
A missa de sétimo dia dos manequins da Toulon ocorrida em 2013 era um anúncio para o que viria nos anos posteriores. Esse evento foi idealizado como um deboche a repercussão da manifestação ocorrida no Leblon contra o Sérgio Cabral que resultou na invasão da loja Toulon, roubo de roupas e de manequins sendo jogados na fogueira. Parte das pessoas da época que se identificavam com a esquerda bateu palmas para tais eventos, pois isso na época foi considerado o início da luta de classes entre os trabalhadores e empresários.
O que deixaram de lado foi o empresário da Toulon que ficou estarrecido com incidente, o governador da época estava cometendo arbitrariedades e por que logo ele, que não tem nada haver com história, tem que sofrer prejuízos graças aos atos terroristas praticados pelo grupo auto-intitulado de Anounymous ?

Esse episódio foi emblemático, pois a partir disso houve a ruptura entre o empresariado produtivo, que contrata milhares de funcionários e mantém a saúde econômica do país e a esquerda partidária e militante que atua nas capitais. O empresariado acabou vestindo a camisa de grife do Neoliberal, que vende o status de arrojado e moderno. E a Juventude foi fisgada pela “luta revolucionária” em defesas das liberdades individuais acima do interesse nacional, que servem de ferramenta de dominação de grandes grupos financeiros sobre as nações em desenvolvimento.
E estopim de todo o processo se deu por um ato de repúdio à violência policial no Complexo da Maré, durante uma operação do Bope, evento que foi amplamente divulgado pelos meios de comunicação. Talvez a ficha de que os moradores do Complexo se beneficiaram momentaneamente de tal operação não tenha caído. Eles não foram ao Leblon reclamar da ação policial. Ou a outra ficha que não caiu é a de que os empresários começaram a sentir asco da dita esquerda; ou a ficha de que causar esse tipo de deboche durante a Jornada Mundial da Juventude serviu apenas para queimar os “progressistas” diante a ala conservadora, que inclui Católicos e Protestantes. Não sabemos dizer se essa chuva de fichas (ou meteoritos) chegou atingir os atores desse processo.
Refletimos a respeito de um tweet que viralizou faz algum tempo:
Brazilian Butterfly Effect quando você protesta pelo preço da passagem de ônibus e acaba provocando a ascensão de uma teocracia evangélica autoritária.
Como chegamos a esse ponto ? O que foi que aconteceu ?
Onde foi que nós erramos ?
Belas perguntas. Guarde-as com carinho, pois você vai precisar
Passaram-se 7 anos desde os eventos ocorridos no início do texto, onde grupos com diversos interesses entraram em rota de colisão, e isso serviu para dividir a sociedade brasileira num conflito pseudo-ideológico entre “fascistas” e “comunistas”. O Brasil está cansado dessa briga de torcidas, seria uma grande parcela da sociedade está percebendo que essa disputa serve apenas para ser usada nas campanhas eleitorais. Seria uma receita de sucesso de cada representante dos extremos, pois xingar o adversário é garantia de se eleger graças à sua base fiel. E o mais grave dessa dinâmica diversionista é que os atuais “Comunistas” não preenchem os requisitos para serem assim chamados e os atuais “Fascistas” tampouco estão próximos do fascismo, que tinha como princípio o “tudo no Estado, nada contra o Estado e nada fora do Estado”.
No final das contas todo mundo é Neoliberal
Estamos em 2020, o presidente eleito é Jair Messias Bolsonaro, há uma pandemia de coronavírus que derrubou a economia dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, e o episódio da vez é a esposa de um engenheiro que resolveu dar uma carteirada em cima de um fiscal da Vigilância Sanitária; por obra do acaso, isso ocorreu no Rio de Janeiro. O funcionário público em questão estava trabalhando em prol da sociedade durante o período crítico que estamos vivendo. Ele não está sendo pago para escutar isso:
“Cidadão, não, engenheiro civil, formado. Melhor do que você”
É o sinal dos tempos, é o individualismo no seu ápice. É o “cada um por si e Deus contra todos”, que “Deus tenha misericórdia dessa Nação”. “E daí ? Lamento, quer que eu faça o quê ?” “Eu não sou coveiro, está certo ?”
