O governo Bolsonaro se comporta de forma mais ou menos previsível. Ultimamente o presidente tem se esforçado para assumir uma postura protocolar. Certamente uma recomendação do seu entorno militar e, talvez, do deputado Fabio Faria – nomeado ministro das Comunicações. É que o ministro é casado com Patrícia Abravanel, filha do empresário e apresentador Silvio Santos (SBT). Pode haver um aconselhamento da voz do auditório e da audiência, de quem comandou a emissora que sempre ressaltou o aspecto mais cru e irreverente do brasileiro real. Até por isso, talvez tenha optado pelo nome “Sistema Brasileiro de Televisão”, em vez de termo que remeta ao globalismo.
Ainda assim, é normal que Bolsonaro continue sendo quem é, com seus comportamentos e manifestações usuais. Sempre ofensivo e absurdo para alguns, enquanto outros o aplaudem e endossam cegamente. Seus pretensos opositores insistem no antagonismo histérico e automático, e o duelo cotidiano é fervoroso nas redes sociais. À direita e à esquerda, endossam a narrativa proposta por organismos internacionais, organizações não-governamentais e por países que historicamente avançaram sobre a soberania dos demais. Unem-se numa só plateia eufórica, por meio da qual se opera a guerra híbrida.
Além do curioso fato de ambos os extremos considerarem que o Brasil estaria melhor nas mãos dos israelenses – sob a estrela de Davi ou do arco íris -, também costumam ser tolerantes com a ladroagem cotidiana de Paulo Guedes. Afinal de contas, enfrentamos a infestação dos iludidos pelo rentismo, crentes na economia do papel pintado ou de algarismos digitais. A geração produtora e consumidora dos produtos virtuais, da replicação eterna daquilo que não se pode tocar.
Entretanto, há também os mais atentos à realidade. Não chegam a ser nacionalistas – um termo fora de moda confundido com fascismo – nem trabalhistas ou desenvolvimentistas, duas palavras já muito desacreditadas pelas décadas de governos neoliberais. Embora não façam o necessário pela garantia da soberania nacional, já dão um passo além ao se atentar às urgências do povo. Algo tão raro que soa populista e revolucionário. Para o pavor de alguns segmentos, descobre-se um povo conservador, mestiço e que precisa do Estado.
Enquanto muitos pregam a interdição do brasileiro, outros já se preocupam em reabilitá-lo. Esses últimos conseguem alcançar um apreço especial, porque antes de qualquer pitaco, fazem primeiro a pergunta: o que você teme e o que você quer? E, aparentemente, chegaram numa interessante constatação – a de que o brasileiro não é liberal. É positivista. Um povo orientado a resultados, e que novamente já dá sinais de impaciência.