Por Tim Kirby
Uma das coisas mais deprimentes que podemos discutir é “população” e “demografia”. Isso se deve ao fato de que a visão dominante sobre a questão parece estar muito bem consolidada e ser imune a contestações. De forma geral, mesmo pessoas supostamente conservadoras e até religiosas têm a convicção de que o “mundo está superpovoado” e que a humanidade, no mínimo, precisa ser reduzida ao menos um pouco. A ideia de eugenia, infelizmente, parece estar de volta.
Entretanto, existem ainda muitas pessoas que acreditam que seu povo, seja ele qual for, deve continuar existindo e se reproduzindo. Este artigo é voltado para aqueles que veem a redução populacional como uma coisa ruim para o futuro da humanidade. Algumas estatísticas publicadas recentemente confirmam a medida menos comentada para tentar solucionar o declínio demográfico sobre o qual tenho falado muito a respeito na última década. Há esperança, pelo menos para minha sanidade.
O instituto de pesquisa de opinião Pew Research conduziu pesquisas ao longo de vários anos que mostram que o problema da demografia enfrentada (ironicamente) pelos países mais ricos é de natureza ideológica e que as razões que a maioria dos entrevistados deu para não ter filhos são artificiais, sendo que eu também posso provar que são igualmente inválidas. Mas o mais importante é que essas razões representam uma fatia minoritária da opinião. A maioria das pessoas simplesmente não sabe por que está desmotivada de fazer a função biológica mais natural de qualquer ser vivo: reproduzir.
Em primeiro lugar, não podemos esquecer que qualquer sondagem sobre a motivação que orientam seres humanos a determinadas atitudes tem que ser feita com cautela. Somos animais emocionais e nossos instintos, desejos e inconsciente pesam muito em nossas tomadas de decisão. Se perguntados por que compramos Coca-Cola em vez de Pepsi, é improvável que digamos que tem a ver com a lata ser vermelha, embora 60% de nossas decisões de compra sejam baseadas em algo aparentemente tão sem sentido quanto a cor. No entanto, antes de chegarmos às motivações específicas declaradas dos entrevistados, vamos dar uma olhada na resposta geral à pergunta “os americanos escolherão ter filhos?”. Vejamos o quadro abaixo:
Grosso modo, como podemos ver, praticamente metade dos adultos sem filhos não deseja ter filhos (Not too likely e Not at all likely) e a esmagadora maioria daqueles que têm pelo menos um filho não planeja ter mais nenhum. Trata-se de números bastante claros da grande espiral demográfica descendente que todos nós estamos vendo acontecer diante de nossos olhos. Mas a grande questão é: por que algum grupo de humanos desejaria voluntariamente se extinguir? Quando você tem metade de sua população sem filhos e 2/3 daqueles com um filho “fechando a fábrica”, sua sociedade inevitavelmente caminha para a morte. Assim, não deveria o instinto de sobrevivência aparecer em algum momento? Por que essa situação acontece?
O motivo é ideológico. Vivemos em uma sociedade que é liberal (acredita que o indivíduo é sagrado) e altamente secular (não há nenhum grupo ou pressão divina para nos dizer o que fazer). Essencialmente, vivemos sob o liberalismo por tanto tempo que é difícil imaginar uma existência que não seja “egocêntrica”. Embora homens brilhantes tenham construído a ideologia dos Estados Unidos no final dos anos 1700, eles não poderiam ter previsto que, ao longo de muitas gerações, seus valores heróicos do Iluminismo, louvando os direitos e a santidade do indivíduo, se tornariam uma desculpa para o Hedonismo em uma escala nunca vista na história humana. Se o indivíduo é tudo o que importa, por que não viver a vida para o seu próprio prazer? Em nossa sociedade pós-moderna, ninguém deve nada a ninguém, então por que se sacrificar com o mais novo estraga-prazeres da humanidade, no caso, crianças? Temos ainda que lembrar que os “Sete Pecados Capitais” também são muito atrativos.
Em relação a esses últimos, o declínio da Religião apenas promove a tendência do Hedonismo que é criada pelo Liberalismo. Quando não há comunidade ou Deus para nos dizer o que devemos ou não devemos fazer, novamente voltamos ao Hedonismo. A velha piada “é fácil tornar-se católico: se algo é bom, não o faça” continua muito verdadeira. O problema é que, sem alguém no Céu para nos dizer para mantermos nossos desejos e instintos sob controle, todos nós queremos viver vidas de gula e prazer, de forma que atualmente vivemos pela lógica do “se é bom, vá e faça”. Cuidar dos outros e fazer sacrifícios por nossos filhos é muito doloroso para nossos corações liberais que desejam desesperadamente maconha, pizza e bem-estar.
Crianças exigem muito esforço, especialmente para serem educadas corretamente. A ideia de ter filhos, de se esforçar para educar pessoas que exigem grandes recursos financeiros e de energia visando o futuro da sociedade/humanidade, está em conflito direto com Liberalismo e o Secularismo. Na verdade, você pode ver isso nas respostas sobre por que as pessoas sem filhos querem continuar como estão. Vamos dar uma olhada nelas e fazer algumas suposições sobre o que realmente significam.
