Bolsonarismo em decomposição

Diz-se “decomposição” quando um todo se desfaz em unidades menores. Ou quando um organismo vivo perece, perde seus sinais vitais, e começa a apodrecer, entrando em estado de putrefação.

Um mês depois das eleições o que vemos é um presidente em exercício escondido no quarto enquanto um governo de transição ganha todo o protagonismo, amparado pelas lideranças do Legislativo e do Judiciário. O governismo sumiu até mesmo das redes sociais, sendo substituído pela sanha intervencionista na frente dos quartéis e comandos militares. A aliança governista entre partidos se desfez efetivamente com a multa aplicada pelo Presidente do TSE ao PL por pedir a anulação de milhares de urnas no resultado das eleições do segundo turno. PP e Republicanos não querem contribuir para o pagamento da multa de R$ 22 milhões.

O atual vice-presidente Hamilton Mourão, discreto mas bom de faro, percebe o vácuo no poder e vai querer lutar para se firmar como líder da oposição, usando as redes sociais para isso. Até porque ele terá um mandato de senador pelo Rio Grande do Sul para iniciar, ao contrário de Bolsonaro, que, para o ano que vem, só tem a promessa de receber uma mesada do partido – que agora terá que arcar com a multa.

Também aproveitou a participação de ambos em uma cerimônia na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) ao se perceber sendo filmado perguntar ao presidente se ele não iria falar com os cadetes e “abrir o jogo” com eles, como se percebe pela leitura labial.

O mesmo Mourão, que na primeira semana após a confirmação do resultado das urnas, colocou-se a disposição e apresentou o Palácio Jaburu para o vice eleito Geraldo Alckmin, em um gesto de boa vontade, falando calmamente à imprensa.

Quanto às manifestações nos quartéis e nas estradas, cabe perguntar hoje até que ponto elas são a favor de Bolsonaro ou contra o governo que oficialmente não tomou posse. Alguns de seus apologistas começam a ensaiar o slogan “não é por político nenhum, é contra o ladrão” (em referência a Lula). Ou também “é por nossas liberdades”, em referência ao ativismo do STF e do TSE. Assim como a bandeira pela reforma eleitoral com a impressão dos votos.

Os protestos nas estradas foram devidamente desbaratados pelas polícias nas estradas, mas o movimento nos quartéis segue e deverão seguir ao menos até a posse de Lula e Alckmin. É possível que ele se desvincule cada vez mais do bolsonarismo, na medida em que Eduardo Bolsonaro é flagrado assistindo jogos ao vivo no Qatar, enquanto os “intervencionistas” defendem mesmo o boicote à Copa, e em que o próprio presidente, uma vez sem mandato ainda mantenha o silêncio.