Governo Bolsonaro cumpre rigorosamente os três estágios da Marcha Insensatez, tal marcha foi retratada pela historiadora Barbara W. Tuchman no seu livro: A Marcha da Insensatez de Troia ao Vietnã.
Em seu primeiro estágio, a paralisia mental fixa princípios e fronteiras que governam um determinado problema político.
No segundo estágio, quando dissonâncias e funções em colapso começam a surgir, os princípios iniciais tornam-se rígidos. Esse seria o período em que, caso a sabedoria estivesse em ação, reexaminar, repensar e mudar o curso seriam coisas possíveis, mas isso é tão raro como rubis num fundo de quintal. A rigidificação conduz ao aumento dos investimentos e à necessidade de proteger os egos: a política fundada em erros multiplica-se, jamais regride. Quanto maior o investimento e quanto mais o ego se envolve, mais inaceitável se torna o desengajamento.
No terceiro estágio, a perseguição do fracasso aumenta os prejuízos até causar a queda de Tróia, a defecção do papado, a perda do império transatlântico, a clássica humilhação no Vietnã.
A persistência no erro, eis o problema. Os praticantes do governo persistem no caminho errado como se estivessem escravizados a algum Merlim de mágicos poderes para dirigir seus passos. Para um chefe de Estado, admitir erros é algo quase impossível. O problema está em se reconhecer quando a persistência no erro se torna autodestruidora. Um príncipe, disse Maquiavel, deve sempre ser grande perguntador e escutar pacientemente a verdade sobre aquilo que inquiriu, demonstrando sua ira caso verifique que alguém revele escrúpulos em lhe dizer essa verdade. O que os governos necessitam é de grandes perguntadores.
O burocrata sonha com promoção, os altos funcionários desejam aumentar sua alçada, legisladores e presidente buscam a reeleição: a norma-guia nessa corrida é agradar ao máximo e ofender o mínimo. O governo inteligente exige que a pessoa revestida do cargo possa formular e executar a política de acordo com seu melhor julgamento, conhecimento disponível e judiciosas estimativas quanto aos males menores. Mas a reeleição está em suas cabeças e esse passa a ser o critério dominante.
Trechos selecionados da obra clássica da historiadora Barbara Tuchman, A Marcha da Insensatez, que julgo representar um retrato perfeito de nossa própria marcha rumo ao abismo.