
Do Movimento de Solidariedade Íbero-americana.
No início de agosto, o Banco Mundial surpreendeu o mundo com a lista das dez maiores economias em 2022, medidas em termos do Produto Interno Bruto por Paridade de Poder de Compra em dólares correntes (PIB PPP). A sequência é: 1) China; 2) EUA; 3) Índia; 4) Japão; 5) Rússia; 6) Alemanha; 7) Indonésia; 8) Brasil; 9) França; e 10) Reino Unido.
A grande surpresa foi a posição da Rússia, à frente da Alemanha, algo que escapou até mesmo
às projeções oficiais de Moscou, em um ano no qual o país experimentou uma drástica ampliação das sanções econômicas impostas pelos EUA e seus aliados europeus desde 2014, em função do conflito na Ucrânia. O próprio Banco Mundial havia previsto uma contração de 3,3% no PIB nominal do país, devido aos impactos econômicos da guerra.
Nada mal, para um país que costumava ser rotulado por críticos e inimigos como “um posto de
gasolina com armas nucleares” ou “uma economia não maior que o Texas”.
O desempenho econômico acentuou ainda mais a surpresa anterior dos analistas e estrategistas ocidentais diante da capacidade russa de sustentar uma campanha militar prolongada, contra uma Ucrânia financiada e equipada pelas potências da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), enquanto elas próprias esvaziam os seus arsenais e se veem diante da impossibilidade concreta de substituí-los no curto prazo.
Em especial, tem chamado a atenção a vasta disponibilidade russa de munições de artilharia e mísseis avançados, cujos limites eram apregoados por tais especialistas desde as primeiras semanas da guerra. Agora, nas capitais ocidentais, já se admite que a produção russa de munições supera várias vezes a de toda a capacidade combinada da OTAN. O que evidencia a incapacidade da Aliança Atlântica de travar um conflito de alta intensidade contra o seu adversário existencial, e este é um dos motivos pelos quais a guerra por procuração com a Rússia tem sido prolongada “até o último soldado ucraniano”, como se diz abertamente em Moscou e nas próprias capitais ocidentais.
A bem da verdade, tal percepção já se manifestava desde os primeiros meses do confronto entre analistas mais objetivos do que ideológicos e políticos, como atesta este comentário de Alex Vershinin, oficial retirado do Exército britânico e analista do Royal United Services Institute (RUSI), em um artigo de junho de 2022, oportunamente intitulado “O retorno da guerra industrial”: “O vencedor em uma guerra prolongada entre duas potências quase parelhas ainda se baseia em que lado tem a base industrial mais forte. Um país deve ter, ou a capacidade manufatureira para produzir quantidades maciças de munição, ou ter outras indústrias que possam ser rapidamente convertidas para a produção de munição. Infelizmente, o Ocidente parece não ter mais nem uma nem outra.”
De fato, desde antes do fim da Guerra Fria, o Ocidente “globalizado” encabeçado pelos EUA não tem feito outra coisa se não empenhar-se em aprofundar a financeirização das suas economias. Por sua vez, a Rússia de Vladimir Putin, deixando para trás a devastação socioeconômica do período de Boris Yeltsin, tem investido na reconstrução da economia real, no fomento do bem-estar social e das capacidades científico-tecnológicas e, em paralelo, na modernização e fortalecimento das Forças Armadas. Em tal contexto, estas últimas são consideradas objetivamente como um instrumento essencial de defesa do Estado nacional russo, em vez de fator preferencial de geração de receitas e lucros, caso do “complexo de
segurança nacional” estadunidense e seus apêndices europeus, parceiros do sistema hegemônico baseado no eixo Washington-Nova York-Londres-Bruxelas.
As receitas das exportações de petróleo e gás natural, aplicadas em dois fundos soberanos, têm sido as principais fontes de financiamento da reconstrução econômica russa, tendo os governos de Putin e Dmitri Medvedev (que o substituiu na Presidência, no período 2008-2012) se empenhado em fortalecer o papel das estatais Gazprom e Rosneft no setor. A sua criteriosa aplicação em atividades multiplicadoras de valores, inclusive, em projetos de infraestrutura em todo o país, é um dos segredos de polichinelo da recuperação russa.
