
À medida em que Israel intensifica os ataques na Faixa de Gaza, destruindo infraestrutura civil básica (moradias, hospitais etc), causando milhares de mortes, surgem rumores que esteja a provocar uma migração em massa da população à fronteira sul, isto é, ao Egito. Israel teria feito até mesmo uma promessa de cancelamento da dívida do Egito em troca da permissão da entrada dos palestinos em seu território, seja na Península do Sinai ou mais ao sul.
Contudo, tais propostas não são palatáveis ao Egito, sobretudo sob o governo de Abdel Fatah El-Sisi. Neste momento, o país árabe enviou tanques à fronteira com Gaza, perto da entrada de Rafah. Especula-se mesmo, caso a situação deteriore ainda mais, que forças egípcias poderiam ocupar militarmente partes de Gaza para garantir a entrada de abastecimento de víveres por ajuda humanitária à população local.

Em outubro de 2010, uma gravação de áudio do ex-presidente Hosni Mubarak (derrubado no ano seguinte durante a “Primavera Árabe”) com seu gabinete foi vazada, provavelmente pelo próprio Estado egípcio, na qual Mubarak detalhava uma reunião que teve com Netanyahu, na qual este sugeriu vagamente a ideia de deslocamento dos palestinos de Gaza para “outro lugar”. Quando Mubarak perguntou a ele onde exatamente, Netanyahu acenou com a mão sobre o Sinai sem fazer nenhum comentário, Mubarak então disse que havia lhe dito: “Isso não vai acontecer”, e interrompeu a reunião.
Em 2008, o Hamas explodiu várias brechas na fronteira entre o Egito e Gaza, e mais de 1,5 milhão de palestinos foram para a fronteira egípcia, sendo que pelo menos 200 a 300 mil pretendiam ficar no Sinai. Eles foram então devidamente perseguidos e expulsos de volta para Gaza, com a coordenação do Hamas, durante três meses.
Além do fato óbvio de que a causa palestina estava em perigo na época, a brecha de 2008 permitiu um aumento maciço do contrabando, do terrorismo e assim por diante, mas o que mais irritou Mubarak foi o fato de que a economia egípcia sofreu um golpe devastador – dezenas de milhões de dólares americanos falsos foram adicionados à circulação, durante esse período, provenientes de Gaza.
Portanto, provavelmente o Egito não permitirá a expulsão dos palestinos de Gaza devido a: 1) A causa palestina exige que os palestinos permaneçam em suas terras, e isso é acordado por todos os lados; 2) As possíveis repercussões políticas e econômicas de uma limpeza étnica em massa de Gaza.
O chefe da Autoridade Palestina, o atual presidente egípcio e vários líderes europeus afirmaram que Mohamed Morsi, o ex-presidente que foi derrubado em uma revolução em 2013, declarou que estava disposto a abrigar os palestinos de Gaza e estabelecer uma Grande Gaza que se estendesse da cidade de Al-Arish, no norte de Sinai, até Gaza propriamente dita.
Seu sucessor, o atual presidente Sisi, proibiu completamente a posse de terras de não egípcios no Sinai e forçou o Hamas a se livrar da Irmandade Muçulmana – da qual Morsi fazia parte. A cooperação entre o Egito e o Hamas foi estabelecida novamente em nível pleno depois de 2017. Mais uma vez, todos os lados concordaram que um deslocamento étnico de palestinos para o Sinai não seria bom para ninguém, e é por isso que a Autoridade Palestina e o Hamas rejeitaram a proposta de Morsi.