
Por Raphael Machado.
Nos últimos dias, desde a visita de Macron a nosso país e a recepção excessivamente calorosa oferecida a ele, debate-se as vantagens e desvantagens das relações franco-brasileiras.
Algumas pessoas, não raro motivadas pela pura e simples russofobia (ou sinofobia) celebram a aproximação entre Brasil e França, por motivos fundamentalmente ideológicos e geopolíticos, enquanto simulam “imparcialidade” pela conjuração aleatória de supostas “imensas” vantagens dessas relações.
Parece-me que as tais “vantagens” já foram suficientemente desconstruídas. O projeto do PROSUB é antigo e, a priori, não há nada que a França possa nos oferecer nesse momento de extremamente vantajoso; enquanto já se comentou bastante sobre uma série de problemas e desvantagens.
Eu gostaria, porém, de pensar o assunto em termos geopolíticos mais amplos e de longo prazo.
Essa visita de Macron não existe de forma isolada, alienada de outros eventos internacionais. Nada do que está acontecendo é casual. A França está sendo gradualmente expulsa da África. Agora começará a sua expulsão de Senegal. Pode-se dizer, aliás, que ela está perfeitamente alinhada inclusive com a provável venda da Avibrás à Austrália.
Ao longo dos últimos 2 anos, o Ocidente tentou nos pressionar e seduzir, de forma direta e aberta, para que nos posicionássemos ao seu lado contra a Rússia na questão ucraniana. Isso se deu seu muito sucesso. O Brasil balançou e ainda balança, mas não aderiu ao alinhamento automático, tampouco ficou abertamente contra a Rússia.
O Ocidente não vai desistir disso, mas parece que agora se avança sobre nós tendo um outro horizonte como guia: nos enredar no maior número possível de relações comerciais atlantistas em setores estratégicos, a ponto de gerar em nós uma dependência incontornável que, inevitavelmente, acabará pautando a nossa política externa por puro pragmatismo.
Investidas supostamente “vantajosas” e “bilaterais”, vindas de todos os lados do campo ocidental, para cima dos nossos setores energético, militar, infraestrutural, biotecnológico, etc., apontam para um cerco “brando”, em que no lugar das ameaças falarão vínculos comerciais dos quais só poderemos nos livrar com enormes prejuízos.
Para mim, isso é óbvio.
E também é óbvio que isso é, em boa medida, fruto da miopia em relação ao BRICS, ao papel futuro dos BRICS e ao papel do Brasil nos BRICS.
Os BRICS se tornaram, para vários dos seus membros, uma plataforma de construção de uma nova ordem multipolar, bem como uma ferramenta de desafio direto ao hegemonismo unipolar que se apoia sobre as instituições internacionais contemporâneas. Nessa condição, as relações intra-BRICS são vistas como “prioritárias” para vários dos seus membros, especialmente em comparação com as relações com a OTAN e seus parceiros mais próximos.
Para o Brasil, porém, os BRICS são apenas uma associação relativamente solta de países emergentes interessados em parcerias de investimentos e coordenação comercial. Nada além. Nesse sentido, as relações com os BRICS não assumem prioridade diante de quaisquer outras, e os BRICS são apenas parte de uma ampla rede de relações bilaterais e multilaterais do Brasil.
O Brasil não vê os inimigos de seus amigos como seus inimigos. Justo.
O problema é: e se as tensões e contradições entre as diferentes visões planetárias de futuro se acirrarem? Como ficamos?
Dirão que deveremos ficar “neutros”, mas os países com a economia excessivamente atrelada à OTAN realmente têm como sustentar neutralidade? Como ficarão os países que adquiriram dependência em setores-chave da indústria bélica e energética?
Esse é o problema de pensar a política externa não como braço da geopolítica, mas como braço da economia, considerando as relações comerciais não em um sentido planetário, mas como meras trocas contratuais equivalentes a se comprar pão na padaria. Afinal, qual seria o problema dessas relações com a OTAN?
Essa é uma das estratégias de cooptação mais eficazes do Ocidente atlantista. O entrelaçamento comercial gera um grau de dependência que abre o país para investidas no âmbito cultural, político e militar. É aí que entram as ONGs e os lobbies. Depois é só movimentar as peças no tabuleiro.
Agora fazem isso com o Brasil.
O que acontecerá quando “a chapa esquentar”? Tomaremos a decisão “pragmática” de nos alinharmos contra a multipolaridade, com medo de prejuízos comerciais, financeiros e tecnológicos?
Sr Rubão eu vi um canal chamado normose fiquei abismado eles combatem a Brasil Paralelo que é extrema direita, que eu não concordo com muitas coisas, eles são neo liberais , woke , o Sr conhece nunca vi tanta idiotice.
Infelizmente, vejo tal cenário não em um futuro próximo, mas contemporâneo à nós – no mínimo, desde os nossos pais, após 1987 ou antes (importação da cultura cinematográfica) -, a questão que fica é como reorganizar o país em torno de uma política externa independente sem “chamar a atenção” de nossos inimigos com tantos agentes desestabilizadores infiltrados em setores chave da nossa sociedade? Ainda há militares nacionalistas com poder de ação, ainda há agente com capital suficiente para fomentar tal mudança? Lamentavelmente, não consigo vislumbrar somente o fator vontade como suficiente para provocar tal mudança. Precisa ser algo finamente orquestrado, coletivo – o personalíssimo é mais fácil de matar -, para não ser extinto antes dos objetivos visados. E não tenho dúvida de que tal desafio cobrará um alto preço em relação à vida dos envolvidos.