A Rede Globo dedicou bastante espaço nas suas mídias, no último final de semana, a denunciar o “avanço das milícias” no Rio de Janeiro. Segundo ela, boa parte do território do Grande Rio estaria dominado pela milícia.
A essa “denúncia” somam-se afirmações de lideranças políticas, corroboradas por “especialistas em segurança pública”, de que as milícias são mais perigosas do que o narcotráfico, pois as primeiras teriam articulações com lideranças políticas, estando dentro do aparato estatal, já que tem entre suas fileiras muitos ex-policiais e ex-bombeiros. Já o tráfico, seria composto por jovens de periferia, com baixa escolaridade e pouca perspectiva de vida além de empunhar um fuzil, e, por isso mesmo, teria uma capacidade menor de articulação política. No Rio de Janeiro, seria apenas um “fenômeno local”, conforme disse um atual deputado federal da esquerda carioca, com impressionante votação no pleito de 2018.
Imagem romântica, que, contudo, não condiz com a realidade. Nos últimos anos, temos assistido ao impressionante avanço de uma certa organização criminosa de São Paulo, estendendo seus tentáculos a diversas regiões do país, no Norte e no Nordeste. Membros do Ministério Público de São Paulo denunciam que esta mesma organização já avança na cadeia produtiva das drogas, deixando de ser meros revendedores para investir no cultivo, comprando terras no Paraguai e na Bolívia para tal.
O prestígio desta organização anda tão bom que recentemente ela teve a soltura de um de seus membros, condenado inclusive em segunda instância, solto por um Ministro do STF. Logo após este caso, que até, deve-se ressaltar, teve bastante cobertura midiática, o STJ passa a discutir critérios para relaxamento da prisão em segunda instância, devido a supostos abusos do Judiciário em manter presos sem trânsito em julgado.
Por sua vez, a organização rival dessa no Rio de Janeiro, famosa por sua cor rubra, também não fica muito para trás em matéria de organização. No entanto, conforme o mapa publicado no G1 da Globo, do controle do Rio por organizações criminosas, mostra que esta organização do narcotráfico carioca tem pouca penetração na grande Zona Oeste do município do RJ, apesar de possuir amplo controle de comunidades em Niterói e São Gonçalo.
O que passa ao lado da discussão levantada pela Globo é que o termo “milícias” se referem uma vasta gama de grupos, alguns bem pequenos, outros maiores, que exploram atividades diversas, desde a segurança privada até diversos outros serviços, mas sem o mesmo grau de organização dos grupos narcotraficantes aos quais nos referimos anteriormente. Ao contrário do que afirmam o deputado federal e os tais “especialistas”.
Assim como a Globo também parece ignorar que, no contexto atual, a atuação policial se vê reduzida em função de decisões do mesmo STF que restringem operações policiais em comunidades durante a pandemia do Covid-19. Assim, se a polícia tem sua atuação restringida, por seguir normas e procedimentos do Direito Público, as milícias têm liberdade para agir nessas mesmas áreas.
Não se pode cair na oposição entre, de um lado, o Estado Paralelo com ramificação nas instituições de Estado como forças de segurança pública e assembleias legislativas e câmaras municipais e, de outro, uma força desorganizada composta por “jovens carentes”. Os vínculos destas grandes organizações narco são bem maiores do que mostra grupos de mídia como a Globo. Há necessidade de maior mobilização do Estado brasileiro contra esses grupos, por atuação das forças de segurança e de leis mais duras contra organizações criminosas, conforme é da vontade popular.
Enquanto isso, o Governo Federal parece a tudo assistir, mais empenhado em aprovar as tais “reformas” que contemplam ações como tributação de operações financeiras – na prática, a volta da CPMF – e uma reforma administrativa que não tira os privilégios do “andar de cima” do funcionalismo. Além disso, prefere atacar os Correios e deixar a pauta da segurança pública de lado, em um contexto de aumento da criminalidade em 2020, mesmo com os efeitos da pandemia. E ainda brinca que a “Lava Jato acabou porque não há mais corrupção”, enquanto ainda ri, às escondidas, do senador afastado com dinheiro cagado dentro da cueca.
Já a Esquerda/Oposição não se manifesta muito, pois a pauta da prisão em segunda instância pode colocar o Lula de volta à cadeia, ainda que seja uma cadeia especial em Curitiba. Quando não está secretamente negociando com Bolsonaro, enquanto que fica, para seu público de rede social, absorta em discussões inócuas pautadas pela mesma Globo, aquela mesma que antes eles chamavam de “golpista”.