Jair Bolsonaro enfim partiu, no dia 30 de dezembro, para Orlando, Estados Unidos em uma avião presidencial. Antes disso, fez um pronunciamento de um pouco menos de uma hora, em que não se dignou nem mesmo a pedir desculpas aos ferrenhos apoiadores de plantão nas portas dos quartéis pelo país afora, por quase sessenta dias. Nem tampouco aos policiais que tiveram que lidar com os mais exaltados, como no ataque à seda da Polícia Federal, em Brasília, ou àqueles que tiveram que correr atrás de terroristas para sabotar a posse do próximo presidente.
Nem mesmo às Forças Armadas, que agora vão passar a ser alvo de ódio desses mesmos ex-apoiadores, quando muito certo fizeram em se manter fora do processo todo. Se Bolsonaro não foi capaz de construir uma articulação política que viabilizasse seu segundo mandato, não caberia às FFAA resolver tudo para o “capitão” em uma quartelada, quando todos os poderes da República indicavam a sucessão para Lula, logo reconhecida pelo TSE e pelo Legislativo.
Fica a lição, ou provavelmente não vai ficar, que a política não é para amadores ou para aqueles que se sairiam melhor como vereador de cidade interiorana ou um folclórico deputado federal pelo RJ com pouca influência, do famoso “baixo clero”, mas com votação consolidada. Bolsonaro resolveu adotar um papel de mito que só existia na cabeça de seus seguidores e se confundiu com o personagem, só para se dar conta, após a derrota eleitoral, que o personagem destoa muito da pessoa real. Conforme salientamos antes, o Bolsonarismo entrou em putrefação logo na primeira semana após o resultado oficial das eleições.
No fundo a própria narrativa “intervencionista” dos seus apoiadores beirava o absurdo. O governo Bolsonaro, desde seu início, caracterizou-se pela agenda de integração econômica com o Ocidente, chancelada por seu ministro Paulo Guedes, com medidas como a assinatura do Acordo Mercosul-União Europeia, o pedido de entrada na OCDE, as privatizações e demais medidas “para atrair investidores externos”. Sendo esta a agenda principal do governo, uma suposta ruptura democrática por uma medida de força, que fosse pela ação das FFAA, invalidaria boa parte dessas medidas, fazendo aumentar o “risco político” e, logo, o “Risco Brasil”. Não dá para combater o “Globalismo” se a agenda do seu governo é essencialmente globalista.
Tal tipo de confusão ocorre pela influência do neoconservadorismo de corte estadunidense que permeia boa parte da chamada Direita brasileira, sob influência de um charlatão que convém não mencionar o nome que dedicou-se há décadas em atacar todas as instituições brasileiras, incluindo as FFAA. Se ao menos Bolsonaro soube resgatar as cores nacionais e o sentimento difuso de patriotismo, é preciso entender o que significa na verdade o patriotismo e o nacionalismo, compreendendo o papel que o Brasil tem no mundo, pois se fazemos parte do Ocidente cristão, não somos do mesmo Ocidente da OTAN e da OCDE, ainda mais porque este projeto político ocidentalista é que pariu o atual Globalismo.
No mais, feliz ano novo para todos os leitores!