
Por Felipe Quintas.
Para discutir a eleição argentina, é preciso levar em conta que o país conseguiu a proeza de liquidar progressivamente o seu sistema monetário, o que ocorre desde o governo Menem com suas políticas insanas de privatização total e “conversibilidade”.
Não é que a moeda estatal tenha apenas se tornado fraca, como nas crises de hiperinflação na América Latina dos anos 1980; ela está deixando de ser usada e, portanto, de existir. A perda da moeda nacional acompanha a perda da própria economia nacional, quase completamente atrelada os fluxos de dólar do FMI.
A Argentina, um dos maiores e mais importantes países do mundo, passa pelo mesmo processo do Zimbábue. Na prática, o Estado argentino já está se desfazendo e se tornando um menos-que-Estado, pois o Estado que não detém e controla a moeda não é um Estado propriamente dito. A Argentina hoje é mais um protetorado do FMI do que um Estado-nação.
As opções eleitorais que se colocam neste cenário são: dar baixa no sistema e oficializar a dolarização e a renúncia do Estado nacional (Milei), ou fingir que nada de mais aconteceu e prosseguir oficiosamente a marcha para o anarco-capitalismo de fato (Massa e Bullrich).
Salta à vista a loucura estética de Milei, que se diferencia dos demais candidatos não pelos objetivos das propostas, mas pelo completo desatino com que apresenta sua imagem. Prato cheio para o jornalismo, que nada mais é do que a arte de discutir e polemizar em torno de superficialidades.
Cabe, porém, a pergunta: independentemente de ser ou não eleito, o apelo da loucura de Milei não seria a consequência da loucura “estrutural” de um grande país que conseguiu abrir mão da sua economia e do seu Estado?