
Repercute em órgãos de mídia um artigo em que George Soros defende Lula, sobretudo pelo compromisso assumido em relação a uma rígida política preservacionista da Amazônia. Diz ele textualmente,
“O Brasil está na linha de frente do conflito entre sociedades abertas e fechadas; está também na linha de frente da luta contra a mudança climática. Deve proteger a floresta tropical, promover a justiça social e reavivar o crescimento econômico, tudo ao mesmo tempo”.
Se a proposição do governo brasileiro soa como música aos ouvidos de Soros, em função da proposta de Lula de construir uma “governança global” sobre a Amazônia, para “benefício da humanidade”, é importante ressaltar que o tema principal do artigo do mega-especulador não são os elogios a Lula, mas que o “mundo se divide hoje em sociedades abertas e fechadas”. Assim, Lula está sendo elogiado por se aproximar das “sociedades abertas”, pela visita aos EUA e pelo canal reaberto com os países da União Europeia, com a possibilidade de admissão na OCDE e na concretização do Acordo UE-Mercosul.
Nesse sentido, Soros saúda a aproximação de Lula com as “sociedades abertas” (países da OTAN) e seu afastamento em relação às “sociedades fechadas”. Dentre estas, a mais temida e desprezada por ele é a Rússia, assim como a China de Xi Jinping. Da mesma maneira, coloca a Índia e a Turquia na linha tênue entre os dois tipos de sociedade que enxerga no mundo. “Sociedade Aberta” em inglês “Open Society”, termo que dá o nome à fundação de mesmo nome e que pegou emprestado da obra do filósofo Karl Popper.
Da mesma maneira, alfineta o primeiro-ministro indiano Narendra Modi por não ser um “democrata”, ainda que a Índia possa ser considerada uma “sociedade aberta”. Sua maior censura ao atual líder indiano é o fato de manter as compras do petróleo russo, crítica semelhante que faz a Erdogan, pois se este ainda envia armas à Ucrânia, vem aumentando as compras de petróleo russo.
A Índia é membro dos BRICS. No início do conflito na Ucrânia, seu ministro das Relações Exteriores foi cobrado em uma rede de televisão britânica em não romper as relações com a Rússia e impor sanções, ao passo que respondeu que “a Europa precisa entender que os problemas dela não problemas do resto do mundo”. A Turquia, por sua vez, poderia influir de maneira mais incisiva de forma a estrangular a Rússia, fechando o acesso ao Mar Negro pelo bloqueio do Estreito de Dardanelos, mas não o fez nem aderiu às sanções.
No resto do artigo, Soros mantém o tom arrogante e professoral, como se gostasse de dar lições a seus afiliados em ambos os espectros políticos: da esquerda à direita. Ainda que os órgãos de mídia “liberais-conservadores” brasileiros que orbitam por uma emissora de rádio que vai mal das pernas devido à mudança de governo por aqui omitam algumas informações cruciais do artigo, cabe ressaltar que Soros buscou tecer elogios a Lula como “bom garoto”. Não usou espaço para criticar os ataques do atual presidente à política de juros e à autonomia do Banco Central, o que geraria uma concordância incômoda dos “liberais-conservadores” com um dos gerentes mundiais do Globalismo.
Soros deplora Trump, é verdade, mas aposta em Ron De Santis, o jovem governador da Flórida, como alguém que possa tomar a liderança do Partido Republicano nos EUA.
Em terra de apostador, os grandes nunca apostam em um só cavalo, mas em vários, não importa por qual lado do hipódromo eles corram.