
1. Nesse formato de debate televisivo, as emissoras seguem regras acordadas entre os partidos políticos e também a legislação eleitoral vigente, que permitem a participação de candidatos cujos partidos tenham ao menos cinco cadeiras na Câmara dos Deputados. O que torna o debate rígido e cansativo, fechado em regras que dificultam o livre debate de ideias e propostas.
2. Nesse sentido, os candidatos acabam se submetendo a pauta dos representantes da grande mídia. Por isso, a profusão de temas como “desmatamento”, “representação feminina no governo”, “responsabilidade fiscal” , “vacinas”, “auxílios”. No confronto direto, predominaram temas como “corrupção” e “desemprego”.
3. Políticos nacionalistas de outrora como Leonel Brizola, Enéas Carneiro ou até mesmo o Cabo Daciolo em 2018 usariam o espaço para fazerem questionamentos e sair do script, trazendo o debate para a importância da soberania nacional. Ainda mais levando-se em conta as alterações na ordem internacional por acontecimentos em curso: conflito na Ucrânia, crise energética global, crise entre Taiwan e a China Continental, problemas nas cadeias produtivas globais etc.
4. Assim, ter um “projeto nacional de desenvolvimento” de nada serviria se não levasse em conta o cenário global. Como reindustrializar o país se a Agenda 2030 jogada goela abaixo pelos experts do jornalismo, por meio de metas de “carbono zero”, entra em claro conflito com esta? Projeto Nacional supõe um Poder Executivo forte, mas como se desde a Lava Jato até os desmandos atuais dos ministros do STF estão continuamente tolhendo o primeiro?
5. A propósito, um dos entrevistadores ainda mencionou a Ferrogrão, ferrovia com as obras paradas por decisão liminar de Alexandre de Moraes em ação movida pelo PSOL. Uma grande obra de infraestrutura para ligar as regiões Norte e Centro-Oeste parada por supostamente violar a legislação ambiental e indígena. Mesmo assim, nenhum dos candidatos se dignou a comentar, nem mesmo Bolsonaro. Na denúncia do lobby ambientalista antidesenvolvimentista estamos nós aqui quase sozinhos, lembrando que não haverá reindustrialização sem investimentos maciços em infraestrutura, sobretudo nas áreas mais afastadas do Brasil.
6. Em quase três horas de debate, não houve questionamentos sobre o atual modelo econômico, tirando algumas poucas intervenções de Ciro Gomes. Nessa seara, a discussão ficou nos marcos do assistencialismo: valor do auxílio e se estudantes deveriam ou não receber “para o bem da educação”.
7. Mais pareceu uma campanha de eleição de síndico de condomínio do que de presidente da República. Não vem rendendo nem ao menos bons memes.