Do Movimento de Solidariedade Íbero-americana.
A iminente desnacionalização da Avibras, diante da passividade cúmplice do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, significa o proverbial prego final no caixão da indústria de defesa brasileira. A rigor, a culminância de uma prolongada campanha movida contra o País desde a década de 1980, com ênfase especial, após a decretação da “Nova Ordem Mundial” pelo presidente estadunidense George H.W. Bush (1989-1993).
Na pauta da “Nova Ordem”, que supostamente sucederia a recém finda Guerra Fria, os países da Ibero-América, principalmente, o Brasil, Argentina e México, ocupavam lugares de destaque para a implementação da agenda ditada de Washington por intermédio de organizações como o Diálogo Interamericano, criadas para “preparar” muitos dos futuros dirigentes dos países da região. Entre os brasileiros, merecem destaque Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Celso Lafer, Marina Silva, Jorge Viana e outras figurinhas carimbadas em vários governos.
A agenda promovida pelo Diálogo contemplava, essencialmente:
1. a adoção do “Consenso de Washington”, conjunto de medidas econômicas e financeiras para facilitar a desnacionalização das economias ibero-americanas e a sua abertura incondicional aos fluxos financeiros internacionais;
2. a neutralização institucional e material das Forças Armadas como entidades integrantes dos processos decisórios nacionais e vetores de indução de tecnologias avançadas, sob o pretexto da sua submissão ao poder civil;
3. a expansão do chamado “terceiro setor” (organizações não-governamentais: ONGs) e a sua inclusão nos processos decisórios nacionais;
4. a flexibilização da legislação sobre o uso de drogas;
5. a consolidação da agenda ambiental e indígena, vinculada à questão das dívidas e financiamentos externos.
Tudo isso foi revelado e discutido no livro “O Complô para aniquilar as Forças Armadas e as nações da Ibero-América“, publicado em 1995 pela revista estadunidense Executive Intelligence Review (EIR) e cuja edição brasileira foi lançada dois anos depois, tendo circulado amplamente pelo país.
No Brasil, em especial, o setor nuclear e os programas militares ligados às tecnologias avançadas foram alvos específicos de tal agenda, seguida quase à risca pelos governos da “Nova República”, com reflexos diretos na indústria de defesa, hoje um pálido reflexo do que chegou a ser na década de 1980. Assim, assistiu-se passivamente à falência da Engesa, à venda da Mectron, SIATT, Órbita, Aeroeletrônica e outras empresas de ponta a concorrentes estrangeiros. A Embraer, já vendida à Boeing, só não teve destino idêntico devido à desistência da gigante estadunidense, derrubada pelos efeitos combinados da retração causada pela pandemia de Covid-19 e dos problemas do seu desastroso projeto do Boeing 737 MAX 8.
Agora, o mesmo se repete com a Avibras, prestes a ser negociada com um grupo australiano.
O pretexto de serem empresas privadas não se justifica, pois em qualquer país cujos dirigentes têm um mínimo de visão de longo alcance tais empresas são consideradas estratégicas. Pergunte-se, por exemplo, por que os presidentes estadunidenses Ronald Reagan e Donald Trump, separados por três décadas, impediram a venda da Fairchild Semiconductor, fabricante de semicondutores às voltas com gestões particularmente problemáticas, respectivamente, a empresas japonesas e chinesas. E este está longe de ser caso único.
O grande Alexander Hamilton, secretário do Tesouro de George Washington e um dos mais notáveis Pais Fundadores dos EUA, pontificava que um país não poderia ser soberano se dependesse do estrangeiro para a sua alimentação, indústria básica e defesa. Dois séculos e meio depois, é mais que hora de os brasileiros tomarem a devida nota.