Por Renzo Souza.
Um dos grandes intelectuais brasileiros, o fluminense Alberto de Seixas Martins Torres, nascido em Itaboraí, em 26 de novembro de 1865, concentrou-se como cientista político, jornalista e bacharel em Direito. Pensador de exímio, com rara felicidade no que tange uma análise social do Brasil, preocupou-se com questões da unidade nacional e da organização social do país. Teve importância substancial para a consolidação do nacionalismo no pais, com uma análise aprofundada do problema nacional e com um programa pormenorizado de organização nacionalista. Em muitas de suas teses, refutou as teses tanto do marxismo, como do individualismo atomista-eudemonista liberal.
Conservador em termos sociais, Alberto Torres libertava-se das ideologias racialistas, com uma visão positiva da formação brasileira. É significativo o trecho seguinte de uma carta de Alberto Torres a Pedro Lessa, datada de Fevereiro de 1915, quando se pensou na revisão constitucional. Dizia ele
“O nosso país, que nunca se consolidou em nação e em sociedade, é presa de uma das mais escandalosas anarquias de que há exemplo; e, para o simples critério jurídico, nada mais fácil do que demonstrar que muitas das causas dessa anarquia resultam, não de se não praticar a Constituição, mas da índole e do espírito das suas instituições, visivelmente repugnantes ao nosso temperamento político.”
Noutro trecho ele diz:
“Bastaria para provar-lhe que esta forma de governo, que vem comprometendo a nossa sorte, com a sustentação de uma sociedade de parasitas mantidos pelos cofres públicos ou vivendo à custa dos interesses ilegítimos criados pela organização anti-social da nossa política, e com essa ostentação megalomaníaca de luxos, de vaidades e de grandezas, sem gosto e sem cultura, que se exibe nas nossas cidades, ao passo que a produção permanece em eterna crise, e que não formamos ainda economia nacional, nem para o simples efeito alimentar — não pode deixar de ser substituída por uma verdadeira organização política.”
Ele conclui dizendo:
“Ora, toda a gente, entre nós, desde os homens do povo, distraídos das coisas públicas, até aos que, tendo ardor cívico, se dedicam ao cultivo das idéias destinadas a dirigir a sociedade, passa a existência sob a influência de duas correntes de estímulos, distintas e independentes; a dos conceitos e ideais teóricos e a dos fatos da época: agitações, conflitos partidários, lutas locais, toda a massa pululante de personalismos, de ambições, de gestos e discursos ociosos e estéreis, — trabalho desorientado e sem objetivo, que domina, entretanto, as atenções, como se fosse a expressão real da nossa vida.”
Segundo ele, em torno do qual se debatem as opiniões, formam-se os partidos, elegem-se os legisladores, além dos chefes de Estado, surgem e desaparecem assim as personalidades, agita-se toda a oratória, fervilham-se todas as calúnias, rebentam-se inquietudes sociais, como as revoluções e violências de toda a espécie, explodem crises de sangue e de escândalo.
Nesta agitação, ele diz brilhantemente sobre essas instabilidades sociais;
“Não representa, aqui como em outros países, outra coisa senão a estagnação de um povo descuidado de si mesmo, perdido na contemplação de miragens teóricas, paralisado, por falta de consciência e de direção, toda a atividade pública se reflete num eterno debate entre dois coros, onde as pessoas se alternam, fazendo uns o papel de tiranos e de bandidos, outros o de juízes punidores, cantando estes hinos de louvor aos vencedores, clamando, aqueles, as mais tremendas e cruas objurgatórias.”
Visionário? Sem dúvida alguma, isso e o reflexo da realidade política do Brasil atual.
Referencias:
O problema nacional brasileiro.
A organização nacional.