Por Geraldo Lino.
Em mais um 13 de maio, somos bombardeados com manifestações de patrulheiros “politicamente corretos” que se especializam, nesta data, em depreciar a figura e a relevância da Princesa Isabel na Abolição. Muitos preferem celebrar o “Dia de Zumbi”, um ex-escravo que mantinha numerosos escravos em Palmares, algo que costuma ser convenientemente esquecido.
Não sou monarquista, mas essa depreciação de Isabel me incomoda, pelo desconhecimento básico da nossa história. Qualquer um que se disponha a conhecê-la um pouco melhor se dá conta de que a Abolição foi uma obra coletiva de uma significativa parte da população brasileira ao longo de décadas, sem qualquer demérito para a participação crucial da princesa.
Vários historiadores afirmam, aliás, que a Abolição marcou a primeira grande participação popular na história nacional. Particularmente, considero que foi a segunda, sendo a primeira a própria Independência, no episódio do Dia do Fico e nos dias seguintes, quando o populacho do Rio de Janeiro intimidou as tropas do general português Jorge de Avilez, e depois, na expulsão dos portugueses, principalmente, no Nordeste, de onde só saíram em 1823 (é, para quem não sabe, a Independência nada teve de pacífica, foi conquistada à bala).
Infelizmente para o país, a Abolição foi incompleta, pela inexistência de quaisquer alternativas de apoio aos libertos, largados à sua própria sorte sem qualquer condição de inserção mínima na cidadania, mas isto não foi culpa de Isabel. E até hoje pagamos as consequências disto.
Mas, como se soube há alguns anos, ela e alguns abolicionistas tinham um poderoso aliado no Barão de Mauá, que deixou boa parte de sua fortuna com seu sócio, Visconde de Santa Vitória, que também contribuiu, para a criação de um fundo para a compra de terras para os ex-escravos. Segundo uma carta de Isabel ao visconde, encontrada no Museu Imperial de Petrópolis, o dinheiro já estaria de posse da Coroa e aguardava a introdução de um projeto de lei na Assembleia Legislativa, que quase certamente o aprovaria sem dificuldades.
Mais uma vez, infelizmente, em 1889, o ano legislativo começaria em – 20 de novembro! Não preciso lembrar o que ocorreu cinco dias antes. E, claro, o projeto ficou ignorado e o destino do dinheiro do barão e do visconde é um dos mistérios não resolvidos da nossa história.
Não concordo com a afirmativa de que D. Pedro II não teria tido condições de se mostrar mais enfático contra o câncer da escravidão, a maior praga da nossa história, cujos efeitos ainda estão entre nós. Mas acredito que, se Isabel tivesse tido oportunidade de reinar, o Brasil poderia ter tomado um rumo bem diferente, pois ela se mostrou uma estadista sintonizada com os ventos modernizadores que sopravam na Europa e tinha plena consciência das limitações brasileiras e do que era necessário para enfrentá-las.
Por infortúnio nosso, a história não se faz com “se”. Mas, para escrevermos uma diferente, ajudaria bastante se deixássemos de lado essa mania de “cancelar” personagens históricos de acordo com as idiossincrasias do momento.