Por Felipe Quintas.
A Rússia reabriu o McDonald’s nacionalizado, chamado agora “Vkousno i tochka” (‘Delicioso. Ponto Final’), com festa e grande presença do público. Não é porque a Rússia se livrou do capital estrangeiro que ela precisou se livrar dos hambúrgueres com refrigerante. O McDonald’s saiu da Rússia mas toda a estrutura física e todo o “know-how” ficaram no país. Em vez do Putin ficar de braços cruzados como o Bolsonaro e o Rui Costa ficaram quando da saída da Ford, ele aproveitou a oportunidade para nacionalizar a cadeia de restaurantes sem pagar um centavo de indenização. No final das contas o McDonald’s e todas as empresas que saíram da Rússia fizeram um favor a ela, pois deram condição para o Putin fortalecer e autonomizar a economia nacional russa.
A realidade, mais uma vez, desmente os adoradores do capital estrangeiro, que não concebem outra alternativa para os países a não ser virar mendigo dos investimentos alheios. Se um país é capaz de construir empreendimentos controlados de fora, por que não seria capaz de administrá-los? O capital estrangeiro pode cumprir uma função importante e estratégica em determinados setores e circunstâncias e sob certas condições e requerimentos, mas a lição permanente é a de que o capital se faz em casa. Não porque seja mais bonito, mas porque o capital sempre acontece dentro de algum país, porque suas atividades são sempre enquadradas e envoltas pela realidade de um país, e seria um contrassenso o maior (país) depender do menor (capital) e o menor não se atrelar ao maior.
Não surpreendentemente, a grande mídia está realçando as filas para criar uma associação com as célebres filas da última década soviética, que a propaganda capitalista usou para denegrir o socialismo soviético, mas nem ela consegue esconder que as filas agora se dão não por escassez de produtos mas por abundância de procura, ou seja, pelo orgulho russo de consumir produtos de marcas russas.
Marcas construídas com muita propaganda em todo o mundo, instrumento poderoso do imperialismo norte-americano do pós guerra, prefiro o lanchão da esquina feito na minha frente, ou a de casa boa e barata.
A questão é exatamente que toda a fortuna que gastaram com propaganda na Rússia (URSS) terminou revertendo-se em favor da empresa nacionalizada.
Na terra dos gringos existem até os “mc donald’s de mendigos”. Na Rússia não chega nesse ponto, mas deve ser algo bem mais popular.
Realmente essas grandes empresas não conseguem fazer sucesso no Brasil, principalmente por causa do “lucro em dólar” que eleva muito o preço. A maioria das pessoas, inclusive eu, quando tem que comer fora prefere as pequenas lanchonetes ou até os vendedores (individuais) que carregam os lanches na cabeça ou numa bicicleta cargueira. Levar um lanche de casa também costuma valer a pena.
Uma observação interessante é que a mentalidade “parasitária” está contaminando o mundo corporativo e está destruindo o capitalismo por dentro. Não é questão de um lunático (achar absurdo investir em algo produtivo) ou um abutre (que quer apenas quebrar a empresa para vender como tudo como sucata). Sempre vai existir esse tipo de gente, o problema é que já chegou num percentual que incomoda.
Outro dia uma grande empresa de tecnologia (propositalmente não vou especificar) não conseguiu aprovar a construção de uma nova fabrica na Malásia pois tinha um monte de “investidores” lunáticos na reunião. Esse “investidores” lunáticos que não sabem nem o que é demanda reprimida e só pensam em ganhos imediatos devem ter estudado em Harvard.
Sinceramente esse negócio de abrir o capital só vale a pena se a empresa for uma bomba que você não quer que exploda na sua mão.