Juntamente com o imposto sobre valor agregado, outra importante fonte de receitas, o governo
federal russo tem podido cobrir as despesas correntes, além de ter reduzido a sua dívida externa a um percentual ínfimo em relação às suas reservas cambiais, inferior a 9%, em contraste com os espantosos 1.243% que Putin encontrou ao assumir a Presidência. Já em 2005, foram pagos os empréstimos-ponte feitos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para que o país superasse a crise financeira de 1997. Da mesma forma, promoveu-se um autêntico saneamento bancário, forçando o fechamento de literalmente milhares de bancos incapazes de se manterem em um ambiente competitivo voltado para o fomento da economia interna, restando apenas cerca de 500 deles (contra mais de 4.500 nos tempos áureos do “balcão de negócios” da era Yeltsin).
A recuperação econômica, juntamente com repasses governamentais, possibilitaram uma drástica queda dos índices de pobreza, que atingiram a marca de 50% da população em meados da década de 1990, para 12% em 2019.
A aplicação das sanções ocidentais, iniciada após o golpe de Estado “EuroMaidan” na Ucrânia e a reanexação da Crimeia à Federação Russa, em 2014, motivou um ativo programa de substituição de importações promovido pelo governo federal, envolvendo uma lista de 750 produtos de vários setores. Em paralelo com ele, a introdução de novas variantes de trigo geneticamente modificadas permitiram uma grande ampliação da área cultivável do país, levando-o rapidamente ao topo da lista dos exportadores mundiais, à frente dos EUA e do Canadá combinados.
Igualmente, novas técnicas de recuperação secundária de hidrocarbonetos, como as injeções de plasma, permitiram notáveis aumentos na produção e nas exportações russas.
O aumento das receitas das exportações tem permitido ao governo manter sob controle o balanço de pagamentos e financiar programas de inovações tecnológicas e pesquisas científicas nas fronteiras do conhecimento, mantendo a velha tradição científica russa, que remonta ao período pré-soviético. Um dos resultados visíveis desse esforço é a nova geração de superarmas anunciada pelo presidente Putin em seu histórico discurso de 1° de março de 2018 no Parlamento, com destaque para os mísseis de longo alcance hipersônicos contra os quais as potências da OTAN não têm qualquer defesa, cujas qualidades estão sendo vistas com o seu emprego na Ucrânia.
Outro aspecto relevante da reconstrução russa é a estratégia de desenvolvimento aplicada às remotas regiões do Extremo Oriente e do Ártico, baseadas na exploração dos seus vastos recursos naturais, investimentos em infraestrutura de transportes modernos e a atração de investimentos estrangeiros para atividades produtivas (um vivo contraste com as políticas do Brasil na Amazônia Legal). Juntas, as duas regiões já respondem por cerca de 15% do PIB russo e a tendência é de aumento da proporção, na medida em que aumentem os investimentos nelas, cuja promoção tem sido um tema recorrente nas últimas edições do Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, evento que tem despertado o interesse de um número crescente de países.
Em essência, a despeito dos enormes problemas que o país tem enfrentado, a lição oferecida pela Rússia é a de que os investimentos na economia física ainda são os mais rentáveis, tanto no sentido do desenvolvimento econômico real, como do imprescindível fortalecimento da capacidade nacional de enfrentar desafios externos, inclusive, militares – o que lhe tem permitido enfrentar com êxito uma coalizão militar maior que a mobilizada contra o Eixo na II Guerra Mundial.
O Lula foi falar besteira e tratar o Putin como palhaço e quem se lascou foram os brasileiros.
O governo Lula é um desastre justamente por causa dos identitários.
Aqui no Brasil “é só derrota”. A Fundação Lemann usou uma ONG para infiltrar-se no MEC e já controla diversos setores.