Ingleses e espanhóis foram inimigos históricos por séculos. A origem pode se situar no século XVI, quando o Rei Henrique VIII anulou seu casamento com sua rainha espanhola e rompeu com a Igreja Católica, criando a Igreja Anglicana. Desde então ambas as coroas se confrontaram, com a derrota da armada espanhola no final daquele século e diversas tentativas inglesas de ocupar territórios hispano-americanos.
Os espanhóis conseguiram frustrar várias dessas tentativas: Veracruz em 1568; Porto Rico em 1595 e 1797; Cartagena das Índias em 1741; Rio da Prata em 1762 e 1806, Malvinas 1770. Paralelamente, a coroa britânica apoiou durante esse período a pirataria contra navios espanhóis, ao mesmo tempo em que disseminou a propaganda da Lenda Negra contra a colonização do continente.
No final do século XVIII, os ingleses viram-se sem suas principais colônias americanas, com a independência dos Estados Unidos. Assim foi encomendado ao oficial Thomas Maitland, veterano das forças da Companhia das Índias Orientais na Índia, um plano para desmembrar territórios coloniais na América do Sul do Império Espanhol.
Em 1811, o líder da independência argentina José de San Martin estava em Londres. Na ocasião, frequentava a loja maçônica Laudaro, fundada pelo aristocrata escocês Lorde MacDuff e por Francisco de Miranda, o mentor de Simon Bolívar, que buscou ajuda britânica para a independência da Grã-Colômbia. Maitland também era escocês e aparentado a MacDuff.
O plano consistia na tomada de Buenos Aires; em posicionar-se em Mendonza; atravessar os Andes, reunindo-se com rebeldes chilenos; derrotar os espanhóis no Chile; avançar pelo Peru e tomar Quito. De todas as etapas concebidas anteriormente, apenas a última não foi executada por San Martin.
No Chile, San Martin obedeceu ordens inglesas e não assumiu o controle político, negando a oferta do prefeito de Santiago de governar, cedendo o poder ao caudilho local Bernardo O´Higgins. Se aceitasse o poder que lhe foi oferecido poderia realizar o feito de unificar os territórios chilenos e argentinos. Poderia criar um país com acesso aos dois oceanos, o que não interessava aos ingleses. Não conseguiu tomar Quito e o porto de Guaiaquil, pois Bolívar não permitiu.
Essas informações estão disponíveis no livro “Maitland e San Martin”, de autoria do político e historiador argentino Rodolfo Terragno, que realizou pesquisa com documentos oficiais em Londres, com foco na estadia do líder conterrâneo durante sua estadia naquela capital.
San Martin, Bolívar e seu general Sucre foram os agentes do processo de independência hispano-americana na América do Sul, mas terminaram por criar países frágeis, com exceção talvez da Argentina, endividados com bancos britânicos. O sonho de Bolívar de unificação logo fez água, com a briga de oligarquias locais, prontas em criar seus domínios e se tornarem clientes do Império Britânico. Processo do qual o Brasil, pela unificação territorial, passou incólume, apesar de algumas revoltas locais controladas ainda no século XIX.
Por isso mesmo, a independência desses países hispano-americanos foi mais sangrenta do que a brasileira, exigindo desses países que realizassem empréstimos em libras. Em um caso específico, Francisco Antonio Zea, vice-presidente da Grã Colômbia toma empréstimo, em 1822, com a firma Herring, Graham and Powles.
Não foi o único caso.