Deparamo-nos com esse panorama. Ninguém quer lidar com os deveres, mas todos sabem exigir os seus direitos. É o Brasil onde a classe média sofre de uma síndrome da família real portuguesa. Fugir das responsabilidades, culpar terceiros, tirar vantagem, se achar acima do demais por ter um diploma, defender o discurso meritocrático com pouca ou nenhuma qualificação, impor sua pauta achando que ela é a verdade absoluta. Sinto-lhe informar que todo mundo é Neoliberal, e vamos além: Você é Neoliberal e nem percebe !
Não é das coisas mais fáceis de encarar esse fato da realidade: O Neoliberalismo é uma Ideologia que transcende o aspecto econômico. Ela é uma ideologia hegemônica que toma conta de tudo, ao ponto de ter muito Esquerdista que se acha o Che Guevara mas é só um neoliberal com um verniz de preocupação social.
Muita gente da esquerda namastê não dá bom dia ao porteiro e isso virou uma constatação inclusive em fóruns de internet, mas ficou por isso mesmo, já que essa postura não irá mudar da noite para o dia. Acabam agindo de má fé quando defende um discurso que não coloca em prática, de quem gosta de vestir o estereótipo para ser o descolado na sua tribo. Tornam-se caricaturas, alvos fáceis para os seus opositores, são rotulados de “socialistas de iphone”. A ficha que não caiu é que a crítica não se deve aos seus pertences e sim pela hipocrisia de viverem de retórica. Pregam que são a “Revolução Brasileira”, defendendo valores que não são de interesse da população, vivendo em bolhas nas redes sociais, acreditando que vão destruir o sistema e acabar com “Farsa da Democracia Burguesa”.
Não vamos ficar restritos a esse espectro político, falaremos da outra ponta. Aquela que vestiu mesmo a camisa do Estado Mínimo, que acreditou que Argentina seria o paraíso na terra com a eleição do Macri, que dispara frases da Margaret Thatcher sem saber o contexto e que diz “não existe almoço grátis”, tendo que engolir calado os aumentos de impostos do atual ministro da economia, que é a referência do Neoliberalismo, que esta há dois anos dizendo “agora vai”, prometendo que “o Brasil vai decolar” (o seu vôo de galinha).
O grupo que levou o Bolsonaro ao poder nos dias de hoje pode ser considerado o mais pragmático dentro do cenário político, fazendo com que o capitão conseguisse reunir diversos setores heterogêneos da sociedade. Dentre eles podemos citar os empresários que foram entregues à mercê da propaganda Neoliberal, vendida como solução para todos seus problemas, os profissionais liberais que cobram preços tabelados pelos seus serviços, mas que, fora do expediente, defendem que as relações comerciais não devem ser reguladas, e também analistas da CVM que pregam a não regulamentação de vários segmentos do Mercado. Dizem que “imposto é roubo”, mas não contestam os juros dos bancos; que falam do “Estado ineficiente” enquanto o Estado brasileiro é INSUFICIENTE.
Esses são apenas alguns exemplos dos que, até o presente momento, mantêm-se firmes como uma militância aguerrida em defesa do presidente, uma vez que este se comprometeu a entregar as demandas exigidas por tais setores. São grupos de interesses difusos que se reuniram em torno de um candidato, mas que, ao analisarmos cada um em específico percebemos a ideologia neoliberal norteando as suas escolhas. É uma militância de ideologia tão enraigada que chegamos ao ponto de encontrá-los face a face em grupos de Whatsapp; robôs orgânicos defendendo o candidato em busca da realização dos seus objetivos a curto prazo. Por exemplo, o vendedor de agrotóxico como administrador do grupo bolsonarista que começou a lucrar horrores com as medidas aprovadas, os militares que se fingiam de civis para defender aposentadoria especial (que foi prometida, mas não entregue) ou os delegados que viraram políticos em torno do grupo do Bolsonaro e/ou foram remanejados para locais e funções que estão lhes rendendo melhores benefícios.
Todos estão defendendo os seus próprios interesses e pouco se lixando para o País. Este é o retrato da nossa sociedade. E pouca importa se você trocar o Bolsonaro pelo Amoedo, pois vão-se os candidatos e fica a militância. É o servidor público neoliberal que investe no Tesouro Direto e fica clamando em redes sociais – imposto é roubo. Ou são os militares que, em teoria seriam Nacionalistas, mas são americanófilos que cultuam o Rambo de torço nu e desejam ingressar numa missão para fora para ganhar mais, mesmo que não seja para defender o Brasil. E o motorista de Uber que se considera o “empreendedor”, entregando 25% dos rendimento de sua força de trabalho para uma empresa estrangeira, livre de impostos.