56% Simplesmente Não Querem Ter Filhos (“They just don’t want to have children”)
Isso poderia ser simplesmente traduzido como hedonismo puro – “eu vivo para mim mesmo e não devo nada a ninguém”. Essa é a visão míope de que de alguma forma a ninharia que a Previdência Social oferece substituirá a ajuda amorosa das crianças na velhice. É uma pena não dizermos à população que a melhor apólice de seguro é uma família unida. Empresas de previdência privada fazem boas propagandas na TV, mas o apoio de um parente próximo supera em muito o valor de seus planos. As pessoas no passado entendiam que precisavam umas das outras e que a interdependência era uma parte normal da sociedade. A arrogância liberal que nos ensina que nós como indivíduos “podemos fazer tudo” e que “não precisamos de ninguém” nos cega da necessidade de ter uma família e filhos, especialmente quando não reconhecemos nossa óbvia dependência do Estado.
19% Razões Médicas (“Medical Reasons”)
Este é um motivo legítimo para não ter filhos. Embora alguns possam estar exagerando no risco como desculpa.
17% Razões Financeiras (“Financial Reasons”)
A ideia de que é preciso muito dinheiro para ter filhos é outra parte da maldita lógica que se origina da completa falta de conhecimento de história do norte-americano médio. Durante séculos, a humanidade, vivendo em casas minúsculas, sob o risco de morrer de parto, com recursos muito limitados e sem garantias de que um bebê chegaria à idade adulta, lutou para criar um filho que continuasse no futuro. As condições no passado eram terríveis, a vida era “bruta e curta” e ainda assim havia muitas crianças por perto. Se há um bom momento para se ter filhos, esse momento é agora, em que os homo sapiens são mais ricos do que jamais o foram em sua história. Mas mesmo que você esteja na base da pirâmide social vivendo em uma favela com pouca esperança de subir na vida, isso ainda não é razão para não ter filhos. Grosso modo, cerca de 1,5 em cada 10.000 pessoas cometem suicídio, o que significa que a maioria absoluta de nós prefere existir, mesmo em uma pobreza chocante, mesmo em sofrimento terrível, a tirar a própria vida. Não poder comprar um Playstation 5 para uma criança não é razão para não trazê-la ao mundo, já que mais de 99,9% de nós queremos viver independentemente dos nossos problemas.
15% Falta de um Parceiro (“No Partner”)
O liberalismo pode ser libertador, mas também pode isolar. A ideia de que uma sociedade é melhor composta de indivíduos completamente atomizados é uma lógica falha. Muitas vezes culpamos a tecnologia pelo surgimento dos “virins” (“virgens involuntários”) e pela morte da família, mas o liberalismo sistêmico e o secularismo extremo possuem a maior parte da culpa. Estamos nos tornando uma horda isolada de indivíduos e ninguém pode nos forçar a socializar ou vencer nossos medos. Mais e mais norte-americanos estão se tornando completamente incapazes de funcionar na sociedade e até mesmo o sexo sem sentido não está mais na mesa – estamos sozinhos tocando em nossos telefones e digitando em nossos teclados.
10% Idade (“Age”)
Se você é uma mulher com mais de 40 anos, então sim, você está sem sorte, no entanto, os homens não têm desculpas, já que acumulamos riqueza principalmente com o passar dos anos. Nossa função de provedor fica ainda melhor com o tempo. Muitos homens têm pavor de perderem tudo após o divórcio e, assim, ao invés de vermos homens acumulando riquezas para poder ter uma esposa e filhos, eles agora rejeitam formar uma família justamente para poder acumular riqueza. Do ponto de vista social, estamos vivendo um contrassenso. No passado, os homens respeitados tinham muitos filhos e também eram incentivados a serem bem-sucedidos mais cedo na vida para que, justamente, pudessem ter mais tempo para ter mais filhos.
9% Situação do Mundo (“State of the World”)
De novo, uma vez que muito poucas pessoas cometem suicídio, o pior do mundo não é ruim o suficiente para escolher a inexistência. Isso não é desculpa.
5% Mudanças Climáticas/Meio Ambiente (“Climate Change/Environment”)
As únicas pessoas que se preocupam com isso estão nas nações menos populosas e ecologicamente corretas. Isso não é desculpa.
2% Parceiro Não Quer Filhos (“Partner Doesn’t Want Kids”)
Há uma crença equivocada de que são as mulheres que decidem ter filhos. Em muitos aspectos, foi a agressividade masculina que nos levou a querer e conseguir pôr nosso sobrenome em tudo o que podíamos. Homens frouxos não vão lutar para garantir que sua linhagem familiar continue nem tentar construir sua própria casa. Homens frouxos são tão mortais para a família quanto feministas obesas e seu liberalismo secular. A agressividade masculina é o que impulsiona as populações a se reproduzirem e não as mulheres.
Para aqueles que estão lendo este texto em países como Hungria, Polônia ou Rússia, que desejam desesperadamente mudar o curso da demografia nacional, vocês precisam rejeitar a ideologia do liberalismo irrestrito e o secularismo extremo agora. O Ocidente provavelmente está condenado porque foi construído sobre essa mesma base ideológica podre. O liberalismo não faz parte do Ocidente – ele é o Ocidente. Portanto, é muito provável que ele fique preso nisso até o fim. Espero sinceramente estar errado sobre isso. Quem sabe? Os Estados Unidos talvez apresentem surpresas agradáveis no futuro, de forma que encontrem uma maneira de empurrar o país para o iliberalismo sem mexer em uma única letra de sua Constituição brilhante. Pagar às pessoas para ter filhos serve de um bom incentivo e programas como de Putin e Orban têm sido bem-sucedidos, mas isso é secundário. Estamos chafurdando na lama do fundo de um abismo mental do Hedonismo, do qual precisamos sair para que nossas culturas continuem no futuro. O problema do declínio demográfico é de natureza mental, ideológica e espiritual, portanto, as respostas são da mesma espécie.
Fonte: Strategic Culture