A inflação vai ajudar o governo a ter uma sobra para gastar em ano de eleição (veja nota abaixo); por outro lado, faz um estrago na popularidade do governo. Não foi preciso recorrer a bola de cristal para prever que a aprovação de Bolsonaro despencaria com o final do auxílio emergencial – afinal, foi o pagamento que melhorou a forma como o governo era avaliado.
O retorno do auxílio não é garantia de melhores dias para o presidente, não só pelo baixo valor (ainda que importante para quem está sem renda), mas também pela alta dos preços dos alimentos.
No ano passado, o valor médio do auxílio (R$ 846,50) comprava, em setembro, mês em que a aprovação de Bolsonaro batia recorde, uma cesta básica (valor de R$ 539,95 em São Paulo, segundo o Dieese) e ainda sobravam R$ 306,55.
Agora, com valor médio previsto por domicílio de R$ 250, será preciso acumular 2 meses e meio do pagamento emergencial para comprar uma cesta básica, cujo valor subiu para R$ 626 em março (SP).
Muitos analistas, com razão, atribuem a perda de aprovação popular de Bolsonaro ao alarmante número de mortes pela Covid. A pandemia (torce-se) deverá estar controlada até o final do ano, o que seria um alívio para o brasileiro e um alento para a candidatura do presidente.
Acontece que o estrago na economia continua, com poucas chances de melhora enquanto mantida a política contracionista. Os preços, especialmente dos alimentos, não dão sinais de trégua. O aumento previsto para o salário mínimo no ano que vem (R$ 47) mal dá para comprar 2 quilos de carne de segunda. A economia, uma vez mais, será decisiva.
Teto de investimentos
A inflação vai ajudar o Governo Bolsonaro a cumprir o Teto de Gastos em 2022, ano da eleição. Haverá aumento de R$ 107 bilhões no teto, para R$ 1,592 trilhão. Esta coluna já havia publicado alerta do economista Paulo Rabello de Castro para esse detalhe da lei, em que mais inflação acarreta maior liberdade de gastar.
Não é a única, nem a mais esquisita incongruência. Em debate com o presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Antonio Corrêa de Lacerda, no canal O Planeta Azul, o jornalista e economista José Paulo Kupfer ressaltou que não existe outro país – que aplique uma regra similar ao Teto de Gastos – que inclua investimentos. Igualmente, nenhum país colocou a regra na Constituição, nem dura tanto tempo como o nosso.
Com informações Monitor Digital