Não podemos esquecer que a formação dessa base bolsonarista se deve a esquerda lulpetista, que reivindica a posição de serem os marxistas que tiraram o Brasil da miséria, sendo que nunca antes na história deste país os bancos lucraram tanto. É a esquerda que os banqueiros gostam. Esse partido conseguiu o feito de ter deixado a taxa selic em 14,25% inviabilizando a atividade econômica e endividando a população, o que culminou na queda da sua última representante no poder. Só que tem um detalhe: a presidente Dilma caiu por ter traído o povo, aplicando a agenda política e econômica do candidato derrotado nas eleições de 2014.
E temos ainda o fato peculiar que Michel Temer assume presidente para executar o plano econômico chamado Pontes para o Futuro, que tem entre seus autores o economista Marcos Lisboa, aquele mesmo que foi Secretário de Políticas Econômicas no governo Lula e é nada mais nada menos do que o PATRÃO de Fernando Haddad na escola de especulação financeira chamada Insper. Sem dúvidas, seria ele, Marcos Lisboa, quem comandaria direta ou indiretamente a economia brasileira em um (im)possível governo Haddad, resumindo o Golpe em Movimento. Venderam a ideia de estarem lutando pela “democracia”, pela soberania do Brasil quando na verdade queriam apenas tomar o poder para manter o ciclo neoliberal com sua agenda anti-povo. É o socialismo de quem vive mais nos palácios do que nas ruas.
Isso não mudou com a posse do Bolsonaro. Em 2019, PT organizou manifestações contra as medidas a respeito da educação, com suas asseclas da CUT, UNE e MST, conseguiram frear a intervenção de Abraham Weintraub e seu redirecionamento nas universidades federais. “Acabem com o país, mas não mexam nas nossas boquinhas”. Na época isso foi propagado como uma grande derrota do governo bolsonaro frente a uma suposta oposição “combativa”. Não custa lembrar que quem retirou Weintraub do MEC foram os representantes do agronegócio em função das estultices do ministro semi-analfabeto em relação à China. Aliás, o problema desse “cidadão” sempre foi com a língua portuguesa, já que o inglês e o hebraico ele fala e escreve muito bem.
Resta-nos dizer o seguinte: não foi bem assim ! O PT e seus satélites não fizeram uma única grande manifestação contra a reforma da previdência, mesmo com ela sendo definida como pauta prioritária do Mercado Financeiro, o que garantirá a viabilidade do governo Bolsonaro junto aos seus financiadores nos próximos anos. E nem existia pandemia para se responsabilizar. Sem contar as várias medidas que foram aprovadas com ou sem apoio da população; medidas essas que no fim das contas privilegiam apenas meia dúzia especuladores. O que diremos então da venda da Embraer que foi concretizada no ano de 2019 (abortada no ano seguinte ?) ou da venda de ativos da Petrobras que foram vendidos JP Morgan, Itaú, Santander, Bank of America, Merril Lynch, Credit Suisse, Citibank e XP Investimentos. A BR Distribuidora, considerada o filé mignon da Petrobrás, agora está sendo gerida por essa quadrilha de bancos, essa esquerda lulo-petista não chegou defender que conglomerados financeiros sabem gerir melhor esses ativos, mas não foi a “Resistência” contra a venda das nossas empresas estatais.
No saldo geral, o ano de 2019 foi de grande prejuízo para Nação Brasileira. Enquanto o número de desempregados aumentou, as empresas quebraram, além das fugas de capitais e a fome voltou a assolar o país, “o maior partido de esquerda da América Latina” teve a brilhante a ideia de lançar o PTinder e desse jeito, seus partidários continuam se afastando ainda mais do povo quando questionados como PTinder vai gerar empregos e coloca comida na mesa do trabalhador, eles travam te chamam de fascista.
