Por Rafael Borges.
A escalada presente desde fevereiro de 2022, ao iniciar das operações militares russas na Ucrânia, que chamamos nós de Guerra da Ucrânia, nos mostra o mais novo poderio bélico sofisticado por parte do exército russo em confronto com os já conhecidos armamentos da OTAN. No geral, observamos a partir do desenvolvimento tecnológico para uso militar os rumos da evolução tecnológica para a vida prática civil, uma das ferramentas de guerra passa por despercebida nessa análise prática de progressão: a imprensa.
O esquema de falsificação é hoje a principal ferramenta de guerra para controle das massas em finalidade de omitir o que fala o conflito sobre a nova configuração geopolítica de nosso tempo, pois em quase um ano de confronto Russia/OTAN ainda faz parte do imaginário popular a normalidade de um mundo pacificado e a superioridade do Ocidente liberal sobre o Oriente. Os dispositivos constituídos à base de metais, pedras e areia forjada para forma de vidro — televisões, computadores, celulares, rádios e demais dispositivos — nos inserem em um plano alternativo ao real — o virtual, entende-se como existente porém não como algo presente ainda na realidade concreta, por mais que inserida na realidade como um todo — e que se uso de nosso tempo for destinado ao consumo da informação por parte dos agentes irrestritos do conflito perdemos o contato absoluto com o real, a posteriori, com a verdade.
Observamos a fantasia de um Ocidente ainda exemplar ao mundo, mas se a Rússia possui hoje dispositivos avançados com motores de propulsão eletromagnética e mísseis hipersônicos de match 10, nós temos o consolo de termos em mãos o poder da propaganda. Assim, ao vermos Rússia e China com tal poderio bélico, nos conformamos com a suposta democracia (plutocrática e corrupta) preponderante no meio de nossa civilização, como se o poder tivesse a propaganda como pedra fundamental. Então percebemos que o Ocidente liberal colocou esperanças no soft power, abdicando do verdadeiro significado do poder, que de acordo com Bertrand de Jouvenel é a capacidade de coagir um outro ser a obedecer determinadas ordens impostas.
O que consegue fazer a arma de guerra informacional, a imprensa tradicional, é algo nunca antes visto na história das guerras: desfaz os danos ocorridos à Ucrânia pelas ações politicamente e civilizacionalmente suicidas de Volodymyr Zelensky, diminui a crise energética e econômica na Europa, recoloca o Ocidente liberal democrático nos trilhos do avanço socioambiental, entretanto, todos esses feitos ocorrem em um plano ideal alternativo à realidade em que vivemos. Ou seja, nenhum deles é concreto, são meras imagens constituídas de recortes precisos das versões adulteradas dos fatos, de textos, de manipulações de pautas, omissões de fatos e o fenômeno “LARP“, uma gíria importada que significa a tentativa de recriação da própria realidade em busca do conforto por via do autoconsolo e da mentira contada para si próprio.
Observamos para além da ferramenta de controle massivo a contraferramenta, esta que é presente na dispersão de recortes obtidos por pesquisas open source em jornais e relatórios de inteligência mundo a fora, e que apresentam uma grande falha: a capacidade de promoção de uma contrainformação (contradesinformação) massivamente é nula e restrita aos grupos já antes cientes da guerra informacional. Ainda soma-se o agravante sobre essa contrainformação ou contradesinformação poder circular somente no campo inimigo, e por campo inimigo entende-se por serviços das big techs, estando os contrainformadores ou contradesinformadores reféns das ciberpolíticas impostas pelos países do Norte.
Os contradesinformadores/contrainformadores ou se arriscam atuando em campo inimigo, adotando a prática de uma guerrilha informacional, coordenando alianças digitais e usando da “criação de conteúdo” para desarmar o soft power do establishment liberal ocidental ou buscam meios mais restritos e insólitos dentro de plataformas descentralizadas. Evidentemente, existem agentes pró-Ocidente liberal atuando na guerrilha informacional como parte de uma frente não-dissidente, estes geralmente ou fazem por motivações ideológicas ou por estarem alinhados por interesses financeiros, sendo pagos por empresas estrangeiras e sem apresentar o mínimo de transparência para os informados/desinformados.
Percebe-se que ao andar da carruagem, com a devida liberdade de alguns agentes atuantes dentro dos círculos informacionais, o Ocidente tende a usar meios de controle para abater as informações dissidentes, ou por via da institucionalidade (regulamentando) ou por via da sabotagem (havendo cogitação de derrubada da rede, chamado “apagão cibernético” por simulações presentes no Fórum Econômico Mundial). São esses meios os mais agressivos e radicais medidos ao desespero dos países do norte. Enquanto isso não ocorre, presenciamos a subversão de factoides e cortinas de fumaças sendo usadas para omitir o conflito global, ou melhor dizendo, a Terceira Guerra Mundial, que se não é ainda uma guerra total, é uma guerra já informacional e econômica. Então temos a impressão de que a guerra presente se trata de uma guerra entre o poder real e o poder virtual — entende-se por existência não real —, ou um poder prático e concreto contra um poder holográfico e teórico.
Enquanto um lado se atém ao hard power, avançando tecnologicamente, o outro lado percebe que já não possui esse poder de competir tecnologicamente e militarmente e então aposta no que tem de melhor: o soft power. A moda das invenções do ocidente já expõe o desgaste, já incapaz de tornar real seus feitos, então este Ocidente liberal apresenta simulações e versões, quando não, comete omissões, a exemplo dos desastres em Ohio como prática de espoliação de terras por sabotagem do próprio Estado americano, da origem dos supostos OVNIS abatidos e do decadente cenário socioeconômico nos países do Norte. Já não impressiona a moda oriental, que percebe as fragilidades expostas e as explora, e busca aos poucos exercer domínio sobre os espaços cedidos pelo ocidente em meio a sua decadência.