É inegável que, no segundo governo Lula e no primeiro governo Dilma (quando a taxa de desemprego foi de 4,88%, maior que com Sarney), o Brasil viveu de longe o seu melhor momento nos últimos 30 anos. Contudo, essa recente era de ouro foi menos dourada que o governo Sarney, a essência da década que é unanimemente considerada “perdida”.
Se a década de 1980 foi perdida, o que dizer então da década de 2000 e, principalmente, de 2015 para cá? Não é pelo Sarney ter sido “bom presidente”, “olhado para o povo” nem nada disso. Lula e Dilma foram bem melhores nesses quesitos. Simplesmente, com Sarney ainda havia a estrutura produtiva e de proteção ao trabalho construída de 1930 a 1980. Depois da Grande Pilhagem neoliberal dos anos 90, deixou de haver e não mais se resgatou estruturalmente.
O Brasil da Nova República mudou, e mudou para pior. Esse declínio está diretamente relacionado ao processo de “des-desenvolvimento” e de abandono da legislação trabalhista criada por Getúlio e ampliada por João Goulart e pelos militares. O Brasil não só ficou mais pobre, como ficou menor e perdeu estrutura física, o que se atesta pelo fato de que, com Lula de 2006 a 2010, a utilização de capacidade foi maior que com Sarney de 1985 a 1989, mesmo com o desemprego em Lula sendo maior que com Sarney.
Com a Lava-Jato, a retomada da privataria e a destruição deliberada de setores industriais inteiros, então, o Brasil ficou muito mais raquítico.
Conclusão: ou o Brasil retoma, nas condições do século XXI, os princípios da Era Vargas – desenvolvimento físico (industrial, tecnológico, serviços públicos) e criação de empregos formais com distribuição de riquezas via legislação trabalhista avançada – ou simplesmente se tornará, mais ainda, mera reserva de recursos naturais para o Leste Asiático e o Atlântico Norte.
Nesse novo Brasil, não haverá nenhuma classe média, e uma oligarquia importadora e financeira cada vez menor e mais rica terá sua contraparte em uma massa servil e miserável de outra, sem nenhuma propriedade, sem nenhuma seguridade, e mantida achatada no limiar de subsistência por uma renda básica universal apoiada pelo Banco Mundial e pelo FMI.
O pior de tudo é que direita e esquerda cada vez mais consentem por esse novo Brasil. As disputas eleitorais tendem a se reduzir cada vez mais a quem paga uma renda/esmola básica um pouco maior e a quem abaixa as calças do País mais para os EUA ou mais para a China.
Há solução pois o Brasil é muito rico e muito grande. Mas quem poderá encaminhar essa solução? No cenário político atual, não vejo ninguém, francamente. Da dita extrema-direita à dita extrema-esquerda, o que há são 50 tons de Wall Street/Vale do Silício/Pequim.
A redenção do Brasil, se houver, será obra de forças políticas totalmente alheias e contraditórias a essas que estão aí. Uma nova Revolução de 30 é e será necessária.
Por Felipe Quintas