
Por Luis Felipe Giesteira
A Bradar, empresas do grupo Embraer, apresentou seu novo radar de vigilância, o Saber M200 durante a mostra de produtos de defesa e aeroespaciais ocorrida esta semana em Brasília. O aparelho compõe o “sistema de vigilância de fronteiras”, Sisfron, um dos três programas estratégicos – ao lado do Astros 2020 e do Guarani – do Exército inscritos na Estratégia Nacional de Defesa, de 2008.
O Sisfron é o mais caro e possivelmente o que menos avançou dos três, em parte por isso, em parte porque também trazia uma novidade “institucional” – o EB trabalhando junto com a Embraer – em parte porque é o mais arrojado. O Sisfron almeja criar um sistema único de varredura digital de toda fronteira terrestre do Brasil, possivelmente a de vigilância mais complexa do mundo.
O M200 é um avanço substancial em relação aos seus predecessores, o M20 e o M60, que já é empregado nas fronteiras do Sudeste e Centro-Oeste. O radar primário opera em banda S com varredura eletrônica e é capaz de detectar um alvo de 2,5 m² a 150 km de distância e até 15 km de altura e está preparado para receber o modo 4 do Projeto IFFM4BR, da Força Aérea Brasileira (FAB) para identificação de alvos. Além das viatura padrão de transporte no qual aparece (um dos inúmeros caminhõezinhos VW adquiridos nos tempos do PAC 2) pode ser transportado por Hércules e por KC 390.
Da perspectiva da política de CT&I, 3 pontos devem ser destacados. Primeiro, o avanço excepcional que foi logrado a partir dos offsets do Sivam, cuja tecnologia foi absorvida e desdobrada pela Embraer e CTEx (além da FAB no sistema de defesa aéreo brasileiro). Os radares são uma tecnologia crítica e com elevada dualidade. Apesar do grave atraso do país em TICs, esse programa tem rendido frutos em profusão. Na presença de uma política tecnologia inteligente, em combinação com as pastas de C&T e comunicações poderia “fazer chover” em 10, 15 anos.
Segundo, apesar de ter sido pensado para o Sisfron, é evidente que o M200 permite sonhar com o Brasil desenvolver seu próprio sistema de defesa anti aérea. O sucesso do ITA e INPE com o foguete S50 e com o satélite Amazônia sugere uma promissora sinergia. Os transbordamentos para uso civil são potencialmente vastos.
Terceiro, mesmo em um contexto desfavorável – as políticas industriais que poderiam apoiar esses projetos foram desmontadas em 2014 e o orçamento disponibilizado foi de apenas 20% o que se estimou no início da END – os programas estratégicos vem rendendo resultados significativos. Dois elementos saltam aos olhos: a persistência em avançar (também vista em programas civis, como o Sirius) e a combinação de instrumentos de política pelo lado da oferta (ex: Finep) e da demanda (uso do poder de compra).
O Brasil tem inúmeros jeitos, todos dependentes de vontade e ambição.
Fonte: Sítio do Paulo Gala