Na última semana, fizeram visita ao Brasil a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e a ministra das relações exteriores da Alemanha, Annabelle Baerbock. A primeira chegou a ser recebida pelo presidente Lula, enquanto a ministra foi recebida pelo vice presidente Geraldo Alckmin, além de realizar uma palestra na Fundação Getúlio Vargas de São Paulo.
Na pauta estiveram a defesa do acordo Mercosul-União Europeia e o pedido de apoio para o acordo de paz na Ucrânia, nos termos definidos pela OTAN e pelo governo ucraniano.
O acordo comercial foi firmado em 2019, no primeiro ano do governo Bolsonaro, quando se intensificaram as pressões ambientais sobre o Brasil, época em que se criou uma narrativa, difundida pelas principais mídias, de que haveria um grande holocausto ambiental na Amazônia. Assim, o acordo foi assinado, mas ainda não foi ratificado, o que precisa ser realizado pelos parlamentos de cada país. Nesta semana, o Assembleia Francesa se mostrou contra o acordo.
O problema se negociar acordos com a União Europeia é que a questão nunca permanece apenas nas tarifas de importação ou salvaguardas comerciais, mas que este organismo transnacional procura impor regras e sanções aos parceiros com quer negociar. Preocupados com a penetração que o agro brasileiro pode ter na Europa, quer impor regras de origem para os produtos brasileiros, sancionando produtos que seriam originários de áreas desmatadas. Um conceito muito vago, visto que quase toda a área agricultável ou destinada a pecuária no Brasil um dia foi desmatada para dar origem a essas culturas.
Além disso, como negociar acordos com a União Europeia, se, em paralelo, os principais países que compõem o bloco apoiam explicitamente lobbies internos no país em prol de causas ambientalistas e indigenistas? Ou qual a razão de se negociar com países que adotam rígidas metas de “emissão de gases poluentes”, que agora não incluem apenas a indústria, mas também a agropecuária, elegendo-se as vacas como vilãs do aquecimento global, como faz hoje o governo da Irlanda?
Sem o acordo com a União Europeia, a produção do agro bate recordes, orientando-se a mercados fora do Ocidente. A China é hoje a grande compradora, mas há espaço para expansão para outros mercados dos chamados “países emergentes”, dos quais a Índia é o maior expoente.
Sobre o outro item da pauta fica claro o desespero, como se os exigentes europeus viessem de pires na mão, tendo em vista o fiasco da contraofensiva ucraniana amplamente apoiada por eles. Para quem perdeu tantas armas, destruídas pelas forças russas, as sras. Von der Leyen e Baerbock exigem demais.
Além disso, a maioria dos países europeus sofrem os efeitos adversos da crise energética que assola o continente, muito em função das sanções impostas à Rússia. Esses mesmos países hoje experimentam a situação inusitada de terem taxas de inflação maiores do que a brasileira. Diante de um cenário adverso, cabe perguntar até que ponto diversos desses governos durarão, diante do descontentamento da população, forçando, quem sabe, uma reviravolta política que acarretaria em apoio reduzido à Ucrânia. Nesse sentido, não há por que o governo brasileiro ter pressa em negociar o acordo comercial.
Não obstante, além de colocar-se em posição de superioridade, fazendo mil exigências, ainda querem implicar o Brasil a favor de um lado na disputa entre duas ex-repúblicas soviéticas, na qual a OTAN se jogou de cabeça. Sendo que um dos lados, a Rússia, apoiou o Brasil desde o início da guerra, garantindo a exportação de insumos agrícolas (fertilizantes) e colocando-se contra, no Conselho de Segurança da ONU, à tentativa de considerar a “destruição das florestas tropicais” como ameaça à segurança internacional.
O melhor que o Brasil pode fazer é olhar para o outro lado do planeta.