Por Lorenzo Carrasco.
Os grandes e ruidosos protestos dos produtores agropecuários em uma dezena de países europeus culminaram hoje com um assédio a uma reunião do Parlamento Europeu em Bruxelas, sede da União Europeia.
Na França, onde os manifestantes chegaram a bloquear os acessos a Paris e outras cidades, os produtores encerraram os protestos, depois que o governo do presidente Emmanuel Macron se comprometeu a atender algumas das suas reivindicações. No entanto, líderes do movimento advertiram que os protestos recomeçarão se não houver medidas concretas antes de junho.
As principais queixas dos produtores se referem a itens da bizarra “agenda verde” da UE, o chamado Pacto Verde: a retirada dos subsídios aos preços do diesel, redução de 50% do uso de agroquímicos, 20% do uso de fertilizantes, a exigência de que 25% da produção venha de métodos “orgânicos”e outros, que consideram uma “overdose” de regulamentações ambientais vindas de Bruxelas.
Segundo o jornal “Le Figaro”, as normas europeias têm sido ainda mais endurecidas pelos próprios legisladores franceses, o que tem afetado drasticamente a rentabilidade das 390 mil fazendas produtivas do país, que era o segundo maior produtor de alimentos do mundo até o início deste século, atrás apenas dos EUA (a posição foi herdada pela Holanda), mas caiu para o quinto lugar.
Em seu programa de governo, o presidente Emmanuel Macron propunha a criação de um sistema de pagamento por “serviços ambientais” para apoiar os produtores, além de rever normas ambientais consideradas excessivas, mas nada disto ocorreu desde que chegou à presidência, em 2017.
Os protestos acenderam um proverbial sinal de alerta vermelho entre as redes ambientalistas, que temem um impacto negativo na agenda da “descarbonização” da economia. Em entrevista à Rádio França Internacional (RFI), a diretora do Instituto de Pesquisas para o Desenvolvimento, Catherine Aubertin, afirma claramente que a redução da produção de alimentos é um dos objetivos da insana pauta: “No caso, da França, a Federação Nacional dos Sindicatos Agrícolas continua com a ideia de produzir cada vez mais, graças a uma agricultura intensiva que abala os ecossistemas, a água, o ar e a saúde dos próprios agricultores. É um modelo que nem deveríamos mais estar apoiando, já que os relatórios de organismos como o IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas], o IPBES [Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos] e a FAO [Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura] nos advertem que precisamos é produzir menos.”
O presidente da Comissão de Meio Ambiente do Parlamento Europeu, Pascal Canfin, adverte o futuro do Pacto Verde é um dos grandes desafios da próxima eleição para o Parlamento Europeu, em junho, e que, sem apoio político, “ele vai parar”.
Além da França, as últimas semanas têm assistido manifestações de produtores pelos mesmos motivos, na Alemanha, Holanda, Polônia, Romênia, Espanha e outros países.