
Como dá para perceber, desde a posse de Lula, autoridades estadunidenses não param de visitar Brasília atrás de ministros, com as mais diversas pautas. A porta giratória entre Washington e Brasília parece estar escancarada. O assessor para “mudanças climáticas”, o ex-senador John Kerry, em seus encontros com a ministra do Meio Ambiente Marina Silva brincou que até gostaria de ficar mais tempo na Amazônia, “para conhecer mais a região”.
Contudo, parece que o “garimpo ilegal” é uma pauta particularmente interessante a eles. Talvez sejam preocupações ambientais genuínas, talvez sejam consideração pelas condições insalubres de trabalho dos garimpeiros brasileiros, na maioria mestiços, quando não indígenas. A questão do garimpo chegou a ser mencionada por Jose Fernandez, o cubano-americano que ocupa o posto de sub-secretário para Assuntos Econômicos do Governo Biden. Fernandez esteve em Brasília em encontro com os ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores), Marina Silva e Nísia Trindade (Saúde).
Mais do que nos garimpeiros ou no garimpo ilegal, Fernandez está interessado nos minerais estratégicos dos quais a indústria não só dos EUA depende cada vez mais. Empenhados cada vez mais na produção de veículos elétricos e novas fontes de energia em substituição ao petróleo, os EUA e os países do Ocidente encontram-se cada vez mais dependentes de minerais, como o nióbio, cobalto, cobre, magnésio, dentre outros. O Brasil, por sua vez, tem fartura desses minerais e, no caso do nióbio, chega a ter mais de 90% das reservas conhecidas. Para não falar das reservas não prospectadas, pois como diz Aldo Rebelo, apenas no subsolo da Amazônia encontra-se “a tabela periódica inteira”.
Entra a questão chinesa: atualmente, a China tem imensas reservas de terras raras, para as quais dificulta o investimento estrangeiro, mantendo-as como reservas estratégicas para sua indústria, controlando os preços internacionais. Além disso, a China é uma grande importadora dos minérios brasileiros, considerando a imensidão de suas indústrias. Eis, então, que Lula preparava uma viagem diplomática ao país asiático levando uma grande comitiva de empresários, com grandes propostas de investimento aos chineses, incluindo mercado à Huawei, a gigante das telecomunicações. Mas, como todos sabem agora, a viagem foi adiada por tempo indeterminado por “razões de saúde” do presidente, que estaria com “princípio de pneumonia”.
O que se sabe é que no contexto dessa semana dos dias 20 a 24 de março, foi grande a pressão dos EUA e seus aliados europeus para que houvesse reservas de mercado para seus países dos minérios brasileiros. Além da pneumonia de Lula, que pode não ter origem viral ou bacteriana, mas quiçá mineral, o presidente se viu implicado em duelo verbal com o agora inexpressivo senador Sergio Moro, que anos atrás o condenou e depois virou ministro da Justiça de Bolsonaro. Moro estaria sendo alvo de um atentado do PCC, para se vingar da decisão de restringir as visitas íntimas dos presos, incluindo os chefes da organização.
O fato é que o Brasil se encontra no meio de uma disputa das grandes potências por recursos naturais, encarando a questão de forma passiva. Assediado pelos EUA, o atual governo de um presidente que saiu da cadeia para ocupar o posto máximo da nação não parece ter forças, em nenhum sentido, para encarar os desafios que a política mundial, no contexto de guerra na Ucrânia, parece colocar ao país.