Do Movimento de Solidariedade Íbero-americana.
Hamas e a Jihad Islâmica cometeram hediondos crimes de guerra em 7 de outubro, atacando civis indefesos. E a resposta de Israel tem incluído horríveis massacres para os quais não cabe outra qualificação, se não a de crimes de guerra.
Mas isso não admira, conhecendo-se a mentalidade fundamentalista do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e seu governo de extremistas, que dão as mãos aos fundamentalistas palestinos. Ele mesmo já disse: “Com forças compartilhadas, com fé profunda na justiça da nossa causa e na eternidade de Israel, nós realizaremos a profecia de Isaías 60:18: ‘Nunca mais se ouvirá de violência na tua terra, desolação nem destruição nos teus termos; mas aos teus muros chamarás Salvação, e às tuas portas Louvor’.”
E um de seus ministros, o agora “suspenso” ministro do Patrimônio Amichai Eliyahu, disse em uma entrevista de rádio que um bombardeio atômico a Gaza poderia ser uma solução final para o problema palestino, já que, segundo ele, “não há civis não envolvidos em Gaza”.
Esta foi uma das raras vezes em que um político israelense admitiu publicamente que o país tem armas atômicas (o que, de resto, é um segredo de polichinelo). E o fundamentalismo é uma ameaça séria, ainda mais quando os que se orientam por ele dispõem de armas verdadeiramente apocalípticas.
A origem do arsenal atômico de Israel remonta à década de 1950 e é das mais interessantes para se entenderem as relações internacionais do pós-guerra.
Hoje, Israel tem um número de ogivas atômicas estimado entre 90 e mais de 200, as quais podem ser lançadas com mísseis de longo alcance, aviões e mísseis de cruzeiro lançados de submarinos. A decisão de tornar o país uma potência nuclear foi tomada no segundo governo do primeiro-ministro David Ben-Gurion (1955-1963) e teve um importante – e curioso – leque de apoios internacionais.
O reator nuclear de Dimona, que processa plutônio para as bombas atômicas, foi construído pela França. Grande parte do dinheiro e os planos das primeiras bombas foram fornecidos pela então Alemanha Ocidental (que os havia desenvolvido durante a II Guerra Mundial, ao contrário do que reza a “história oficial”), em um acordo firmado entre Ben-Gurion e o chanceler Konrad Adenauer. O urânio veio da Argentina, da África do Sul e dos EUA, e a água pesada, da Noruega, onde fora produzida durante a guerra.
Igualmente, houve uma ativa cooperação nuclear entre Israel e a África do Sul, ambos apoiados clandestinamente pela Alemanha Ocidental. O regime sul-africano chegou a montar seis bombas atômicas, mas as desmontou antes da chegada de Nelson Mandela à Presidência da República. Em setembro de 1979, a África do Sul e Israel realizaram um teste nuclear conjunto em uma área remota do oceano Índico.
Além de urânio, os EUA, após o assassinato do presidente John F. Kennedy, em novembro de 1963, proporcionaram a vista grossa necessária para que Israel pudesse construir o seu arsenal apocalíptico sem publicidade.
Em duas ocasiões, Israel chegou perto de usar suas armas atômicas.
Em 1967, na Guerra dos Seis Dias, foi preparada a Operação Sansão, a detonação de uma bomba atômica em uma área desabitada do deserto do Sinai, no Egito, como advertência aos países árabes. A rápida vitória israelense tornou a missão desnecessária.
Na Guerra do Yom Kippur, em 1973, a primeira-ministra Golda Meir ordenou que mísseis nucleares e aviões com bombas atômicas fossem colocados em prontidão para um ataque, evitado apenas por intervenção dos EUA, que forneceram grandes quantidades de munições e equipamentos militares juntamente com imagens de satélites das posições das tropas egípcias e sírias, possibilitando o sucesso do contra-ataque israelense.