
Por Movimento de Solidariedade Ibero-americana.
Nesta edição, completamos três décadas de publicação ininterrupta de Solidariedade Ibero-americana, nas quais nos empenhamos em apontar os planos e pautas do Establishment oligárquico internacional para a imposição de uma hegemonia global. Para tanto, tem sido imprescindível o apoio dos nossos assinantes e amigos empenhados em esforços em prol da construção de uma sociedade digna, solidária e com o sentido positivo de um futuro compartilhado.
Com esta edição, Solidariedade Ibero-americana completa 30 anos de circulação ininterrupta. Um marco significativo, para uma publicação sustentada exclusivamente por assinaturas e pelo apoio de um punha-
do de pessoas engajadas com o lema que escolhemos: nossas armas são as ideias. Isto é, a construção de uma sociedade digna, solidária e com o sentido positivo de um futuro compartilhado, para o qual o Brasil e os demais países da Ibero-América possam aportar contribuições relevantes para a mudança de época histórica que vivemos.
A publicação do jornal foi uma consequência da fundação, em 1992, do Movimento de Solidariedade Ibero-americana (MSIa), para contribuir com o debate de propostas visando ao estabelecimento de uma ordem mundial justa e antípoda do que já se configurava como o desastroso advento da “Nova Ordem Mundial” e da globalização financeira.
Desde a primeira edição, em junho de 1993, alertamos para os desdobramentos da “Nova Ordem Mundial”, proclamada pelo presidente estadunidense George H.W. Bush (1989-1993), para assinalar uma nova era de hegemonia unipolar da superpotência considerada vencedora da Guerra Fria, cujas primeiras manifestações foram a invasão do Panamá, em 1989, e a Guerra do Golfo, em 1991. O objetivo, do qual o Establishment anglo-americano não fazia segredo, era obter o máximo controle sobre os recursos naturais do planeta, por meio de um retorno pleno à ideologia malthusiana, ou seja, a limitação do crescimento demográfico e econômico e do desenvolvimento científico-tecnológico e econômico dos países ainda não plenamente industrializados.
Para tanto, como destacamos em numerosas ocasiões, foi elaborada uma pauta estratégica que contemplava as seguintes diretrizes:
1. Deslocamento dos conflitos mundiais do eixo Leste-Oeste para o Norte-Sul, com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) atuando como uma espécie de “gendarmeria global”;
2. Estabelecimento de regimes de limitações de soberania sobre certos países-chave, por pretextos como a proteção do meio ambiente, combate ao narcotráfico, proteção de minorias étnicas, defesa de direitos humanos e outros;
3. Imposição de um regime de “apartheid tecnológico” sobre países emergentes, restringindo-lhes o acesso a tecnologias avançadas sob o pretexto dos seus possíveis usos militares, com ênfase na energia nuclear, tecnologias aeroespaciais e outras;
4. Imposição de políticas econômicas de cunho neoliberal a todo o setor em desenvolvimento, com ênfase na privatização das suas empresas estatais estratégicas, retirando o protagonismo do Estado no fomento de atividades econômicas, o que teve grande sucesso na Ibero-América;
5. Enfraquecimento das Forças Armadas dos países em desenvolvimento e neutralização de suas funções de construção nacional, em especial, no desenvolvimento de infraestrutura e tecnológico, o que também foi executado com êxito nos países ibero-americanos.
Nessa agenda, inclui-se a disseminação de valores culturais e morais contrários à dignidade do ser humano, autênticos contravalores representados na ideologia de gênero e outras vertentes da pauta identitária.
Escusado dizer que seu o efeito combinado tem sido o de minar os Estados nacionais soberanos e as raízes culturais cristãs que originaram as nações ibero-americanas, de que foi exemplo a insidiosa campanha dos “500 anos de genocídio”, voltada para o “cancelamento” daquelas raízes e da memória histórica de toda a região.
No editorial da edição da primeira quinzena de junho de 1994, sobre a participação ativa da Organização das Nações Unidas (ONU) na implementação de tal agenda, com a organização de uma conferência internacional sobre população e desenvolvimento, no Cairo, em setembro daquele ano, e outra sobre o desenvolvimento social, em Copenhague, em 1995. Escrevemos, então:
“Os temas a serem abordados incluem uma nova ofensiva para prosseguir com o desmantelamento das Forças Armadas, sob o disfarce da ‘desmilitarização’ do Terceiro Mundo; as trocas de dívida por projetos ambientais; a reorganização da ONU, segundo as linhas já definidas e praticadas por seu secretário-geral, Boutros Boutros-Ghali; as ‘mudanças democráticas sustentáveis’; e outros temas constantes da agenda da
‘Nova Ordem Mundial’. (…)
“Parte da agenda da conferência de Copenhague também pode ser vista no último informe emitido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que, além de assinalar francamente os países-alvo da agenda ‘unimundista’ da ONU, entre eles o Brasil, advoga a criação de novas instituições supranacionais que suplantem as instituições que configuram as colunas vertebrais dos Estados nacionais soberanos, como os seus bancos centrais.”
Em relação ao Brasil, foram inúmeras as ocasiões em que nos defrontamos diretamente com essa agenda insidiosa, aportando importantes contribuições para o esclarecimento público sobre as suas reais intenções, casos, entre outros, das pautas ambientais e indígenas, o enfraquecimento das Forças Armadas e a campanha do desarmamento civil. Atuação que, em duas oportunidades, nos valeram processos judiciais movidos por entidades incomodadas com o nosso trabalho editorial: em 1995, o Partido dos Trabalhadores (PT), devido à denúncia sobre o seu papel na criação do Foro de São Paulo; em 2001, a seção brasileira do WWF, ONG porta-bandeira do aparato ambientalista-indigenista internacional (naquele momento dirigida pelo presidente das Organizações Globo, José Roberto Marinho), pelo trabalho persistente de exposição de suas ações antidesenvolvimentistas no País. As vitórias judiciais do MSIa em ambas as tentativas de intimidação reforçaram a convicção de trilharmos o caminho justo.
Hoje, chegamos a outro ponto de inflexão histórico, uma autêntica mudança de época, desta vez, marcada pela derrocada da ordem hegemônica proclamada há três décadas e a mudança do centro de gravidade geoestratégico e geoeconômico do planeta para o eixo eurasiático. Movimento encabeçado pela consolidação da China como a principal economia real do mundo e da Rússia como a principal potência militar, sustentada por uma base produtiva que as potências ocidentais que a combatem por procuração na Ucrânia já não dispõem, tendo optado pelos fogos fátuos da “globalização” financeira, sem falar na debilitação cultural acarretada pela proliferação da ideologia “identitária” e da anticientífica agenda da “descarbonização” da economia.


Se a “Nova Ordem Mundial” teve início com a invasão do Panamá pelos EUA em 1989, a guerra na Ucrânia é o anúncio do seu fim.
Da mesma forma como iniciamos o nosso trabalho há 30 anos, continuamos empenhados em contribuir para que a Ibero-América e, em especial, o Brasil, possam criar um consenso moral para fomentar novas ideias e um sentido de futuro, capazes de forjar a grandeza de destino das nossas nações.
E reforçamos o chamado que adotamos emprestado do grande dramaturgo e poeta português Gil Vicente: “À guerra, cavaleiros esforçados! Pois os anjos sagrados em socorro estão em terra. À guerra!“