre guerra cultural ou Guerra de Quarta Geração” sempre tiveram “temor reverencial” pela Globo Lixo.