Chegamos à conclusão de que eles querem pautar o que julgam que seja o certo, ignorando as demandas do povão. Povão que, mesmo sem compreender os meandros da política, percebem por instinto o corporativismo partidário, o não deixa de ser mais um aspecto do Neoliberalismo nas terras tupiniquins. Graças à essa resistência (ou falta dela), nós brasileiros e brasileiras perdemos as nossas estatais e nossa aposentadoria, mas garantimos que não houve cortes no ensino superior a mando do Weintraub. Agora, coloquem na balança aquilo que o povão vai sentir mais falta – e me digam se é com esse projeto que pretendem voltar ao poder?
Neoliberalismo é um monstro de vários tentáculos, dogmático, que não poupa nem mesmo as religiões. Os casos mais aberrantes são das igrejas neo-pentecostais, que são reconhecidas pelos seus pastores vendendo sementes milagrosas, colchões, perfumes, óleos ungidos e DVDs, com os seus fiéis organizando esquemas pirâmides que seriam caso de polícia se isso aqui fosse um país sério. A comercialização da fé acaba se sobressaindo e não se discute o que é ensinado nessas igrejas, mas vemos os reflexos do que é pregado na postura dos seguidores que só faltam pisar no pescoço dos companheiros para conseguir uma promoção no ambiente do trabalho ou a ostentação dos bens materiais, ao ponto de colocar um adesivo no carro “foi Deus que me deu”. Consumismo no estado da arte, esse segmento não se da conta e acaba se rendendo aos valores materiais. A Teologia da Prosperidade e a fé na “nova classe média” foram os motores do Neoliberalismo inclusiva da Era petista.
Não é exclusividade das igrejas neo-pentecostais, os espíritas também acabam sendo influenciados por essa ideologia no aspecto a desigualdade social que, segundo eles, deve ser aceita, neutralizada e faz parte do ciclo e com essa postura foram omissos nos últimos anos. O Budismo também acaba sofrendo essa intoxicação ideológica ao ponto que, após cultos e meditações, os membros voltam a falar a respeito de problemas mundanos a respeito de dinheiro, emprego e posses.
Só nos resta citar Jiddu Krishnamurti:
Não é sinal de saúde estar bem adaptado a uma sociedade doente.
Você se lembra das perguntas do início do texto ?
Perceberam a gravidade da situação ?
Perceberam que estamos no ápice do Individualismo, do Consumismo e da Alienação, onde pequenos interesses norteiam grupos influentes da sociedade que, apesar do discurso bonito, estão pouco se lixando para o próximo. E isso não está restrito a crença, etnia ou faixa social, pois é IDEOLÓGICO. Grupos que querem obter dinheiro e poder para saciar o seu hedonismo. A satisfação dos seus desejos mesquinhos, sem nenhum arrependimento. Todos querem mandar no mundo. Os assassinos estão livres, nós não estamos.
Nós, o povo, estamos à mercê desses psicopatas que estão no poder e os seus concorrentes querem somente destronar o Bolsonaro para ter o controle da máquina. Vivemos esse momento em que todos os dias temos notícias de superfaturamento, saques, divulgação de mentiras, embargos comerciais, malversação do dinheiro público, tráfico de influência e disputa de poder entre as instituições. O País se dissolvendo, tornando-se um pária internacional, enquanto o projeto neoliberal entreguista avança sem ter algo ou alguém que ao menos ameace esse processo. Tendo ciência desses aspectos, atores e atributos, temos a real dimensão dessa Ideologia. Essa nuvem negra que paira em cima do Brasil, que surgiu após a queda do muro de Berlim e foi ficando mais pesada desde então.
Assim, é necessário compreender que o Neoliberalismo hegemônico, como regime ideológico, é político, econômico, jurídico, sócio-cultural e educacional. Ele sempre emerge como solução inevitável às crises que ele mesmo cria e, para funcionar,
Todos esses campos precisam atuar conjuntamente, se um deles começa a falhar (agora, no caso, o viés econômico), eles investem nos outros. É exatamente isto o que estamos assistindo, com antifas, anounymous, anti-comunistas e histéricos em geral. Com o neoliberalismo econômico fazendo água, eles estão investindo nos campos jurídico, político e sócio-cultural, para dar uma sobrevida ideologia neoliberal nesta colônia subdesenvolvida. A pergunta que fica é: o país e seu povo irão aguentar ? Se sobrevivermos, em quais condições será ?
Autores do Texto:
Rafael Cândido – Mestre em Ciência Contábeis
Brasilino dos Santos – Antropólogo