
Do Movimento de Solidariedade Ibero-americana.
Os resultados do Censo de 2022 causaram um choque, com a revelação de que a população do Brasil ficou em 203 milhões de habitantes, um crescimento de 0,5% desde o Censo de 2010. São cerca de 10
milhões abaixo do esperado. É a menor taxa de crescimento em 150 anos, o que evidencia a realidade de uma queda de natalidade e um envelhecimento da população bem mais rápidos do que se antecipava. E coloca o País na linha de um risco existencial, o de impedir que possa superar o patamar da chamada renda média e atingir os níveis de renda per capita dos países avançados. Não há precedente de um
país que tenha envelhecido e enriquecido depois; ao contrário, todas as economias industrializadas avançadas enriqueceram antes de suas populações começarem a envelhecer e deter o seu crescimento.
Há algum tempo, se adverte que o Brasil estava desperdiçando o seu bônus demográfico, quando a população economicamente ativa supera a inativa (crianças e idosos). Mas os resultados do Censo indicam que a janela está quase fechada.
As causas do fenômeno são diversas e não podem ser avaliadas individualmente.
A queda das taxas de fertilidade feminina tem ocorrido a um ritmo inusitado: de 6,3 filhos por mulher em 1960, desabou para a taxa atual de 1,7, insuficiente sequer para manter o nível de equilíbrio da população – 2,2 filhos por mulher. O fenômeno é complexo e envolve uma combinação de fatores decorrentes da urbanização, participação crescente das mulheres na força de trabalho, disseminação dos métodos contraceptivos e programas de planejamento familiar. Estes últimos, em não poucos casos, integraram agendas de intervenções externas, em especial, dos EUA, que, a partir da década de 1970, integraram as políticas antinatalidade em sua estratégia de interferência política em países-chave detentores de vastos recursos naturais, como estabelecido no famigerado relatório NSSM-200 de 1974.
Todavia, acima de tudo, manifesta-se um fator de pessimismo cultural resultante de décadas de cultivo de um individualismo materialista incentivado pelos fogos fátuos da “globalização” financeira e pela promoção das ideologias “identitárias”, que, somados às sucessivas crises econômicas vividas pelo País, incluindo a drástica desindustrialização dos últimos 40 anos, tem acarretado uma forte perda de
perspectivas de futuro positivo pela juventude e boa parte dos adultos jovens, com efeitos diretos sobre as suas decisões de terem filhos.
Pesquisas anteriores revelaram que dois de cada três jovens brasileiros de 15 a 29 anos deixariam o País se pudessem.
Reverter esse processo é tarefa das mais difíceis e não será possível sem que os jovens se convençam de que terão a oportunidade de viver em um Brasil comprometido com uma ideia de progresso compartilhado. E, principalmente, que lhes cabe parte da responsabilidade de construí-la.